Descrição de chapéu Copa Libertadores

Argentinos esperam por final inédita da Libertadores entre Boca e River

Times disputam semifinais contra brasileiros a partir desta terça (23)

Alex Sabino
Buenos Aires

Apenas uma vez Boca Juniors e River Plate se enfrentaram em uma final de expressão. Deu polêmica. No estádio do Racing, os rivais disputaram o título do Argentino de 1976. O Boca ganhou com um gol de falta cobrada por Ruben Suñe quando o goleiro Ubaldo Fillol ainda arrumava a barreira. Foi validado.

“Eu quero o River na final. Eles podem falar o que quiserem. O rebaixamento nunca sairá deles”, provoca o técnico Blas Giunta, que atuou pelo Boca Juniors nos anos 1980 e 1990, se referindo à queda da equipe rival em 2011.

Com duas semifinais de Libertadores a serem jogadas, Buenos Aires ainda não explodiu com a expectativa do que seriam os dois maiores superclássicos (apelido do jogo na Argentina) da história.

Nas ruas do centro da capital, em eterna reforma e de trânsito caótico, não era comum ver as camisas dos dois maiores adversários do país dias antes de o Boca Juniors enfrentar o Palmeiras e o River Plate pegar o Grêmio.

“Eu não quero nem imaginar como vai ficar isso aqui. A cidade para quando tem Boca e River. Em uma final de Libertadores, multiplique isso por cem. Será algo estrondoso”, afirma o ex-zagueiro Oscar Ruggeri, campeão da Copa do Mundo com a seleção argentina em 1986 e jogador dos dois clubes. Pelo River Plate, venceu o Mundial de clubes também em 1986.

Sempre que os rivais se encontram no torneio continental, algo memorável acontece. Para o bem e para o mal.

Em 2004 jogaram as semifinais. A partida de volta, no Monumental, campo do River, ficou marcada pela comemoração de Tevez aos 44 min do segundo tempo imitando uma galinha, apelido depreciativo do adversário. Nos pênaltis, o Boca se classificou.

No encontro seguinte, nas oitavas de final de 2015, jogadores do River não conseguiram atuar no segundo tempo porque um torcedor usou buraco na grade em La Bombonera para espirrar gás de pimenta no túnel de acesso.

O árbitro encerrou a partida e o Boca Juniors foi considerado eliminado. Só não foi suspenso do torneio no ano seguinte graças à influência política da AFA (Associação do Futebol Argentino) na Conmebol.

O confronto pode confirmar ou mudar a percepção que os torcedores argentinos têm dos clubes na Libertadores.

Nos últimos 20 anos, o Boca foi visto como bicho papão. O time, porém, não levanta o troféu desde 2007, quando Riquelme o carregou nas costas.

Já o apelido do River (galinha) vem da fama da equipe de amarelar em partidas decisivas. Entre os dois, no entanto, o último título foi do River, em 2015. Ganhar outra final e sobre o maior rival, seria enterrar de vez o apelido. Sobraria apenas a gozação por ter sido rebaixado.

Em março deste ano, eles se enfrentaram na final da Supercopa, um torneio pouco relevante, entre o campeão nacional e o da Copa Argentina. O Boca viu desta forma: um título inexpressivo. O River fez festa do mesmo jeito.

Lisandro Magallan, do Boca, e Exequiel Palacios, do River, disputam bola em clássico argentino
Lisandro Magallan, do Boca, e Exequiel Palacios, do River, disputam bola em clássico argentino - Alejandro Pagni - 23.set.18/AFP

Existe a tensão também pelo que acontece nos bastidores. Dirigentes liderados pelo presidente do River, Rodolfo D’Onofrio, acusam a AFA de ser favorável ao Boca. Decisões polêmicas de arbitragem, principalmente antes do Mundial da Rússia, apenas aumentaram a polêmica.

O presidente da AFA, Claudio Tapia, era presidente do Barracas Central, pequena equipe da terceira divisão, mas é conhecido como torcedor do Boca Juniors. Ele e sua família possuem cadeiras cativas em La Bombonera.

Um dos vice-presidentes e talvez a pessoa mais poderosa da entidade é Daniel Angelici, mandatário do Boca.

“Todo mundo sabe que ele [Tapia] é torcedor do Boca. Mas esperava que como dirigente da AFA, deixasse a paixão de torcedor em casa”, reclama D’Onofrio.

Uma final de Libertadores também poderia proporcionar ao mercado paralelo de ingressos o maior lucro da história.

Os barras bravas (núcleo de torcedores mais violentos) controlam a revenda de bilhetes nos estádios do país e nenhum jogo é tão procurado por turistas quanto o superclássico. No confronto deste ano, pelo Argentino, as entradas mais caras eram negociadas por agências de turismo e nos arredores das sedes dos clubes por até US$ 600 (R$ 2.100).

A estimativa dos próprios dirigentes é que entradas para setores populares, que normalmente são vendidas por US$ 20 (R$ 70), podem sair por US$ 1.300 (R$ 4.500) no mercado paralelo.

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