Novato Scaloni desafia o rodado e campeão Tite por título da Copa América

Brasil e Argentina se enfrentam na final neste sábado (10), às 21h, no Maracanã

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Rio de Janeiro

Lionel Scaloni, 43, se tornou técnico da seleção argentina um pouco por acaso. Ex-assistente de Jorge Sampaoli, foi promovido após um período de interinato e faz seu primeiro trabalho como treinador na carreira. E logo com a equipe nacional de seu país.

Tite, 60, se transformou no comandante da seleção brasileira porque mostrou ao longo de uma trajetória já extensa, mas principalmente em duas etapas vitoriosas no Corinthians recentemente, que tinha currículo e capacidade para assumir a função.

São muito distintas as trajetórias dos técnicos finalistas da Copa América, que se enfrentam neste sábado (10), às 21h, no Maracanã (SBT e ESPN Brasil). E a experiência pode valer para o gaúcho, mas Scaloni sabe que tem Lionel Messi em grande fase e é pessoa indicada para transmitir aos seus jogadores a necessidade de aproveitar o momento de tocar a glória.

Tite e Lionel Scaloni à beira do campo no duelo entre Brasil e Argentina pela Copa América de 2019
Tite e Lionel Scaloni à beira do campo no duelo entre Brasil e Argentina pela Copa América de 2019 - Nelson Almeida - 2.jul.2019/AFP

Como o próprio argentino, na época em que era um voluntarioso lateral-direito do Deportivo La Coruña, da Espanha, clube que defendeu entre 1998 e 2005 e foi sua porta de entrada para a Europa.

Mais acostumado à segunda do que à primeira divisão espanhola, o "Super Depor", como foi chamado na época, se colocou entre os grandes sem pedir licença. Na temporada 1999/2000 de LaLiga, deixou Barcelona e Real Madrid para trás e ficou com o título.

Lionel Scaloni ainda foi campeão da Copa do Rei e bicampeão da Supercopa da Espanha com o clube. Hoje, o Deportivo já não tem mais nada de "Super" e está na terceira divisão.

Por essa experiência, o voluntarioso lateral-direito descobriu que é preciso abraçar a oportunidade quando ela se coloca diante de alguém no futebol.

Foi semelhante a sua chegada à seleção da Argentina, como um bonde que passou em velocidade e no qual ele subiu.

Scaloni chegou à equipe nacional por conta de Jorge Sampaoli, com quem trabalhava no Sevilla antes de receberem o convite da Associação Argentina de Futebol. Quando era funcionário de um banco na província de Santa Fe, época em que começava a trabalhar no futebol amador, Sampaoli ajudou o pai de Scaloni com prazos mais amigáveis para a realização de pagamentos.

Scaloni pai retribuiu a gentileza indicando Sampaoli ao Argentino de Rosario, um clube que servia de filial do Newell's Old Boys. Foi onde o técnico da seleção na Copa do Mundo da Rússia deu seus primeiros passos.

Quando se aposentou, Lionel Scaloni buscou Jorge Sampaoli à procura de um trabalho no futebol. Do Sevilla, foram para a equipe nacional argentina, experiência que apenas serviu para expor o trabalho ruim de Sampaoli.

A queda do treinador após a eliminação nas oitavas de final do Mundial, contra a França, abriu o caminho para que seu auxiliar assumisse. Diante da recusa de outros técnicos de renome para treinar a seleção, Scaloni iniciou como interino e ficou no cargo até que foi efetivado no fim de 2018.

Já são 33 partidas com a Argentina, com 19 vitórias, 10 empates e somente 4 derrotas. Para a final da Copa América, ele e sua equipe chegam com uma invencibilidade de 19 jogos. A última derrota? Queda para o Brasil na semifinal do torneio continental de 2019, no Mineirão, confronto que terminou 2 a 0 a favor da equipe da casa, campeão daquela edição.

"Não acredito nas revanches, creio no trabalho que temos feito, no projeto. Voltaremos a nos encontrar com o eterno rival, espero que seja um grande jogo, que se possa desfrutar e todos possam ver as duas seleções jogarem porque seguramente o mundo estará paralisado para ver essa partida", disse Scaloni, nesta sexta (9), em entrevista coletiva.

Conquistada pelo Brasil após passar pela Argentina e, na decisão, superar o Peru, a Copa América de 2019 foi um torneio que ajudou a consolidar a posição de Tite como técnico da seleção brasileira.

O treinador chegou à Copa América disputada no país pressionado pela eliminação nas quartas de final da Copa do Mundo de 2018, para a Bélgica. Vencer a competição em casa, diante de sua torcida, daria ao gaúcho maior tranquilidade para seguir com a preparação de um ciclo completo para o Mundial seguinte.

Bicampeão brasileiro, campeão da Libertadores e do mundo com o Corinthians, Tite assumiu o Brasil em 2016, logo depois da demissão de Dunga. Em 60 partidas à frente da equipe, soma 45 vitórias, 11 empates e apenas quatro derrotas.

Reconhecido como um técnico capaz de organizar bem taticamente os seus times, tem mostrado isso mais uma vez com o trabalho na seleção. Defensivamente, o Brasil é muito forte. Foram somente 21 gols sofridos nos 60 que comandou até aqui (quase um gol a cada três jogos apenas). Nos últimos dez compromissos, seus goleiros foram vazados duas vezes.

Esta edição da Copa América serviu para Tite testar variações e ampliar o repertório –tanto o seu quanto dos atletas. O trabalho, que já chega ao quinto ano e mira o Mundial do Qatar, em 2022, é elogiado por jogadores que já trabalharam com alguns dos principais treinadores do planeta.

"Taticamente, sim [é a seleção mais organizada em que eu já joguei]. Uma equipe que defende muito bem. A partir do momento que um treinador entende o potencial dos jogadores e faz o possível para que isso se torne cada vez mais fácil nos jogos, fica muito bom para o jogador. A gente se sente mais confiante, confortável e eu estou feliz e alegre, jogando o que quero", disse Neymar, que trabalhou anteriormente na seleção com Mano Menezes, Felipão e Dunga.

Tite e Neymar se abraçam na vitória sobre o Peru, pela fase de grupos da Copa América
Tite e Neymar se abraçam na vitória sobre o Peru, pela fase de grupos da Copa América - Sergio Moraes - 17.jun;2021/Reuters

Além do reconhecimento pela parte tática, Tite também conseguiu com o torneio reafirmar a confiança dos jogadores no trabalho e na gestão do grupo.

A insatisfação mostrada com a organização da Copa América, que não foi bem recebida pelo então presidente da CBF, Rogério Caboclo, afastado na sequência após acusação de assédio sexual por parte de uma funcionária da entidade, terminou por fortalecer o treinador perante o elenco, igualmente insatisfeito com a mudança repentina de sede e as indefinições que cercaram a vinda do torneio ao país.

Neste sábado (10), o experiente Tite buscará seu segundo título continental diante do novato Lionel Scaloni. A essa altura de sua carreira, não é necessário avisar ao gaúcho sobre cautela.

Na última vez que o Maracanã sediou uma decisão importante, na Libertadores da última temporada, havia um técnico rodado contra um rival que nunca tinha conquistado títulos, até que no dia seguinte foi campeão pela primeira vez.

"Não posso ser tendencioso ou superficial e dizer que mereço mais porque o outro não merece. Quero que nossa equipe tenha excelência, quero que seja excelência, competitivo e leal. Fundamentalmente, vão ser os 90 minutos ou mais refletidos nessa final que vão contribuir para isso [o merecimento]", afirmou Tite na entrevista desta sexta-feira.

Apoiado em uma trajetória que sempre o fez acreditar nas oportunidades que lhe são brindadas, Scaloni sonha com a glória e com o fim de um jejum argentino de 28 anos sem troféus. Tite, campeão da Copa América uma vez e com a maturidade de quem viveu os processos que levam aos títulos, sabe qual o caminho para tentar conquistá-la novamente.

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