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Rivais históricos, Federer e Djokovic se tornam bons amigos

Dupla jogou junta na Laver Cup e deixou de lado o histórico de rivalidade

Federer e Djokovic comemoram um ponto juntos em jogo pela Laver Cup
Federer e Djokovic comemoram um ponto juntos em jogo pela Laver Cup - Jim Young/Associated Press
Douglas Robson
Nova York | The New York Times

Não é segredo que Roger Federer e Novak Djokovic conviviam menos confortavelmente do que Federer e seu amistoso rival espanhol Rafael Nadal, nessa era de domínio do esporte pelos três grandes do tênis.

Desde que Djokovic surgiu como rival para Federer, 11 anos atrás, houve momentos de hostilidade entre os dois campos, acusações de violações de regras e indiretas quanto à sorte de certos tenistas em alguns lances.

E então, no final de semana passado, chegou a Copa Laver, a segunda edição de um torneio criado por Federer que opõe os tenistas europeus aos do resto do mundo. E a ocasião mostrou que rivais ferozes, mas amistosos, podem se tornar ainda mais amistosos, nessa era de bons sentimentos no tênis profissional.

Depois de 10 minutos em quadra jogando juntos uma partida de duplas, na noite de sexta-feira, Djokovic, que estava sacando no terceiro game, acertou uma bolada no traseiro de Federer com um forehand.

Teria sido um lapso freudiano, uma regressão à rivalidade?

Antes que as implicações psicológicas mais amplas tivessem tempo de reverberar, Djokovic praticamente se contorceu de vergonha, e deu um tapinha nas costas de Federer, pedindo desculpas. Os dois ainda estavam rindo do acontecido, como velhos e bons amigos, quando se sentaram no banco.

"Poder fazer dupla com alguém do calibre dele é um presente", disse Federer depois que ele e Djokovic saíram derrotados, em sua estreia como dupla, diante de Kevin Anderson e Jack Sock, por 6-7(5), 6-3, (10-6).

Federer, 37, detém o recorde masculino de 20 títulos de Grand Slam e admitiu insegurança quanto a compartilhar da experiência da Copa Laver com Djokovic, cujas vitórias no Aberto dos Estados Unidos e em Wimbledon este ano o recolocaram na disputa pelo recorde histórico. Djokovic já ganhou 14 títulos de Grand Slam.

"Com certeza não é tão simples quanto jogar com Rafa, porque eu sabia que naquele caso estaríamos sempre bem", disse Federer, sobre seu relacionamento com Djokovic.

O sérvio Djokovic e o suíço Federer já se enfrentaram 46 vezes desde 2006. Em uma série tão longa, que Djokovic lidera por 24 vitórias a 22, alguma controvérsia é quase inevitável.

Mas alguém que desconhecesse o histórico teria dificuldade para classificar o relacionamento entre eles como tépido, se estivesse em Chicago na semana passada. Os astros trocaram gracejos na mídia social, com Federer perguntando se Djokovic seria capaz de recriar a clássica cena em que Patrick Swayze ergue Jennifer Gray em uma coreografia do filme "Dirty Dancing".

Os dois também fizeram comentários brincalhões em entrevistas conjuntas. Jantaram juntos e torceram juntos pelos colegas de equipe, falando sobre muitos assuntos, de estratégias de jogo a filhos, e sobre a política do tênis profissional.

Vimos Federer orientando Djokovic durante a derrota do sérvio diante do sul-africano Anderson, no sábado. (Djokovic, apesar de estar em um momento muito bem sucedido de sua carreira, perdeu as duas partidas que jogou em sua estreia na Copa Laver, que a Europa venceu pelo segundo ano consecutivo.)

A atmosfera amistosa e afetuosa do torneio não tornou os jogos menos competitivos. As partidas foram todas muito disputadas e interessantes. Oito das 11 foram decididas pelo match tie-break de 10 pontos. As duas equipes desperdiçaram diversos match points —a equipe Mundo desperdiçou cinco deles em três das partidas que perdeu.

Chicago não sediava um torneio de tênis masculino de primeira linha desde 1991. O evento atraiu 93.584 espectadores, superando facilmente a audiência de 83.273 pessoas da Copa Laver do ano passado. A recepção aos tenistas no United Center, a casa do Chicago Bulls, da NBA, e do Chicago Blackhawks, da NHL, foi ruidosa e apreciativa.

Ainda não se pode determinar se a Copa Laver conseguirá garantir espaço permanente em um calendário muito movimentado de tênis que agora abriga diversos torneios por equipes reformulados ou retomados.

Mas o entusiasmo dos torcedores, dos patrocinadores e, acima de tudo, dos jogadores é uma referência positiva. Sete dos 11 jogadores mais bem colocados no ranking mundial se inscreveram para o torneio, ainda que Nadal, o líder, e Juan Martín del Potro, o quarto colocado, tenham ficado de fora devido a lesões, embora esperassem jogar.

"Se de alguma forma o tênis fosse assim a cada semana do ano, seria muito mais divertido", disse o animado e imprevisível tenista australiano Nick Kyrgios, 23.

O tênis da era pré-profissional era caracterizado pela camaradagem. Um exemplo disso eram os tenistas australianos —um grupo que incluía Rod —Laver, conhecidos por percorrer o mundo carregando raquetes em uma das mãos e coquetéis na outra.

A abertura do esporte aos profissionais, em 1968, gerou alta no faturamento e no prestígio, e isso dificultou a preservação desse lado amistoso, entre os tenistas do topo do ranking.

John McEnroe e Jimmy Connors, os combativos astros americanos que dividiram o palco do final da década de 1970 à metade da década de 1980, se detestavam. Pete Sampras e Andre Agassi mantinham distância um do outro, e se tratavam com desdém.

Essas tensões se reduziram, especialmente na geração atual de astros. A mudança demográfica é um dos motivos. Os tenistas competem por mais tempo. Muitos deles se tornaram pais, o que inclui Federer e Djokovic. Talvez a idade traga perspectiva.

​Federer participou da cerimônia de inauguração da academia de tênis de Nadal em Mallorca, dois anos atrás. Nadal jogou contra Federer no primeiro Match for Africa, um evento de caridade promovido pelo segundo, em 2010.

Mas essa proximidade não se estendia ao relacionamento entre Federer e Djokovic, até a semana passada, quando Federer compareceu a um café da manhã organizado pela Novak Djokovic Foundation.

Federer disse que ele e Djokovic não iam "tirar férias juntos", por terem passado alguns dias jogando na mesma equipe. A familiaridade tem seus riscos. McEnroe recorda que Connors o convidou do nada para que treinassem juntos, antes do torneio de Wimbledon em 1982, e em seguida o derrotou no torneio.

"Ele se familiarizou um pouco mais com o meu jogo, e isso o ajudou", disse McEnroe.

Federer vê rivalidades amistosas como benéficas para o esporte.

"Eu me vejo também como torcedor, como alguém que quer melhorar e aprender", disse ele sobre Djokovic. "Estar perto de um campeão como ele é empolgante".

Na sexta-feira, Federer expressou decepção porque, com a derrota, ele e Djokovic não teriam um histórico invicto como dupla.

"Temos de jogar juntos de novo", comentou Djokovic.

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