Descrição de chapéu

Como o olhar de Woods mostrou que o campeão estava de volta

Golfista venceu o Masters pela quinta vez neste domingo

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Bill Pennington
The New York Times


Se a vitória de Tiger Woods no Masters 2019 está entre os maiores retornos da história do esporte - e ela certamente está entre os principais candidatos a essa descrição -, sua origem ficará para sempre vinculada ao que aconteceu domingo no 12º buraco, quando o velho Tiger Woods subitamente reapareceu em um torneio de primeira linha, pela primeira vez em 11 anos.

Foi muito mais que um simples buraco em um jogo de golfe. O que vimos foi um drama psicológico, o instante no qual um antigo campeão reconquistou seu domínio, e o tipo de momento seminal que ajuda a reescrever a história de um esporte.

Entre as muitas coisas que Woods perdeu ao cair publicamente em desgraça, uma década atrás, uma das mais evidentes era sua determinação férrea. Uma das coisas que seu jogo deixou de exibir foi a inimitável vontade que lhe permitia sobrepujar - e eliminar - os adversários, no caldeirão de competições onde a pressão sempre foi muito intensa.

Com o tempo, essa reserva de determinação foi se reduzindo, e inquestionavelmente andava ausente, na postura de Woods. Mas nos 14 minutos iniciados às 12h30min deste domingo, no Augusta National Golf Club, o famoso fator de intimidação que no passado esteve associado a Woods ressurgiu. Mais ou menos 90 minutos mais tarde, quando o golfista estava experimentando seu quinto paletó verde de campeão do Masters e celebrando sua 15ª vitória em um dos grandes torneios do golfe mundial, a determinação parecia estar de volta.

E todo mundo estava ciente disso.

"Tiger voltou", disse Brooks Koepka, bicampeão do Aberto dos Estados Unidos.

O episódio de abertura no capítulo que marcou a virada na disputa começou quando Koepka e Ian Poulter, que estavam jogando no grupo que precedia Woods, terminaram vitimados pela pressão mental e física exercida pelo perturbador 12º buraco. Os dois terminaram perdendo bolas no riacho Rae's Creek, que separa o "green" da área inicial do buraco, a 158 jardas (144 metros) de distância.

Koepka e Poulter, que vinham disputando a liderança, ficaram ambos duas tacadas acima do par, para o 12º buraco, e não conseguiram se recuperar. Em seguida, Francesco Molinari, que tinha vantagem de duas tacadas sobre Woods e jogava no mesmo grupo que o rival, errou sua tacada inicial no 12º buraco, e também terminou na água. O mesmo aconteceu com Tony Finau, outro integrante do grupo que jogava com Woods, e que estava apenas uma tacada atrás do líder naquele momento.

Woods, disputando o 12º buraco pela 86ª vez no Masters, sabia que precisava desviar a bola mais para a esquerda, e empregou força suficiente para conduzir a bola em meio à brisa traiçoeira e posicioná-la bem no centro do "green". Mas foi o que aconteceu a seguir que realmente mudou o clima do jogo, e disparou a sequência que resultaria na vitória de Woods.

O golfista atravessou a ponte Hogan e se posicionou desafiadoramente no "green", encarando Finau e Molinari, posicionados do lado oposto da água e vasculhando suas sacolas em busca de bolas e tacos novos para tentar uma nova travessia do riacho.

O golfista norte-americano Tiger Woods celebra com o troféu a vitória no Master de Augusta, na Gergia (EUA).
O golfista norte-americano Tiger Woods celebra com o troféu a vitória no Master de Augusta, na Gergia (EUA). - Andrew Redington - 14.abr.18/AFP

Woods estava na linha de visão deles, em pé, de braços cruzados ou com uma mão no quadril. Ele continuou a olhar na direção dos rivais com uma expressão que parecia dizer "ei, um pouco mais de pressa, por favor, tenho um torneio a vencer".

Molinari e Finau por fim chegaram ao "green" com suas terceiras tacadas. Woods em seguida completou o buraco, dentro do par. Parecendo atônitos, Molinary e Finau perderem novas tacadas já no "green", o que deixou os dois duas tacadas acima do par. Com a vitória no torneio em disputa, os quatro jogadores que lideravam o Masters perderam cada qual duas tacadas.

Eram 12h44min, e Woods - pela primeira vez no torneio e pela primeira vez desde 2005 - estava empatado na liderança do Masters."Tudo virou no 12º buraco; o erro que Francesco cometeu lá permitiu que muita gente voltasse à disputa, o que me inclui", disse Woods mais tarde. Ele acrescentou, com um sorriso diabólico: "Ser experiente ajuda. Só me concentrei nisso. Não me deixar enganar. Os outros caras não conseguiram".

E quanto ao olhar mortal que ele lançou do "green", enquanto esperava que os rivais resolvessem seus problemas, no exato centro do chamado "Amen Corner", o trecho crucial da pista?Woods prefere deixar que suas ações falem em seu nome. "É um buraco complicado", foi tudo que ele disse. Especialmente complicado se Tiger Woods, uma vez mais determinado e ameaçador, estiver olhando feio em sua direção.

A vitória de Woods redesperta um debate adormecido há anos: se o recorde de 18 vitórias em grandes torneios estabelecido por Jack Nicklaus pode ser batido.Woods prefere não opinar sobre isso, tampouco. "É cedo demais, por enquanto. Estou curtindo o 15º título", ele disse, "Tenho certeza de que pensarei a respeito um pouco mais adiante".

Woods estava rouco por conta dos gritos quase primais que soltou ao completar o 18º buraco e garantir sua vitória por uma tacada de diferença. Naquele momento, ele celebrou ruidosamente no "green", com alegria incontida e espontaneidade quase infantil, traços que raramente exibia quando era 20 anos mais novo. Depois, o sempre sorridente Woods, 43, se dispôs até a avaliar seu legado, algo que sempre preferiu evitar."Atraí muito mais jovens ao esporte", ele disse.

"O pessoal que está na tour agora cuida muito mais do condicionamento físico. São caras maiores, mais fortes, mais rápidos e mais atléticos"."Eles atingem distâncias prodigiosas com suas tacadas, e parte disso pode ser atribuído ao que eu fiz, provavelmente", ele disse.

Mas Woods não legou aos sucessores a sua determinação e persistência, ou sua capacidade de impor sua vontade nos momentos decisivos dos torneios de golfe. Essa qualidade estava ausente do esporte. No 12º buraco, neste domingo, ela ressurgiu e mudou a cara do Masters 2019. Agora o mundo do esporte terá de esperar para ver se isso bastará para reescrever a história do golfe.

Tradução de Paulo Migliacci

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