Após ressurreição, Tiger Woods curte vida de capitão e embaixador

Aos 44 anos, golfista lidera equipe nacional dos Estados Unidos em torneio na Austrália

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Karen Crouse
Melbourne (Austrália) | The New York Times

Antes de mirar em um alvo improvisado que flutuava no rio Yarra, Shane Luke, um golfista com deficiência física, olhou na direção de Tiger Woods, a quem conhecia apenas da televisão.

Luke era um dos astros locais que estavam participando do evento de abertura, realizado para a televisão, na Crown Riverwalk, uma esplanada à beira-rio em Melbourne, na Austrália, antes do início da 13ª edição da Presidents Cup.

Era um grande momento de sua carreira, diante de uma torcida entusiástica, e a única oportunidade que ele teria de se aproximar de Woods. Luke decidiu arriscar.

Tiger Woods durante a Presidents Cup, em Melborne - William West/AFP

"Você seguraria minha perna?", pediu a Woods.

Luke, nove vezes campeão do aberto de amputados da Austrália, removeu a prótese de sua perna direita e a entregou americano.

"Cuidado, é pesada", alertou. Woods sorriu e respondeu: "Deixa comigo".

Procurando equilíbrio sobre sua perna esquerda, Luke acertou uma tacada que conduziu a bola ao "green" improvisado, enquanto Woods observava atentamente, apoiado na prótese de perna como se ela fosse seu taco.

"Foi muito gentil da parte dele fazer isso", disse Luke, definindo a ocasião como "o momento favorito da minha vida".

Essa não foi a primeira vez que a Austrália viu Woods, o capitão da equipe dos EUA e um de seus integrantes, mas era como se o estivesse vendo com novos olhos. Ele representou o seu país nas duas edições precedentes da Presidents Cup, no Royal Melbourne Golf Club; e venceu o Australian Masters em 2009, em sua única outra passagem competitiva pelo país como golfista profissional. A edição deste ano começa na quinta-feira, com uma sessão de quatro bolas.

Adam Scott, natural de Adelaide e antigo número um do ranking mundial do golfe, recentemente desafiou os apaixonados torcedores australianos a não torcerem por Woods, e em lugar disso darem seu apoio à equipe internacional, que tem pouca chance de vencer e conta com três australianos em seus quadros.

Mas Scott parece ter desperdiçado saliva. A competição bienal provavelmente será a última vez que Woods, que está em meio a uma retomada de sua carreira depois de realizar uma cirurgia na espinha em 2017 a fim de tentar melhorar sua qualidade de vida, atuará como golfista profissional na Austrália.

O golfista, que completa 44 anos no fim do mês, se ofereceu para capitanear a equipe dos Estados Unidos no torneio deste ano em um momento no qual sua carreira parecia encerrada, ou a caminho disso. Em 2017, cinco meses depois de sua quarta cirurgia nas costas e quatro meses depois de uma detenção por intoxicação ao volante, causada por medicamentos usados sob receita, Woods ressurgiu para servir como vice-capitão da equipe que venceu a Presidents Cup.

Trabalhar com atletas mais jovens, como Justin Thomas e Patrick Reed, teve efeito salutar sobre ele, que descreveu como "empolgante" o apoio entusiástico que os colegas demonstraram ao seu retorno. 

A maré positiva de Woods, com três títulos em 16 torneios jogados, incluindo seu 15º título em um "major", evoca o Tiger do passado. Ele parece muito leve, hoje em dia. Durante uma passagem pela Austrália em dezembro do ano passado para promover o torneio deste ano, deixou de lado a cara impassível que usou como máscara por quase duas décadas.

"A verdade é que, 20 anos atrás, a coisa era completamente diferente. Eu estava tentando jogar, competir, derrotar todo mundo", disse Woods em uma entrevista coletiva. "Agora, aprecio ter a oportunidade de voltar e jogar de novo. Sou muito grato por ser parte do golfe uma vez mais."

Um dos primeiros torcedores a chegar para o evento na esplanada à beira-rio, segunda-feira, foi David Ku, um farmacêutico local que apareceu 90 minutos antes do horário marcado, vestindo um agasalho com mangas compridas e capuz com um logotipo modificado do Masters. O contorno do mapa dos EUA foi transformado em uma espécie de bode. A traseira trazia a lista das cinco vitórias de Woods no Masters: 1997, 2001, 2002, 2005 e 2019.

Ele também usava um boné de beisebol com as iniciais TW, e uma cabeça de tigre, que serve como protetor de taco, encobria sua mão direita, como se fosse um marionete. Na outra mão, ele tinha um bonequinho de Woods.

"Essa provavelmente será minha única oportunidade de vê-lo", disse Ku, que explicou que seu respeito pelo golfista, talvez o maior atleta da história do esporte, havia crescido e feito dele um completo fã.

Quando o evento começou, a visão desobstruída que Ku tinha do palco havia sido bloqueada por uma falange de fotógrafos. A posição de Ku era melhor na terça-feira, quando ele caminhou pela pista com o grupo de Woods e conseguiu observar as coisas de bem perto. 

Em um buraco de par três, na primeira metade da pista, o americano se preparava para uma tacada, quando um espectador por trás dele gritou "nós te amamos, Tiger".

"Amo vocês também", ele disse. Suas palavras causaram risos felizes entre os fãs encantados, cuja torcida natural no torneio da semana talvez seja pela equipe internacional, mas cujos corações claramente pertencem a outro golfista.

Tradução de Paulo Migliacci 

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