Descrição de chapéu Tóquio 2020

Brasil persegue marcas nas Paralimpíadas após encarar obstáculos da pandemia

Em Tóquio, delegação busca se manter entre as dez potências e alcançar seu centésimo ouro

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São Paulo

A maior delegação brasileira numa edição de Paralimpíadas realizada no exterior espera que o número grandioso de participantes se reflita nas conquistas de medalhas nos Jogos de Tóquio, com início na terça-feira (24).

O Brasil terá 259 atletas no total (incluindo pessoas sem deficiência que atuam como guias, calheiros, goleiros e timoneiro) em 20 das 22 modalidades, menos apenas do que na edição de 2016, no Rio de Janeiro —foram 286.

O principal objetivo esportivo do CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) é se manter entre os dez primeiros colocados no quadro de medalhas pela quarta edição consecutiva —foi nono em Pequim-2008, sétimo em Londres-2012 e oitavo no Rio-2016.

Em casa, o Brasil bateu seu recorde de medalhas, com 72 (14 ouros, 29 pratas e 29 bronzes), mas o maior número de ouros (21) foi registrado na Inglaterra.

Agora, os mais otimistas acreditam ser possível superar tanto o total de medalhas de 2016 quanto o recorde de ouros de 2012. Mas a primeira meta traçada é chegar à centésima conquista dourada do esporte brasileiro na história dos Jogos Paralímpicos. Faltam 13 para a marca de três dígitos.

Os feitos que puderem ser celebrados no dia 5 de setembro, data de encerramento de Tóquio-2020, também terão na conta a marca de uma suada preparação em meio aos percalços da pandemia da Covid-19.

As atividades no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, principal base do alto rendimento no país, foram paralisadas em 16 de março de 2020 e retomadas, com estabelecimento de protocolos sanitários, em 7 de julho do ano passado.

Mas o acesso não foi total. Apenas medalhistas de Jogos Paralímpicos ou campeonatos mundiais realizados em 2019, da natação, tênis de mesa e atletismo, receberam autorização para frequentar o local num primeiro momento. Não mais do que 50 pessoas, que se revezavam em horários distintos. Outras modalidades individuais e as coletivas só puderam voltar em 2021.

Pista de atletismo vazia com pôr do sol ao fundo
Pista e campo de atletismo do Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, na época fechado para treinos por causa da pandemia - Ale Cabral - 18.jun.20/CPB

“O grande desafio dessa edição é a falta de informação. Todos os países vão competir no escuro, sem saber como estão os outros. Mas estamos entrando todos iguais, com o mesmo nível de informação ou de desinformação”, afirma Alberto Martins, diretor técnico do CPB e chefe de missão em Tóquio.

Além das dificuldades nos treinamentos, os brasileiros praticamente não conseguiram viajar para competições no exterior. Na natação e no atletismo, que distribuem o maior número de medalhas, ainda é possível ter mais referência de performance pelas tomadas de tempo e rankings internacionais. Mas nos esportes coletivos e de combate, por exemplo, fica uma incógnita sobre o que esperar.

Já no Japão, a pandemia voltou a se mostrar um obstáculo para a preparação brasileira. Logo na chegada ao país-sede, no início de agosto, dois membros da delegação (não atletas) tiveram teste positivo para o coronavírus. Eles não sofreram complicações e já estão liberados. Segundo o CPB, 100% dos integrantes viajaram vacinados.

As autoridades da cidade de Hamamatsu, que recebeu os brasileiros para aclimatação, determinaram o isolamento de 52 pessoas consideradas contatos próximos dos contaminados, entre eles vários atletas. Foram cinco dias de discussões intensas sobre o cumprimento de protocolos sanitários, até que houvesse a liberação para treinamentos sob restrições.

“Tivemos um embate bastante duro com autoridades de saúde de Hamamatsu, porque na nossa opinião não estava sendo cumprindo o regulamento dos Jogos, que possibilita o treinamento das pessoas em isolamento, desde que com controle”, diz Martins. “Foram cinco dias de bastante dificuldade e tivemos a necessidade de interferência do Mizael [Conrado, presidente do CPB, que estava no Brasil] e da embaixada brasileira. Não estávamos querendo nenhuma flexibilização das regras, simplesmente o cumprimento do regulamento.”

Ele não acredita que esse fato terá impacto negativo na performance. Mais difícil de mensurar é o resultado de um ano e meio de pandemia, com treinamentos sob restrições de mobilidade, na saúde mental dos atletas. “Não podemos menosprezar o impacto que às vezes não aparece na tomada de tempo, mas se reflete no aspecto emocional e psicológico. É uma variável sobre a qual não temos o controle nesse momento”, destaca o chefe de missão.

Um elemento sobre o qual não parece haver dúvidas é que as Paralimpíadas de Tóquio significarão uma passagem de bastão no esporte brasileiro. O nadador Daniel Dias, 33, maior medalhista do país, vai se aposentar após a sua quarta participação. Ele não deixará o posto de grande referência do esporte paralímpico tão cedo, mas abrirá caminho para que novos rostos comecem a almejar esse lugar.

“O Daniel vai ser ídolo por muito tempo, como a Adria [Santos] e o Clodoaldo [Silva] ainda são referências. O atleta não se confirma como ídolo pela participação na Paralimpíada. Tem todo um processo que ele vai demonstrando ao longo da sua carreira. Nessa edição, vão surgir atletas com um caminho bastante marcado, mas daí a se tornar ídolo precisará mais do que simplesmente ganhar duas ou três medalhas nos Jogos”, afirma Martins.

Para os próximos anos, o CPB pretende aumentar a participação feminina (de 40% em Tóquio) e de jovens atletas (17% têm menos de 23 anos) na delegação, além de atuar cada vez mais no descobrimento de talentos e na formação de profissionais capacitados para o trabalho no esporte adaptado.

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