Aguerrido dentro e fora de campo, Schelotto pode bater recordes no Boca

Atacante três vezes campeão da Libertadores, ele tenta agora chegar ao título como treinador

Alex Sabino
São Paulo

Após o sorteio dos grupos da Libertadores, em dezembro do ano passado, Guillermo Barros Schelotto já tinha na cabeça a possibilidade de confrontos decisivos contra brasileiros.

Guillermo Schelotto (esq.) conversa com Luiz Felipe Scolari antes da primeira partida semifinal da Libertadores, em La Bombonera
Guillermo Schelotto (esq.) conversa com Luiz Felipe Scolari antes da primeira partida semifinal da Libertadores, em La Bombonera - Alejandro Pagni-24.out.18/AFP

O técnico do Boca Juniors se acostumou a isso como jogador. Por que seria diferente desta vez?

“É lindo jogar contra equipes brasileiras. Na Libertadores, é uma grande experiência. Você tem de competir contra os melhores”, disse à Folha na época.

Em especial, ele tinha na cabeça o Palmeiras, adversário na semifinal. A partida de volta acontece nesta quarta (31), às 21h45, no Allianz Parque. No primeiro jogo, no último dia 24, o Boca venceu por 2 a 0.

Dos três títulos continentais que conquistou como atleta, dois foram contra brasileiros (em 2000 a vítima foi o Palmeiras, e em 2003, o Santos). Na semifinal de 2001, também enfrentou o rival desta quarta e o eliminou.

Ele reconhece que o Palmeiras foi o adversário sul-americano contra o qual teve mais confrontos marcantes.

Foi de Schelotto a primeira cobrança na disputa de pênaltis na final de 2000. Marcou. Titular na primeira semifinal do ano seguinte, anotou o primeiro gol no empate por 2 a 2 em La Bombonera. Partida até hoje lembrada pelos palmeirenses por causa da arbitragem do paraguaio Ubaldo Aquino.

O juiz deixou de marcar pênalti sobre o volante brasileiro Fernando.

Atacante aguerrido, Schelotto nunca fugiu da briga, dentro ou fora de campo. Fez parte de ataques ao lado de Palermo, Tevez, Barijho e Marcelo Delgado. Também foi um dos vários desafetos de Juan Román Riquelme, com quem ganhou a Libertadores de 2000 e 2001.

Guillermo Schelotto disputa bola com Lara, do América do México, durante a semifinal da Libertadores de 2000
Guillermo Schelotto disputa bola com Lara, do América do México, durante a semifinal da Libertadores de 2000 - Andrew Winning/Reuters

“Era uma questão de preferência. Riquelme gostava mais de jogar ao lado de Chelo [Delgado] no ataque. Palermo preferia Guillermo”, relembra o zagueiro Jorge Bermúdez.

Schelotto levou seu estilo como jogador para a carreira de técnico ao lado do irmão e assistente, Gustavo. Primeiro pelo Lanús e depois pelo Boca, irritou os torcedores adversários e até os neutros com as intermináveis reclamações contra árbitros.

Uma rara exceção aconteceu após a primeira partida da semifinal contra o Palmeiras. Talvez porque o Boca tenha vencido graças aos dois gols de Darío Benedetto.

“Foi muito bom resultado porque desde o início tenho dito que o Palmeiras é um dos favoritos na Libertadores. Qualquer vantagem que levássemos para São Paulo seria importante”, afirmou após a vitória em La Bombonera.

O desejo menos escondido de Schelotto é seguir os passos de seu técnico no início do século no clube. Carlos Bianchi comandava o time nos três títulos continentais conquistados pelo então atacante.

Se vencer neste ano, ele igualará o lateral Hugo Ibarra como o maior campeão de Libertadores da história do Boca Juniors. Tornaria-se também o principal ganhador de torneios internacionais na história do clube. Hoje está com 11, empatado com o volante Sebástian Battaglia.

Tal qual seu mestre Bianchi, ele tem dificuldade de se curvar ao que deseja a maioria dos torcedores e imprensa. Carlos Tevez, até hoje apelidado de “el delantero del pueblo” (o atacante do povo, em espanhol), passou os 90 minutos da primeira semifinal com o Palmeiras no banco.

As vitórias amenizam, mas técnico e jogador, companheiros no elenco de 2003, estão longe de serem amigos.

Schelotto também mandou embora Pablo Daniel Osvaldo, uma das principais contratações do clube em 2016, por tê-lo flagrado fumando no vestiário.

Mas como o próprio Guillermo já disse antes, o futebol perdoa tudo, menos a derrota. “Entre e faça um gol”, disse o comandante para Benedetto antes de colocar o centroavante em campo contra o Palmeiras.

Uma orientação banal, mas que ganha contornos premonitórios porque deu certo diante de rival brasileiro. Como havia acontecido antes com Schelotto quando era jogador pela Libertadores contra o próprio Palmeiras.

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