Descrição de chapéu Tóquio 2020

Ana Marcela Cunha conquista o ouro na maratona aquática nas Olimpíadas de Tóquio

Nadadora baiana supera frustrações em Pequim-2008 e no Rio-2016 para chegar ao pódio no Japão

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Tóquio

Ana Marcela Cunha chegou aos Jogos de Tóquio com uma coleção de títulos e frustrações olímpicas. Eleita seis vezes a melhor atleta do mundo em maratona aquática, a baiana acumula 12 pódios em mundiais, mas não conseguia repetir o desempenho em Jogos. Foi assim em Pequim-2008 e no Rio-2016.

Ela então olhou para Tóquio como se fosse a última oportunidade. Nesta terça (3), a nadadora enfim quebrou a escrita ao conquistar a medalha de ouro nas águas do parque marinho Odaiba. Sob sol forte, numa prova que começou às 6h30, no horário do Japão, nadou o tempo todo no pelotão de frente.

A medalhista de ouro Ana Marcela Cunha celebra a conquista no pódio dos Jogos de Tóquio
A medalhista de ouro Ana Marcela Cunha celebra a conquista no pódio dos Jogos de Tóquio - Oli Scarff/AFP

Logo na saída, assumiu a liderança, mas viu a americana Ashley Twichell passar à frente na segunda das sete voltas da prova. Pior: a adversária apresentava frequência de braçadas superior à da brasileira, 46 por minuto, ante 37. Após Twichell optar pela hidratação, o que a fez perder o ritmo acelerado, no entanto, Ana Marcela retomou a ponta e completou a primeira metade da prova na liderança. O cenário só mudaria na quinta volta, quando a alemã Leonie Beck ultrapassou tanto a nadadora baiana quanto a americana.

Quando faltavam menos de 2 km para o fim da competição, Ana Marcela tomou a liderança, e a disputa foi corpo a corpo até o final, com uma chegada emocionante. A batida para garantir o ouro, com margem mínima, espelhou o apelido pelo qual é conhecida: pit bull. "Finalmente. Querendo ou não, era um quarto ciclo olímpico. Teve Pequim, uma não classificação, uma frustração no Rio e um amadurecimento muito grande para chegar até aqui", disse a nadadora após a vitória.

“Me diverti, fiz o que queria do início ao fim”, festejou Ana Marcela ao SporTV, já exibindo os cabelos pintados nas cores verde e amarelo. Ela cumpriu o percurso de 10 km em 1h59min30s8, à frente da holandesa Sharon van Rouwendaal, com 1h59m31s7, e da australiana Kareena Lee, 1h59m32s5.

No pódio, ao som do hino brasileiro, a nadadora, que é terceiro-sargento do Exército, prestou continência, repetindo gesto feito por Alison dos Santos, bronze nos 400 metros com barreiras horas antes. Em maio, quando atletas olímpicos foram vacinados, em ato promovido pelo governo, Ana Marcela foi a primeira a receber a aplicação do imunizante por meio das mãos do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

Com a conquista da nadadora, a delegação brasileira ganhou cinco medalhas em 24 horas. Ao triunfo nas águas se somaram outro ouro, da vela, de Martine Grael e Kahena Kunze e os bronzes de Alison, Thiago Braz no salto com vara e Abner Teixeira no boxe. Agora, o Brasil tem 15 medalhas em Tóquio e se aproxima das 19 medalhas da Rio-2016, recorde nacional de pódios em Jogos.

A conquista da medalha olímpica coroa uma trajetória que começou cedo. Aos 16 anos, nos Jogos de Pequim-2008, permaneceu boa parte da competição entre as líderes, mas nos últimos 1.000 metros adotou uma estratégia da qual se arrependeu. Terminou em quinto lugar.

Depois, não obteve índice para Londres-2012 —perdeu a vaga por três segundos no qualificatório.

No Rio-2016, Ana Marcela figurava entre as favoritas, já que, assim como em Tóquio, chegou à disputa após ter sido campeã mundial no ano anterior. No entanto, acabou na décima colocação. Diante da torcida carioca, deixou a prova chorando, enquanto a brasileira Poliana Okimoto conquistava um bronze inédito.

Para as Olimpíadas de Tóquio, a atleta e o técnico Fernando Possenti mudaram a estratégia de treinos e até de cidade: trocou Santos (SP) pelo Rio de Janeiro. Lá, instalou-se em um apartamento com vista para o centro aquático Maria Lenk, no qual funciona o laboratório do Comitê Olímpico do Brasil.

Possenti e Ana Marcela também reavaliaram o calendário de provas e abriram mão de competições para que ela chegasse mais disposta e menos visada às águas da capital japonesa em busca da tão desejada medalha olímpica. “A Ana competia muito. Em 2018, nadou 18 provas em 12 meses”, diz o treinador.

Na reta final de preparação, foram ao Centro de Alto Rendimento de Sierra Nevada, no sul da Espanha. Localizada a 2.320 metros acima do mar, o local tem um dos centros de treinamentos mais concorridos do mundo. Quando deixou a prova no Rio, Ana Marcela colocou na cabeça que a última oportunidade provavelmente seria no Japão. “Sei que minha vida útil [como atleta] estará chegando ao fim.”

Em entrevista ao SporTV após a prova, Ana Marcela agradeceu os pais, a namorada, o clube e o treinador, além dos nadadores Fernando Scheffer e Bruno Fratus, também medalhistas em Tóquio. "Todos os brasileiros que ganharam medalha até agora foram um incentivo grande, principalmente o Scheffer e o Bruno, por serem da natação. É aquela coisa: uma raia, uma chance. Aqui foi uma raia, uma chance."

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