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Com novos astros e menos polêmicas, NFL celebra melhor temporada recente

Após seguidas quedas de audiência, liga de futebol americano voltou a crescer na TV

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Kevin Draper
Atlanta | The New York Times

Depois da melhor temporada da NFL em muitos anos, Roger Goodell, o comissário da liga de futebol americano, teve sua oportunidade de se vangloriar na tarde da quarta-feira (30), antes do principal evento anual do esporte.

"A temporada demonstrou que jamais houve um momento melhor para ser parte da NFL", disse Goodell. "Nosso esporte está melhorando cada vez mais, e nosso engajamento e popularidade não têm paralelos no atual cenário de mídia".

Sob o comando de Goodell, a NFL tenta estar em toda parte o tempo todo. Os testes atléticos, o draft e os treinamentos de pré-temporada se tornaram eventos com audiência própria. Agora temos jogos nas noites de quinta-feira, e alguns, disputados em Londres, nas manhãs de domingo. E a maioria das partidas continua a ser transmitida na TV aberta, enquanto outros esportes transferiram boa parte de seus jogos para a TV a cabo e serviços de streaming.

Um ano atrás, a estratégia da NFL estava sofrendo ataques. Mas o surgimento de uma nova safra de astros e uma temporada em geral livre de controvérsias se combinaram para aumentar a audiência televisiva e resultaram em um final de semana de finais de conferência com jogos espetaculares, para coroar uma sequência vitoriosa iniciada por um leilão surpreendentemente quente pelos direitos de transmissão de alguns dos jogos menos procurados da liga.

No final da temporada de 2017, e depois de queda de 17% na audiência televisiva da NFL nos dois anos anteriores, a liga entrou no mercado de mídia para vender os direitos de transmissão dos jogos de quinta-feira. As redes CBS e NBC afirmaram que exibir os jogos das quintas-feiras lhes causava prejuízo, e não estavam dispostas a pagar muito mais que o total combinado de US$ 450 milhões que vinham pagando pelo contrato encerrado.

Então, como em 1993, quando uma oferta audaciosa por direitos de transmissão da NFL deflagrou uma corrida que fez com que o valor dos contratos disparasse, Rupert Murdoch apareceu na parada. A Fox aceitou pagar US$ 600 milhões ao ano para transmitir os jogos das noites de quinta-feira.

A oferta de Murdoch reorientou o mercado e surgiu pouco depois de ele ter concordado vender a vasta maioria de seu império à Disney, o que tornava necessário para a Fox obter programação de prestígio. E também havia concorrência real da parte de uma empresa de tecnologia.

Brian Rolapp, vice-presidente de mídia e negócios da NFL, disse em entrevista em setembro que a Fox não apresentou o lance mais alto. Quem o fez foi uma empresa de tecnologia, ele afirmou, embora não revelasse qual delas.

"Rejeitamos outras ofertas", ele disse. "Quando você transmite um jogo só na mídia digital, você está ampliando a distribuição e a disponibilidade ou a está reduzindo, e se está reduzindo, em que medida? Nós não tínhamos certeza de que fosse a hora de fazê-lo, ainda".

Em outras palavras, a NFL preservou seu plano básico, o de estar em toda parte e ser acessível. Depois de duas temporadas de tumulto, a liga optou por não deixar de lado sua estratégia estabelecida, mas dobrar a aposta nela.

Há muitos perigos a enfrentar. A crise das concussões ameaça a viabilidade do futebol americano juvenil. O processo de Colin Kaepernick contra a liga, por conluio, continua, o que sugere que ele tem chance de vitória, e o público dos estádios foi o mais baixo das últimas oito temporadas.

Evento de abertura do Super Bowl 53, em Atlanta, com o time do Los Angeles Rams
Evento de abertura do Super Bowl 53, em Atlanta, com o time do Los Angeles Rams - Maxx Wolfson - 28.jan.19/AFP

Tom Brady, o quarterback do New England Patriots, e Sean McVey, o treinador do Los Angeles Rams, não são o principal assunto de discussão na semana do Super Bowl. Esse privilégio continua a caber à arbitragem horrenda. O contrato coletivo entre a liga e seus jogadores expira em dois anos, e as negociações serão duras.

Mas a grande aposta de Rolapp deu certo. Todos os horários de transmissão de jogos da NFL, incluindo as noites de quinta-feira, registraram audiências maiores nesta temporada, com avanço total de 5%.

Incidentes de violência contra a mulher continuam a prejudicar a liga. Kareem Hunt, running back do Kansas City Chiefs selecionado para o Pro Bowl, foi demitido pelo time durante a temporada por conta de um vídeo que o mostrava empurrando e chutando uma mulher. O The New York Times mais tarde noticiou que a NFL não havia questionado Hunt sobre o incidente, em uma entrevista realizada meses antes.

O San Francisco 49ers cortou Reuben Foster depois que ele foi detido pela segunda vez por acusações de violência doméstica, em 2018, e três dias depois ele foi contratado pelo Washington Redskins, o que causou críticas severas. O site TMZ também postou um vídeo que mostrava Montae Nicholson, que joga como defensor no Redskins, socando um homem.

Mas Goodell e a NFL limitaram o número de erros espontâneos que a liga vinha cometendo. Não houve nada parecido com a longa batalha judicial sobre bolas murchas que transcorreu em 2015 e 2016. E assim que a organização percebeu que enfrentaria severa oposição à sua regra que exigia que os jogadores ouvissem o hino nacional em pé, antes das partidas, ela recuou quanto à sua aplicação.

Jovens jogadores como Patrick Mahomes, Baker Mayfield, Mitchell Trubisky e Saquon Barkley se tornaram astros em 2018, mostrando o caminho para um mundo pós-Brady. Quarterbacks conhecidos, como Russell Wilson e Andrew Luck, voltaram à boa forma. O jogo de passe de alta octanagem dominou os ataques da liga.

Tudo isso culminou nas finais de conferência, que envolveram os quatro clubes cabeças de chave e os quatro times com maior total de pontos. Dois quarterbacks veteranos, Drew Brees e Tom Brady, encararam os dois melhores quarterbacks jovens, Mahomes e Jared Goff, em duelos com placares generosos e que só foram decididos na prorrogação.

A questão agora é determinar se é possível tornar esse esporte essencialmente violento mais seguro. Antes da temporada, a NFL adotou uma regra que proíbe que jogadores usem o capacete como arma nos tackles. Mas depois das seis primeiras semanas da temporada, a aplicação da regra foi abandonada, dada a dificuldade de distinguir entre níveis de violência aceitáveis e inaceitáveis.

De acordo com as estatísticas da liga, as concussões caíram em 29% em 2018, para 0,5 por jogo ante 0,7 na temporada anterior. Jeff Miller, vice-presidente executivo de saúde e segurança da NFL, acautelou em uma entrevista recente que "não há linha de chegada" quando o assunto é a segurança dos jogadores, mas elogiou o trabalho que vem sendo feito para estimular os jogadores a usar capacetes melhores, e as intervenções junto aos times para prevenir concussões.

O público nos estádios em 2018 foi o menor desde a temporada de 2011. Essa queda será retificada em parte em 2020, quando o Los Angeles Chargers se mudar de um estádio com capacidade para 27 mil torcedores a um estádio com capacidade para 70 mil torcedores, mas o Washington Redskins, o Tampa Bay Buccaneeers e o Cincinnati Bengals sofreram quedas consideráveis.

A NFL opera em dois planos: o dia a dia, com suas pequenas crises e oportunidades, e as grandes questões que poderiam abocanhar fatia considerável de sua receita anual de US$ 15 bilhões. A maior parte das coisas se enquadra à primeira categoria, e não seriam capazes de prejudicar uma liga cuja receita sobe a cada temporada devido a contratos de televisão assinados alguns anos atrás.

Nos próximos 10 anos, a capacidade da NFL para lidar com as mudanças no cenário da mídia e entretenimento e com os crescentes desafios de saúde e segurança vai determinar se ela conseguirá atingir sua meta de uma receita de US$ 25 bilhões anuais em 2027, e manter sua posição no topo dos esportes americanos.

Arthur Blank, dono do Atlanta Falcons, confia em que a liga continuará a prosperar. Ele acredita que a NFL receberá ainda mais dinheiro quando os contratos de transmissão dos jogos de domingo e segunda-feira expirarem, depois das temporadas de 2021 e 2022, por conta "do número de maneiras pelas quais o produto é distribuído, hoje", ele disse.

Mas a raiz da confiança de Blank é a estratégia duradoura da liga. "O cerne continuara a ser a transmissão via TV aberta e gratuita", ele disse. "Isso não vai mudar".

Tradução de Paulo Migliacci

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