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Serena faz WTA mudar regra e facilitar retorno de tenistas após gravidez

Após exceções para Serena Williams, entidade adota regras menos rígidas

Ben Rothenberg
Nova York | The New York Times

Ao final de uma temporada na qual o retorno de Serena Williams depois de uma gravidez forçou os dirigentes do tênis a realizar ajustes improvisados nas regras do esporte, a Associação do Tênis Feminino (WTA, na sigla em inglês) atualizou suas regras este mês a fim de oferecer mais flexibilidade às mães.

As escolhas de guarda-roupa de Williams também resultaram em um esclarecimento de regras para permitir macacões como o que ela usou em Roland Garros.

Antes, as regras da WTA tratavam pausas para maternidade e pausas por lesão/doença da mesma maneira, o que significa que as isenções conferidas a uma jogadora por uma gravidez eram semelhantes às concedidas por uma torção de tornozelo.

Agora, a gravidez receberá mais consideração. Uma mãe que retorne ao esporte terá prazo de até três anos depois do nascimento de seu filho para se beneficiar de uma posição especial no ranking, no que tange à admissão em torneios. Antes, o prazo era de dois anos contados de seu mais recente torneio.

As tenistas que estiverem retornando de partos ou lesões e tiverem passado 52 semanas ou mais longe das competições também poderão usar a posição especial no ranking por até 12 torneios, em lugar de 8.

Nos seus oito primeiros torneios, uma tenista de retorno que tivesse, ao deixar o tour, posição no ranking suficiente para lhe valer um posto como cabeça de chave receberá a posição de "cabeça de chave adicional".

Isso garantirá que sua adversária de primeira rodada seja alguém que não está entre as cabeças de chave do torneio, e evitará a necessidade de rebaixar tenistas que tenham obtido sua posição nas chaves do torneio com base no ranking atual.

O tópico das chaves especiais recebeu atenção por conta de Williams, que retornou ao circuito mundial em março, seis meses depois do nascimento de sua filha, Alexis Olympia Ohanian Jr. A tenista era a líder do ranking quando engravidou, mas não ficou entre as cabeças de chave nos três primeiros torneios que disputou este ano, entre os quais o Grand Slam de Roland Garros.

Mas Wimbledon, que exerce com frequência sua prerrogativa de alterar chaves, fez de Williams, vencedora de sete títulos de simples no torneio, sua cabeça de chave número 25, ainda que ela ocupasse a posição 183 do ranking naquele momento. Ela chegou à final. O Aberto dos Estados Unidos, que já havia anunciado sua decisão de oferecer consideração especial às mães recentes na organização de suas chaves, fez de Williams a cabeça de chave número 17; ela de novo chegou à final.

Nos dois casos, outra tenista perdeu sua posição na chave para abrir espaço para Williams, ganhadora de 23 títulos de Grand Slam.

Victoria Azarenka, que venceu dois títulos de simples no Grand Slam e é integrante do conselho de atletas da WTA, expressou satisfação com as reformas em um comunicado divulgado pela organização.

"Nossas jogadoras se sentem confortáveis e confiantes ao deixar as quadras para cuidar da família ou de uma lesão, e creio que as novas regras facilitem isso", disse Azarenka, que teve um filho, Leo, em 2016.

"É um primeiro passo realmente muito bom, e vamos usá-lo como base para continuar a buscar maneiras de melhorar e de destacar a importância de que as mães trabalhem e participem do circuito. Meu objetivo como integrante do conselho de atletas é garantir que a WTA seja pioneira como a associação mais progressista e inclusiva do esporte."

Azarenka, que estava entre as 10 primeiras do ranking ao entrar em licença-maternidade, não desfrutou de posição como cabeça de chave especial ao voltar ao circuito, um retorno que se complicou ainda mais devido a uma batalha longa pela guarda de seu filho.

O retorno de Williams depois do parto também liberalizou as regras do tênis em termos de vestuário. Em Roland Garros, o primeiro torneio de Grand Slam que ela disputou depois do retorno, Williams atraiu os holofotes ainda mais do que costuma, usando um macacão vermelho e preto muito justo.

Serena Williams durante partida contra a tcheca Kristyna Pliskova em Roland Garros
Serena Williams durante partida contra a tcheca Kristyna Pliskova em Roland Garros - Christian Hartmann - 29.mai.18/Reuters

O ousado traje causou sensação quando Williams o usou em Paris, em maio, e continuou a gerar controvérsias meses mais tarde, quando Bernard Giudicelli, presidente da Federação Francesa de Tênis, lastimou seu uso.

Giudicelli disse à revista francesa Tennis Magazine que o Aberto da França adotaria um código de vestimenta para impedir que trajes como aquele fossem usados em seu torneio, "porque é preciso respeitar o esporte e o lugar".

Embora os comentários de Giudicelli tenham sido muito criticados, não estava claro que o traje de Williams respeitasse as regras vigentes. Os dirigentes em geral não permitem que as tenistas usem leggings ou calças apertadas desacompanhadas de saias.

A WTA agora explicitou a regra, permitindo que leggings e shorts elásticos sejam usados pelas tenistas com ou sem o acompanhamento de uma saia, vestido ou calção.

Williams usou o macacão por motivos de saúde e não moda, ainda que tenha dito que a roupa fazia com que se sentisse uma super-heroína. Ela enfrentou coágulos de sangue que representam risco de vida, no passado, por exemplo logo depois do parto de sua filha, realizado por cesariana. Williams usou shorts elásticos em Wimbledon e no Aberto dos Estados Unidos, também, mas embaixo de um vestido, nos dois casos.

Williams minimizou as preocupações quanto ao código de vestimenta no Aberto da França, afirmando confiar em que qualquer diretor de torneio abriria exceções por motivos de saúde.

Entre as demais mudanças nas regras, o número de pausas permitidas para ir ao banheiro ou mudar de roupa durante uma partida foi reduzido a uma, em lugar de duas. O prazo cronometrado de 25 segundos para saque, testado em diversos torneios na América do Norte nos últimos meses, será usado nos maiores torneios da WTA em 2019, e seu uso se estenderá a todos os torneios em 2020.

A WTA também adotou uma versão de uma regra adotada nos torneios masculinos, cujo objetivo é impedir que tenistas iniciem torneios e os abandonem na primeira partida por conta de uma lesão pré-existente, apenas com o objetivo de faturar o prêmio por participação.

Tradução de Paulo Migliacci

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