Há um ano, no momento em que Fernandinho alimentava a esperança de fazer uma grande Copa do Mundo em 2018 e apagar a frustração vivida em 2014, o volante disse uma frase que poderia ser repetida agora.
“É a partir da frustração que você tem a chance de dar a volta por cima, de tentar de novo”, afirmou. Não deu certo na Rússia, e hoje o atleta de 34 anos vive a expectativa de conseguir fazer isso na Copa América, disputada no Brasil a partir de 14 de junho.
“As pancadas da vida vão fazendo com que a gente amadureça”, ele afirmou recentemente. “Muito feliz, muito contente, muito orgulhoso de estar retornando à seleção”. A volta não parecia provável após duas edições do Mundial nas quais ele ficou marcado pela eliminação do Brasil.
Em 2014, foi um dos responsáveis pelo sistema defensivo frouxo na derrota por 7 a 1 para a Alemanha e entregou de bandeja o quarto gol. Em 2018, no revés por 2 a 1 diante da Bélgica, fez um gol contra e foi facilmente driblado no segundo gol do adversário, sem nem tentar fazer a falta.
Apesar da queda nas quartas de final, Tite permaneceu no comando da seleção. E só não chamou Fernandinho logo após a Copa do Mundo da Rússia porque o atleta não quis. Sofrendo ameaças contra si e seus familiares na internet, o paranaense pediu ao treinador para ficar longe da camisa amarela, decisão revertida posteriormente.
“O primeiro atleta que eu tive vontade de convocar foi o Fernandinho. O número um. Ele é um jogador extraordinário, joga muito”, afirmou o técnico no fim do ano passado, antes de promover o retorno dele. “A seleção brasileira tem muito orgulho de ter um atleta com essa dignidade e competência profissional.”
Na conversa entre o comandante e o comandado, ficou acertado que ele voltaria ao grupo nos amistosos de março. Não foi possível, por causa de uma contusão no joelho, mas o jogador apareceu na convocação para a Copa América, na semana passada, o que gerou questionamentos.
Tite resolveu bancar Fernandinho, apesar das críticas e da idade do volante, que terá 37 anos na próxima Copa do Mundo. Além do “jogador extraordinário” que vê, o técnico enxerga nele também um líder, alguém com uma personalidade suficientemente forte para lidar com as marcas negativas que o acompanham.
“Vai ter o risco da crítica? É da vida, e ele está maduro”, afirmou o gaúcho, apenas um dos membros da comissão técnica verde-amarela cheios de elogios ao atleta.
“Visitamos o Fernandinho na Inglaterra e vimos como ele tem voz no vestiário do Manchester”, disse o preparador físico Fábio Mahseredjian.
O prestígio do camisa 25 é realmente considerável no Manchester City, clube que defende desde a temporada 2013/2014 do futebol europeu. Seu treinador no time, Pep Guardiola, vê nele uma peça indispensável e chegou a atribuir, no fim do ano passado, uma sequência de resultados ruins à ausência do jogador brasileiro.
“A maioria das coisas que alcançamos foi graças a esse cara”, disse o espanhol, duas vezes campeão inglês com o paranaense no meio-campo.
“Por todos os anos em que estivemos juntos, ele foi incrível. É um jogador incrível. Poucos jogadores podem fazer o que ele faz”, acrescentou, entusiasmado com a capacidade que o paranaense tem de marcar e também participar das ações ofensivas.
São elogios que Fernandinho aceita com a mesma tranquilidade que demonstra diante das críticas recebidas.
Todos que são próximos dele, de familiares a companheiros de equipe, costumam descrevê-lo com adjetivos que vão na linha de sereno, calmo, paciente e centrado.
“Desde criança, com 10 ou 11 anos de idade, ele já tinha essa forma. Era sério, sabe?”, disse sua mãe, Ane Machado, em entrevista à TV Globo concedida no ano passado.
Foi assim, com serenidade e seriedade, que Fernandinho construiu sua carreira na Europa. Após um bom início no Atlhetico-PR, ele passou oito anos no Shakhtar Donetsk, onde venceu seis vezes o Campeonato Ucraniano, antes de ganhar espaço na prestigiada liga inglesa, na qual está há seis temporadas.
Na seleção, porém, sua única glória foi vencer o Mundial sub-20 disputado em 2003 e no qual fez o gol do título contra a Espanha, após cruzamento de Daniel Alves.
Ele chegou à equipe principal pela primeira vez em 2011 e se tornou figura constante nas convocações de 2014 a 2018, mas, embora tenha feito bons jogos entre os 49 que acumula na seleção, não tem como fugir dos desastres que foram suas atuações nas eliminações em 2014 e 2018.
Ainda assim, Tite mostrou que acredita nele. Bastante questionado por não convocar o mais jovem Fabinho, 25, do Liverpool, o comandante deu de ombros para o histórico em Copas e para os 34 anos do meio-campista do City.
“É o mesmo que fez o gol do título sub-20. É o mesmo Fernandinho”, assegurou o treinador, concedendo a ele uma nova chance de dar a volta por cima a partir da frustração.
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