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Tóquio 2020 tênis

Medalha histórica nas Olimpíadas coroa esforço silencioso de brasileiras no tênis

Na conquista surpreendente de Luisa Stefani e Laura Pigossi, mérito é todo delas

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Tóquio

A surpreendente narrativa da primeira medalha do tênis brasileiro em Jogos Olímpicos não representa, como em muitos casos, a coroação de um projeto voltado para esse fim.

Ela é fruto de um esforço silencioso das atletas —e de suas pequenas equipes— que, unidas numa jornada improvável, escalaram uma montanha para escrever seus nomes na história do esporte brasileiro.

Luisa Stefani, 23, vive nos últimos anos uma ascensão no circuito mundial de duplas. Ocupa a 23ª posição do ranking da WTA (Associação do Tênis Feminino) e, ao lado de parceiras estrangeiras, disputa os principais torneios do mundo. No US Open do ano passado, com a americana Hayley Carter, avançou até as quartas. Neste ano, fizeram uma final de WTA 1.000, torneio só atrás dos Grand Slams em importância.

Quantos brasileiros sabem disso? Quantos já viram um jogo feminino de duplas na TV? Agora, felizmente, muitos mais conhecerão a história da paulista que se mudou com a família para os Estados Unidos, entrou no esporte universitário e hoje cada vez mais se firma no circuito profissional.

Ainda assim, para conseguir uma vaga olímpica pelo ranking inicialmente, Luisa precisaria estar no top 10. Com desistências, outras oportunidades se abriram, mas a combinação de sua posição com a da também paulista Laura Pigossi (188ª) fez com que a lista de espera demorasse a chegar ao nome das brasileiras.

Quando chegou, às vésperas do evento, não tiveram dúvidas em embarcar em busca de, ao menos, colocar no currículo uma participação olímpica —sem dinheiro envolvido nem pontos no ranking. Para quem as premiações acumuladas de cada semana pagam as contas, pode não ser escolha tão simples.

Destaque da decisão do bronze, Laura, 26, mudou-se para Barcelona há cinco anos buscando evolução no seu jogo. Lá ela está mais perto dos torneios. Sua realidade não são as disputas de Grand Slams ou eventos de primeira linha da WTA, mas competições bem menores. Quem está nessa faixa do ranking costuma ter dificuldade para montar um calendário. A rotina é de muitas viagens decididas em cima da hora para entrar nas chaves e tentar ir longe. Se não der, corre-se para o próximo, e assim por diante.

Além da dificuldade na busca por patrocínios e apoios institucionais, distante da elite também é complicado ser ouvido. A coluna Saque e Voleio, do UOL, contou há três anos que Laura chegou a ser cortada pela Confederação Brasileira de Tênis de uma Fed Cup (competição de países) disputada em 2015 devido a críticas que sua mãe havia feito em relação à entidade.

A dupla Laura Pigossi e Luisa Stefani celebra a conquista da medalha de bronze no tênis olímpico
A dupla Laura Pigossi e Luisa Stefani celebra a conquista da medalha de bronze no tênis olímpico - Dai Tianfang/Xinhua

Muitos atletas, cada um ao seu modo, abriram portas e geraram impacto no tênis brasileiro. Maria Esther Bueno, Thomaz Koch, Gustavo Kuerten, Fernando Meligeni, André Sá, Marcelo Melo, Bruno Soares, Teliana Pereira, Thomaz Bellucci… Para sempre poderá se dizer o mesmo de Luisa Stefani e Laura Pigossi.

Há medalhas conquistadas porque um programa de trabalho, às vezes envolvendo centenas de pessoas, foi efetivo. O caso da ginasta Rebeca Andrade é ilustrativo. Um roteiro que começa num projeto social em Guarulhos é lapidado num centro de formação em Curitiba e potencializado num clube como o Flamengo. Sem contar os investimentos da Confederação Brasileira de Ginástica e do Comitê Olímpico do Brasil.

No caso de Luisa e Laura, não houve projeto institucional voltado às suas carreiras, que dirá para uma participação em Tóquio que parecia tão distante. A história dessa medalha é a de quem se esforçou, acreditou até o fim e, claro, teve bola para ganhar de duplas consideradas favoritas numa semana mágica.

Na impossibilidade de alterar o passado, quem sabe o resultado histórico possa apontar novos caminhos para o futuro do tênis feminino do Brasil. Mas melhor não esperar demais. Se nada mudar, o sonho olímpico de Luisa e Laura já terá valido a pena por si só.

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