Natação tem melhor desempenho desde Pequim-08, e descanso na pandemia é tido como trunfo

Nadadores bateram 33 recordes olímpicos nas piscinas de Tóquio, 10 a mais do que no Rio

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São Paulo

Mesmo com o adiamento e as incertezas causados pela pandemia de Covid-19, os nadadores medalhistas conseguiram obter nestas Olimpíadas de Tóquio-2020 a melhor evolução de tempos desde os Jogos de Pequim-2008.

Em relação ao número de recordes olímpicos, Tóquio foi superior ao Rio-2016 (33 marcas batidas contra 23, respectivamente). Também superou Londres-2012 (25 recordes).

É preciso ressaltar que duas das marcas batidas no Japão vêm do revezamento 4 x 100 m medley misto, que estreou nas Olimpíadas. Mesmo sem elas, Tóquio-2020 continua tendo superado mais recordes do que nos Jogos anteriores.

A Folha analisou também a variação das marcas dos medalhistas de todas as provas de natação de uma edição para outra, no masculino e no feminimo.

Caelebe Dressel, campeão dos 50 m livre, cumprimenta Bruno Fratus, medalha de bronze
Caelebe Dressel, campeão dos 50 m livre, cumprimenta Bruno Fratus, medalha de bronze - Jonathan Nackstrand - 1.ago.21/AFP

Em média, os tempos deste ano foram 0,36% melhores do que os do Rio-2016. A edição brasileira havia sido 0,2% melhor que a de Londres-2012.

Uma das dúvidas quanto às Olimpíadas no Japão era referente ao desempenho dos atletas. O evento foi adiado em um ano devido à Covid-19. Durante os períodos mais críticos da pandemia, piscinas foram fechadas, e atletas tiveram que fazer preparação física em casa. Era uma incógnita como o ciclo olímpico mais alongado iria influenciar na performance dos nadadores, que planejam o treinamento para chegar ao ápice nas Olimpíadas.

A crise sanitária também causou o cancelamento de diversos torneios preparatórios, aumentando o grau de desconhecimento sobre como estariam os principais atletas do mundo. O último grande evento na natação foi há dois anos, no Mundial de Gwangju, na Coreia do Sul.

Para Alex Pussieldi, treinador e comentarista de natação do Swim Channel, a paralisação foi positiva.

"Já no período da pandemia, em 2020, houve conversa entre treinadores americanos e australianos. Uma das coisas que ficou evidente é que os atletas precisavam de um pouco de descanso. Os problemas da pandemia geraram outras oportunidades: aumentou o período de descanso dos atletas", afirmou Pussieldi. "Os resultados em seletivas [olímpicas] nacionais já haviam sido positivos", acrescentou.

O descanso ajudou os nadadores a conseguirem ser até mais rápidos do que nas Olimpíadas de Pequim-2008, nas quais o desempenho dos competidores deu um grande salto em comparação a Atenas-2004. Na época, as piscinas viviam o auge dos trajes tecnológicos.

Muitos especialistas consideraram as peças, que pareciam macacões, uma espécie de doping oficial. Na China, os tempos dos nadadores medalhistas foram em média 1,7% melhores do que quatro anos antes. Foi o maior salto da natação olímpica desde Moscou-1980.

Em Londres os trajes já estavam banidos, o que fez boa parte dos tempos dos nadadores estacionar. A proibição da vestimenta afetou mais os tempos do masculino. O equipamento daquela época cobria praticamente o corpo todo. Com o veto, os homens passaram a usar peças de tamanho semelhante a uma bermuda. Para o feminino, peças maiores seguiram permitidas, ainda que com tecnologia diferente.

As mulheres bateram 54 recordes olímpicos de Londres-2012 em diante, enquanto homens baixaram apenas 25 dessas marcas.

O grande destaque em Tóquio entre as mulheres foi a australiana Emma McKeon, que bateu sete recordes olímpicos e ganhou quatro ouros e três bronzes.

"Ela não foi uma surpresa. Na seletiva australiana, a McKeon se classificou em oito provas. Houve uma opção de não nadar os 200 m livre para preservá-la para as provas de revezamento. Quando você tira a atleta de uma prova, está tirando de três", analisa Pussieldi, referindo-se, além da final, às duas baterias classificatórias.

No masculino, as performances vêm melhorando, ainda que mais lentamente. No Japão, o destaque foi os 100 m livre, disputa que teve índice técnico muito alto e foi vencida pelo norte-americano Caeleb Dressel.

"É a prova mais clássica da natação. Teve a eliminatória mais forte da história. A semifinal também foi a mais forte. E, na final, tivemos primeiro e segundo colocados [Caeleb Dressel e Kyle Chalmers] mais rápidos da história. O medalhista de bronze seria campeão de todas as Olimpíadas com exceção de Pequim", afirma Pussieldi.

Dressel sai da piscina de Tóquio como o grande nome da natação masculina na era pós-Michael Phelps. Ele conquistou cinco ouros no Japão, onde também bateu seis recordes olímpicos.

"É um cara que correspondeu ao que se esperava dele. Não só ganhou as provas, como nos 50 m livre obteve a maior differença da história para o segundo colocado", analisa Pussieldi, sobre a diferença de 0s48 que o norte-americano impôs ao medalhista de prata, o francês Florent Manaudou.

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