Descrição de chapéu The New York Times

Executivos de clubes fazem encontros rápidos em busca do par perfeito

Empresários e dirigentes promovem rodadas de negociações de até 15 minutos

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Tariq Panja
Londres | The New York Times

O evento tinha todos os traços de uma tarde de "speed dating", na qual desconhecidos se reúnem na esperança de encontrar o par perfeito.

Era uma tarde de calor glorioso, na terça-feira (16), e um grupo de executivos de futebol, de grandes e pequenos clubes, de toda a Europa e de lugares distantes como o Brasil e os Estados Unidos, estava começando a se conhecer, em microencontros de 15 minutos de duração em um salão de conferências do estádio de Stamford Bridge, lar do gigante Chelsea, da Premier League, em West London.

Do lado de fora, os turistas em visita ao estádio curtiam o sol nas arquibancadas. No interior do Centenary Lounge, acarpetado e silencioso, os executivos estavam dando início às sérias negociações de transferência da janela de começo de temporada, um mercado que movimenta bilhões de dólares em uma corrida para completar elencos ou encontrar lares novos, ou temporários, para talentos indesejados ou não comprovados antes que a janela se feche dentro de algumas semanas.

Casa do Chelsea, o estádio Stamford Bridge também recebe encontros empresários e olheiros de clubes de todo mundo para rodadas de negociações de atletas
Casa do Chelsea, o estádio Stamford Bridge também recebe encontros empresários e olheiros de clubes de todo mundo para rodadas de negociações de atletas - REUTERS

Com tabelas numeradas e organizadas em fileiras, executivos armados de brochuras e tablets mostravam seus estoques em reuniões preparatórias breves, encerradas ao toque de um sino e com a presença de duas mulheres equipadas com cartazes ao estilo dos usados nas lutas de boxe para anunciar o início da próxima rodada de conversações.

O evento, uma novidade no mundo muitas vezes opaco e sigiloso das contratações futebolísticas, foi concebido pelo dinamarquês Jonas Ankersen, 33, que dois anos atrás criou uma plataforma para negociação de jogadores chamada "Transfer Room".

A ideia era convencer os clubes a deixar de lado a prática antiga e ineficiente de procurar e vender jogadores por meio de redes sigilosas de agentes ou intermediários, alguns dos quais faturam comissões milionárias nas maiores transações.

"Eu queria dar aos clubes uma chance de retomar o controle do mercado de transferências", disse Ankersen, em meio a fragmentos de negociações cujo som enchia o ar depois da pausa para o almoço.

É claro que esse não é o lugar em que Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi decidirão uma transferência, e sim um mercado para transações envolvendo jogadores úteis e de preço razoável. O jogador mais caro da plataforma de Ankersen foi avaliado em cerca de 20 milhões de libras, ou US$ 25 milhões (R$ 93 milhões), segundo ele.

"É um pouquinho acima de nossa faixa de preços", disse Mick Harford, diretor de futebol do Luton Town, um time de um subúrbio londrino que subiu ao final da temporada passada para a Championship, a segunda divisão do futebol inglês, estudando um lista de jogadores jovens oferecidos para empréstimo por Paul Konchesky, o diretor de empréstimos do West Ham, um clube médio da Premier League.

Harford, um sujeito alto que no passado jogava como atacante, estava no mercado em busca de atletas que equipes de elite estivessem dispostas a emprestar 
---jogadores jovens que necessitassem de experiência de jogo como titulares ou atletas mais velhos que provavelmente não terão vaga em seus times na próxima temporada. O mercado de empréstimos é a coluna dorsal para times como o dele, disse Harford.

Os executivos presentes incluíam representantes do Manchester City, campeão da Premier League na última temporada, e da campeã italiana Juventus, que estão entre os maiores compradores de talentos do futebol mundial, a cada temporada.

A Juventus também é conhecida por emprestar mais jogadores do que quase qualquer outro rival no futebol europeu. Eles tinham a companhia de uma dúzia de outros times da Premier League e de diversas outras agremiações posicionadas em muitos quadrantes da pirâmide mundial do futebol, entre as quais o Internacional, um clube de muita tradição na Série A do Campeonato Brasileiro e conhecido por produzir o tipo de talento necessário ao futebol europeu.

Embora os executivos variassem em termos de posto e idade, eram todos empregados dos clubes e compartilhavam de uma mesma frustração, que resvalava em antipatia, quanto a outra das peças essenciais no mercado de futebol: os agentes.

"Se você consegue avançar uma negociação entre dois clubes, já está em posição mais forte do que se um agente tentar intermediar negócios, interferindo nisso e interferindo naquilo", disse Tony Coton, diretor de recrutamento do Sunderland, um time de terceira divisão na Inglaterra, rebaixado duas vezes depois de disputar a Premier League.

"Aqui obtenho informações de forma direta", ele prossegue, "e sei quanto o jogador ganha em seu clube; posso dizer se podemos bancar esse valor, ou informar que não podemos, sem o envolvimento de um agente, porque o agente invariavelmente inflaciona as pedidas para maximizar seu ganho, e não acho que isso seja certo para um empréstimo".

Coton, que foi goleiro do Manchester City, estava em Londres, como Harford, para tentar obter alguns jogadores por empréstimo e para tentar encontrar compradores para dois jogadores contratados pelo Sunderland em sua era de Premier League, e cujos salários o clube já não tem como bancar.

Alimentado por uma explosão nas receitas televisivas, o mercado mundial de transferências de futebol dobrou em valor de 2014 para cá, para US$ 7 bilhões ao ano, de acordo com a Fifa, o que requer uma abordagem mais séria e organizada do que o negócio baseado em relacionamentos que existia tradicionalmente, de acordo com Rasmus Ankerson, irmão de Jonas e diretor do futebol do Brentford, um clube da divisão Championship do futebol inglês.

Essa estrutura informal resulta em desperdício de até 10%, disse Rasmus Ankersen, o que pode equivaler a US$ 700 milhões, de acordo com os números totais da Fifa. Esse valor poderia ser economizado facilmente se houvesse mais transparência no mercado, e se os clubes soubessem com mais facilidade que jogadores estão disponíveis, e do que os demais clubes precisam.

"Sempre haverá necessidade de alguém que represente o jogador, um agente, e que possa negociar o jogador, negociar seu contrato. O desperdício no futebol fica no que chamamos de 'intermediários de clubes' ---os caras que ficam no meio do caminho e conectam os clubes, retendo informações, intermediando negócios; em muitos casos eles representam um custo desnecessário", disse Rasmus Ankersen.

Reuniões entre clubes como a realizada em Londres continuam incomuns, na escala mundial. A escassez se relaciona à paranoia inerente do mundo do futebol, no qual os clubes encaram com grandes suspeitas as motivações dos rivais.

"Se você coloca uma placa de 'vende-se' pode enfraquecer sua posição no mercado", disse Dan Ashworth, diretor de futebol do Brighton, um clube pequeno que jogará a terceira temporada consecutiva na Premier League este ano.

Ashworth voltou recentemente ao mercado de clubes, depois de seis anos trabalhando para a federação inglesa de futebol. O clube dele contratou um novo treinador, Graham Potter, no começo da temporada, e isso deve significar mais oportunidades que o normal, já que o Brighton tentará montar um elenco enquadrado às preferências de Potter. Quando mudanças como essas ocorrem, jogadores antes vistos como indispensáveis podem não se encaixar mais.

Conversações desse tipo podem ser delicadas e exigir condução cuidadosa, antes que a disponibilidade de um jogador seja anunciada ao mercado, disse Ashworth.

"Você está lidando com seres humanos, não com um produto", ele disse, sentado em um canto calmo do salão em Stamford Bridge, em uma das raras pausas durante o dia. "Quando você coloca uma placa de vende-se quanto a um jogador, ele pode não saber que está à venda, que o clube deseja transferi-lo, pode não concordar com a transferência. Às vezes o jogador concorda, às vezes não".

Pouco depois, o sino ecoou e Ashworth se levantou rapidamente. Ele tinha um novo encontro.

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