Os jogos de dois grandes clubes do Rio de Janeiro neste domingo (28) foram marcados por protestos contra a federação do estado (Ferj) e em apoio aos movimentos que combatem o racismo.
Botafogo e Fluminense eram contrários ao retorno do futebol neste momento da pandemia da Covid-19, mas ambos cumpriram a tabela definida pela federação após muitas idas e vindas e atuaram no Engenhão.
Os jogadores do Botafogo entraram em campo pela manhã, para enfrentar a Cabofriense pela quarta rodada da Taça Rio, com uma faixa que dizia "protocolo bom é o que respeita vidas", em alusão às medidas adotadas pelas autoridades do futebol e de saúde para evitar a propagação do vírus.
O clube criticou a decisão de reiniciar o futebol durante as reuniões realizadas pela federação estadual e no Tribunal de Justiça Desportiva.
Os atletas apareceram com camisas pretas em homenagem ao movimento "Black Live Matter" (Vidas Negras Importam, em inglês), que pede igualdade racial e denuncia a brutalidade policial. Logo após o apito inicial, eles se ajoelharam no gramado, outro gesto identificado com os protestos. A equipe venceu por 6 a 2.
O Fluminense também mostrou uma faixa, mas de agradecimento aos profissionais de saúde do Rio de Janeiro. Os jogadores usaram camisas negras na entrada em campo em luto pelas mortes causadas pela Covid-19. O estado tem 108.800 mil casos confirmados da doença e 9.789 mortes.
Mario Bittencourt, presidente do Fluminense, postou mensagem de protesto no Instagram contra o retorno do torneio. A equipe perdeu por 3 a 0 em sua reestreia na competição.
"Milhares de pessoas ainda morrem no Brasil, enquanto somos obrigados a jogar futebol sem nenhuma segurança. Mais uma triste página da história do futebol do Rio de Janeiro, já tão combalido e defasado", reclamou o dirigente.
Três jogadores do Volta Redonda, adversário do clube tricolor neste domingo, não puderam atuar porque foram infectados pelo coronavírus.
O Estadual foi retomado na último dia 18, com a partida entre Flamengo e Bangu, no Maracanã. Um hospital de campanha para tratar pacientes infectados pelo vírus está instalado ao lado do estádio.
Foi a data com o terceiro maior número de mortes no Rio causados pela doença desde o início da pandemia: 274. O Flamengo apoiou o reinício do torneio.
"Vamos fazer um jogo do lado de um hospital de campanha com 60 doentes de coronavírus. Cada gol do Gabigol amanhã, com zero público, pode significar uma morte do lado", ironizou, em entrevista ao SporTV, Carlos Augusto Montenegro, integrante do comitê executivo do Botafogo.
Por criticar em entrevista ao jornal O Globo a atitude da federação do Rio, o técnico da equipe, Paulo Autuori, foi suspenso por 15 dias. Ele chamou a entidade de "federação dos espertos".
"Fui punido por ter expressado aquilo que tenho como convicção. Talvez muita gente gostasse de expressar as mesmas ideias", disse Autuori, que acabou liberado por instância superior para comandar o time neste domingo. Em protesto, porém, ele preferiu não ficar no banco de reservas.
A equipe alvinegra jogou sem vários titulares, que não estavam em condições físicas. Cinco haviam tido resultado positivo no teste para identificar a Covid-19. Os nomes não foram revelados. O elenco teve oito dias de treinos antes de enfrentar a Cabofriense.
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