Conmebol se irrita com Boca e quer título decidido em campo

Antes de reunião nesta terça (27), clube pediu ser declarado campeão da Libertadores

São Paulo

Irritado com o Boca Juniors, o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, vai pressionar para que a Libertadores deste ano seja decidida dentro de campo.

A Folha apurou com um dirigente da entidade sul-americana que Domínguez pretende fazer com que o mandatário do clube, Daniel Angelici, desista de ação no tribunal da confederação. Eles têm reunião marcada para esta terça (27), às 11h (de Brasília), em Luque, no Paraguai.  

O presidente do River Plate, Rodolfo D’Onofrio, também estará presente.

A contrariedade de Domínguez é porque duas vezes, uma no sábado (24) e outra no domingo (25), Angelici e D’Onofrio deram as mãos no que deveria ter sido um acordo de cavalheiros: a final da Libertadores seria adiada, mas acabaria resolvida dentro de campo.

Apesar do acerto verbal, o Boca Juniors entrou com ação na comissão disciplinar da Conmebol pedindo os pontos da partida e, por consequência, o título.

A equipe se apoia no artigo 18 do código disciplinar da entidade. Este diz que o clube mandante é responsável por tudo o que cerca o jogo. 

O ônibus que transportava a delegação do Boca foi atacado por torcedores do River Plate na esquina da avenida Libertador com a rua Monroe, em Buenos Aires.

Vidros foram quebrados por pedras e garrafas. A polícia usou gás de pimenta contra os agressores e, como as janelas estavam destruídas, a substância afetou jogadores, que passaram mal. Estilhaços de vidros provocaram cortes no braço do volante Pablo Pérez, também atingido no olho.

A partida foi adiada de sábado (24) para domingo (25).  Mas o elenco do Boca Juniors pressionou para não jogar. O técnico Guillermo Schelotto disse que seria injusto entrar em campo em desvantagem.

A Conmebol consultou o River Plate e D’Onofrio concordou. Domínguez lhe prometeu que a final aconteceria em uma nova data a ser definida nesta terça, mas que esta seria no estádio Monumental de Nuñez e com a presença de público.

Na noite desta segunda (26), o mandatário da Conmebol divulgou uma “carta ao futebol sul-americano” em que diz que, sob sua presidência, são os jogadores que ganham as partidas em campo, e não “pedras e agressões”.

Em uma Copa Libertadores marcada por ações nos tribunais, a confederação sul-americana quer evitar a todo custo que o campeão seja resolvido no tapetão. Para Domínguez, esta não é uma simples final. Ele queria fazer do evento a imagem do que é a “nova Conmebol”, slogan criado para afastar o fantasma dos escândalos de corrupção.

O Santos perdeu pontos (e acabou eliminado por isso) por causa da escalação irregular de Carlos Sánchez nas oitavas, contra o Independiente (ARG). Apesar de terem usado atletas que estavam suspensos, Boca Juniors e River Plate não foram punidos.

O Grêmio falhou na tentativa de avançar para a final com processo no tribunal. O time reivindicava que o técnico do River, Marcelo Gallardo, infringiu o regulamento ao ir ao vestiário para falar com os jogadores no intervalo da semifinal em Porto Alegre apesar de ter sido punido.

Torcedor do River Plate se ajoelha e pede calma diante de policiais após o ataque ao ônibus do Boca Juniors, em Buenos Aires
Torcedor do River Plate se ajoelha e pede calma diante de policiais após o ataque ao ônibus do Boca Juniors, em Buenos Aires - Ivan Pisarenko-25.nov.18/AFP

Ter os maiores rivais argentinos na decisão chamou a atenção do mundo para a Libertadores. O River recebeu mais de três mil pedidos de credenciamentos de imprensa para a partida que deveria ter acontecido no sábado. 

O presidente da Fifa, Gianni Infantino foi convidado de honra. Quando a Conmebol forçava a barra para que a partida acontecesse de qualquer jeito no sábado, houve reunião com a presença do suíço.

“Que me apresentem um culpado, mas esta partida se joga hoje!”, ele gritou, segundo dirigentes do Boca. 

“Nós não queremos jogar, mas a Conmebol e a Fifa estão nos obrigando”, disse Carlos Tevez, atirando toda a responsabilidade para as entidades que comandam o futebol sul-americano e mundial.

Foi o momento em que a maré virou e os cartolas se viram obrigados a chegar a um um consenso pelo adiamento.

Infantino deixou o Monumental de cara amarrada. Sua assessoria divulgou que ele nega ter tentado forçar a realização do jogo ou ameaçado o Boca de sanções caso se negasse a entrar em campo.”

De acordo com o dirigente da Conmebol ouvido pela Folha, Domínguez está obrigado a fazer com que a Libertadores tenha um final esportivo. Não apenas porque se trata de confronto entre Boca Juniors e River Plate, mas porque é a última decisão em partidas de ida e volta.

A partir de 2019, o campeão será resolvido em jogo único, em estádio determinado com antecedência. Igual à Champions League. A final do próximo ano será em Santiago, no Chile. 

Domínguez se queixou de que a entidade está sendo crucificada por causa de um “péssimo esquema de segurança” montado pelas autoridades argentinas.

Quando a poeira abaixar, ele vai usar a confusão em Buenos Aires como argumento para mostrar que a final em uma partida é boa ideia.

“Teremos controle da segurança, de toda a organização e da comodidade das duas torcidas. Isso não acontece hoje em dia”, disse ele em entrevista à Folha em maio.

O problema para a Conmebol é que Daniel Angelici se sente pressionado. 

Ele fechou o acordo para que a final acontecesse no último domingo, mas a reação a isso dos próprios jogadores foi péssima. Este foi um dos argumentos que apresentou  a Domínguez e D’Onofrio para conseguir mais tempo. Apertado por outros diretores, pelo elenco e por Schelotto, aceitou entrar com pedido na comissão disciplinar. 

Domínguez espera contar com a ajuda de Claudio Tapia, presidente da AFA (Associação de Futebol Argentina), na função de selar mais um acordo de que tudo se decida dentro de campo. Tapia deverá estar presente na reunião. Também vice-presidente da Conmebol, ele é torcedor do Boca Juniors. 

A lembrança do Boca Juniors é as oitavas de 2015. Um torcedor em La Bombonera atirou gás de pimenta em atletas do River Plate na volta a campo para o segundo tempo. Eles se sentiram tão mal que a partida teve de ser interrompida. 

A Conmebol deu a vitória e a classificação para o River.

Os argumentos do Boca agora são os mesmos apresentados pelo seu rival há três anos.

De acordo com o diário argentino "La Nación", a Conmebol pode considerar nula a reclamação do Boca Juniors por um detalhe técnico. O local em que o ônibus foi apedrejado estaria alguns metros fora da zona considerada de responsabilidade do River Plate, mandante da partida.

A Folha apurou que a confederação, embora tenha essa carta na manga, não gostaria de usá-la. Considera que também suscitaria reclamações de favorecimento para uma das equipes, algo que já aconteceu repetidas vezes na atual temporada. Ficaria apenas como último recurso.

A ideia é que Alejandro Domínguez convença Angelici a honrar o compromisso de decidir a Libertadores em campo. Pouco importa se o Boca  Juniors tem razão ou não.

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