Projeto em São Paulo renova esporte paraolímpico no país

Crianças e adolescentes têm acesso a treinamentos, e resultados animam comitê brasileiro

Jairo Marques
São Paulo

Para dar força ao projeto de renovação de elenco paraolímpico brasileiro e, ao mesmo tempo, contribuir para a disseminação do esporte para pessoas com deficiência no Brasil, 276 crianças e adolescentes de São Paulo estão tendo acesso a treinamentos intensivos em uma escolinha especializada, dentro do Centro de Treinamento Paralímpico, na zona sul da cidade.

Em menos de um ano de projeto, o número de talentos encontrados para as mais diversas modalidades já é o dobro do projetado no começo do ano pelo CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro).

A expectativa era que oito meninos e meninas estivessem aptos a ser encaminhados para  as confederações esportivas ou que compusessem times estaduais de disputa na paraolimpíada escolar —uma das principais vitrines da Paraolimpíada—, mas o número já chega a 16.

Adolescentes que participam do projeto montado no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo
Adolescentes que participam do projeto montado no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo - Gabriel Cabral/Folhapress

“Os treinos acontecem duas vezes por semana, mas assim que detectamos um novo potencial, ele é pinçado para uma sessão de aperfeiçoamento, às sextas-feiras. Estamos surpresos com os resultados e felizes por encontrar tantos potenciais”, afirma Ramon Pereira, coordenador de Desporto Escolar do CPB.

Cada sessão de treinamento dura 90 minutos. Os alunos ganham lanche, todo o uniforme esportivo e há saída de transporte até o centro de treinamento em pontos estratégicos de nove cidades da Grande São Paulo. O comitê investiu R$ 1,4 milhão na iniciativa neste ano.

“Uma das estratégias que tivemos para crescer foi trazer os pais dos garotos e garotas até o centro para mostrar a eles a grande oportunidade de desenvolvimento que os filhos teriam não só na parte esportiva como também no ganho de autoestima, de construção cidadania”, diz o coordenador.

Ainda segundo Ramon, alunos com deficiência, de forma geral, “tem poucas oportunidades de desenvolver uma atividade esportiva na escola. São dispensados da aula de educação física. Falta formação do professor.”

Um dos alunos que se destacaram na escolinha e já terão uma oportunidade na paraolimpíada escolar, a partir de 20 de novembro, em São Paulo, é Gabriel Antônio, 13, que tem deficiência visual e tem conquistados bons resultados no atletismo.

O Brasil já fez grandes campeões paraolímpicos na modalidade, como Terezinha Guilhermina e Felipe Gomes.

Gabriel é de Osasco, na Grande São Paulo, e só teve contato com o esporte paraolímpico neste ano, na escolinha do CPB.

Participar de uma competição internacional passou a ser, nas palavras dele, “um projeto de vida”. 

Seu ídolo paraolímpico é o medalhista de ouro nos Jogos do Rio, em 2016, Petrúcio Ferreira, do atletismo, que é também o atual recordista mundial nos 100m em sua classe, a T47, disputada por amputados de membro superiores.

“Temos de administrar as expectativas dos meninos porque projetamos que 10% deles irão conseguir se tornar atletas de alto rendimento. Mas o que importa mais é eles serem iniciados na prática esportiva, que vai levar melhorias gerais na vida de cada um deles”, declara Ramon.

Neste sábado (22), em que se celebra o Dia Nacional do Atleta Paralímpico, 48 cidades brasileiras irão realizar um festival com o intuito de dar mais visibilidade aos esportes praticados por pessoas com deficiência.

Estarão envolvidas 7.200 crianças e adolescentes, de 10 a 17 anos, com e sem deficiência, que irão experimentar várias  modalidades.

Entre elas estão atletismo, basquete em cadeira de rodas, bocha, futebol de 5 (para cegos), futebol de 7 (para paralisados cerebral), judô, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas e vôlei sentado. Cerca de 2.500 voluntários irão coordenar as atividades.

“Estaremos nos 26 estados e no Distrito Federal, num passo de imensurável importância para a massificação do movimento paralímpico. Será uma maneira de celebrarmos nossos maiores ídolos e fomentarmos o esporte em sua iniciação”, disse Mizael Conrado, presidente do CPB.

Para os Jogos Paraolímpicos de Tóquio, em 2020, o elenco brasileiro deve ser bastante renovado em relação a 2016, mas o CPB ainda projeta que o país deverá permanecer entre as dez melhores potências mundiais do evento.

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