Relatório revela novos problemas em agência antidoping russa

Documento aponta superfaturamento de contratos com empresas de ex-dirigentes

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Tariq Panja
The New York Times

Uma auditoria forense na problemática agência antidoping oficial da Rússia (Rusada) parece ter identificado um novo problema: centenas de milhares de dólares, e talvez quantias ainda maiores, pagas para empresas ligadas a seus ex-dirigentes.

Os gastos, documentados pela consultoria financeira internacional Baker Tilly em um relatório solicitado pelo diretor-geral da agência, destinavam-se a pagar por equipamentos para exames antidoping e outros produtos e serviços.

De acordo com um sumário de 54 páginas do relatório visto pelo The New York Times, a entidade em diversos casos pagou valores 50% mais altos do que os preços de mercado, ou ainda maiores, por essas aquisições.

“As aquisições não foram feitas por meio de concorrências, e sim por decisão de dirigentes importantes da organização”, aponta o documento, que menciona um antigo diretor-geral da agência como um dos envolvidos.

A auditoria das finanças da Rusada foi solicitada por Yuri Ganus, atual diretor-geral. Ele, que era executivo do setor ferroviário, não tinha experiência em administração esportiva antes de assumir o posto, em 2017, mas tinha experiência quanto a resolver problemas de organizações em crise.

Uma das primeiras tarefas que ele empreendeu, disse Ganus, foi estudar as finanças da Rusada. Quando descobriu custos de equipamento e despesas muito superiores aos que antecipava, Ganus contratou a Baker Tilly para examinar toda a contabilidade da agência.

“Vi os papéis”, disse Ganus em entrevista por telefone. “Vi grandes diferenças entre o que foi proposto e os preços que eles receberam.”

O dirigente disse que esperava que houvesse uma ação oficial depois que as conclusões do relatório fossem submetidas às autoridades russas. Uma investigação foi iniciada e os dirigentes foram entrevistados, ele disse, mas, de repente, o caso foi encerrado.

Acreditando que sua agência foi vítima de fraude, ele escreveu à Procuradoria Pública de Moscou para exigir uma reabertura da investigação.

“Acredito nesse relatório”, disse Ganus. “Quando o comitê de apuração suspendeu a investigação, discordei da decisão.”

Yuri Ganus, diretor-geral da Rusada
Yuri Ganus, diretor-geral da Rusada - Maxim Shemetov - 23.set.19/Reuters

Os detalhes sobre as transações financeiras da Rusada são apenas a mais recente causa de preocupação para a agência e de perda de credibilidade do esporte russo.

No final do ano passado, a Agência Mundial Antidoping (Wada) excluiu a Rússia das competições esportivas internacionais por quatro anos, o que compreende a Olimpíada de Tóquio, depois de constatar que dados de laboratório importantes relacionados a um escândalo anterior de doping haviam sido manipulados.

A Rússia recorreu da decisão junto ao Tribunal Arbitral do Esporte, que deve julgar o caso no final de abril ou no começo de maio.

A análise da Baker Tilly identificou diversas companhias que pareciam ter apenas um cliente, a Rusada, e outras nas quais “diversos antigos dirigentes” da agência antidoping eram investidores ou sócios. O relatório também encontrou exemplos de transações com empresas “de um dia de duração”, que operam por períodos curtos ou por um número finito de transações, e depois desaparecem.

“Pedimos que atenção seja dedicada a essas aquisições como possíveis casos de abuso financeiro por parte de importantes gestores da organização”, afirma o relatório da Baker Tilly. O texto alerta que somas substanciais de dinheiro foram pagas a fornecedores “com níveis potencialmente elevados de risco e conflito de interesse."

Entre os dirigentes envolvidos com as empresas estava Ramil Khabriev, que renunciou à diretoria-geral da Rusada em dezembro de 2015. Ele deixou o posto depois que a Wada suspendeu a agência pelo que definiu como uma operação de doping em escala industrial envolvendo atletas russos.

A suspensão da Rusada foi cancelada em setembro de 2018, quando a Rússia prometeu entregar detalhes sobre os dados de laboratório, que permitiriam que as federações esportivas por fim determinassem a identidade dos atletas dopados.

A retomada das atividade, no entanto, não foi duradoura. No ano passado, a Wada determinou que os dados de laboratório fornecidos pela Rússia haviam sido propositadamente alterados ou excluídos.

A Rusada foi suspensa de novo em dezembro, como parte da punição mais ampla ao esporte russo.

Tradução de Paulo Migliacci

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