Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro 2021

Entenda como sites definem as chances de um time ser campeão ou rebaixado

Modelos matemáticos são usados para indicar sucesso ou naufrágio de uma equipe de futebol

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Leandro Silveira
São Paulo

O Atlético-MG encerrará o jejum de 50 anos sem ser campeão brasileiro? O tri da Libertadores ficará com Palmeiras ou Flamengo? O Santos será rebaixado? A incerteza ocupa mentes dos torcedores e ainda deve perdurar. Mas é possível se aproximar das respostas a partir de um ramo da matemática: a probabilidade, assunto explorado por sites, acompanhado por fanáticos, mas nem sempre compreendido.

A probabilidade fornece ferramentas para problemas complicados e úteis do dia a dia. "São perguntas cujas respostas não podemos conhecer com precisão. Em parte, porque dependem de um conjunto enorme de variáveis desconhecidas. Porém, podemos criar modelos matemáticos que ajudem a estimar que a probabilidade de chuva em São Paulo é de 80%, fazendo os moradores saírem com guarda-chuvas", diz Marcelo Hilário, subcoordenador do curso de Matemática da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e pesquisador de probabilidades.

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Raphael Veiga (à esq.) em disputa de bola com Allan, durante partida entre Palmeiras e Atlético-MG
Raphael Veiga (à esq.) em disputa de bola com Allan, durante partida entre Palmeiras e Atlético-MG - Cesar Greco - 29.set.21/Ag. Palmeiras

Os sites Chance de Gol, Infobola e Probabilidades no Futebol fornecem estimativas, com diferenças entre eles e variações a cada rodada. Eles encaram um desafio: lidar com uma quantidade extraordinária de informações para prever resultados, mas precisando optar por algumas variáveis para avaliar probabilidades, simulando modelos simplificados de um campeonato.

Aqui, nuances geram resultados diferentes. "Simplificar demais pode levar a um modelo que não seja realista o suficiente; simplificar pouco vai levar a modelos intratáveis computacionalmente", diz Hilário. "A tarefa dos matemáticos é gerar modelos simples para serem simulados com a nossa capacidade computacional, mas que mantenham informações suficientes para que deem estimativas úteis", acrescenta.

O Chance de Gol define parâmetros de força de cada clube a partir dos resultados dos últimos 12 meses, com peso decrescente de acordo com a longevidade do jogo. A equação que simula os resultados também usa o mando de campo, com um peso fixo.

Marcelo Arruda, doutor em estatística e proprietário do Chance de Gol, explica que todos os jogos de competições de clubes nacionais, incluindo os estaduais, têm peso no modelo para o Brasileiro. O site é o único a medir probabilidades para os torneios mata-matas e a utilizar o parâmetro de forças de cada time para estimar as chances antes do início das competições.

Nas disputas internacionais, o Chance de Gol só leva em consideração os resultados desse tipo de torneio –e nos últimos 24 meses. E sem um banco de dados extenso, não publica probabilidades antes do início do campeonato. "Nas copas, espero os times terem um turno completo da fase de grupos para publicar", justifica.

É um modelo diferente em relação aos de Tristão Garcia no Infobola e do Departamento de Matemática da UFMG, no Probabilidades no Futebol, que são semelhantes, mas com sutilezas nos algoritmos. Em comum, Tristão e os profissionais da UFMG definem perfis para os clubes como mandantes e visitantes, a partir dos seus resultados no torneio.

"O momento não é o último jogo, é uma média. E é isso que prevalece", diz Tristão.

"Se você começa a ganhar, aumentam as probabilidades de vencer o próximo jogo", defende Bernardo de Lima, membro da equipe do projeto da UFMG e pesquisador em probabilidades.

No Infobola, o peso é total para os últimos seis jogos e vai caindo –70% para os seis anteriores, 50% para os seguintes e 35% para os demais. Já a UFMG usa uma progressão geométrica de 5/6 em que o peso dos jogos anteriores diminui ao longo das rodadas.

Com as probabilidades dos modelos publicadas nos sites, o que não fazem antes da 5ª rodada do Nacional, há o desafio de lidar com a interpretação dos torcedores. "Por melhor que seja o modelo, o futebol é mais rico. Às vezes os números atrapalham, os times se apavoram. Mas o dono do destino é o clube", avalia Tristão.

Já o professor da UFMG alerta que uma probabilidade baixa um dia irá acontecer, como ocorreu com o Fluminense em 2009, quando evitou um rebaixamento que chegou a ter 99% de chances de se concretizar. "A probabilidade é muito grande de que algo com 5% de chance ocorra em algum momento", diz Bernardo.

A ideia do Infobola surgiu, para Tristão, no Brasileiro de 1999, quando a média dos pontos das competições daquele ano e de 1998 determinava o rebaixamento. Com essa experiência, dá dicas de leitura dos números.

"50% de probabilidade para cair é muito, mas para título é pouco, por ser a busca pela excelência. Para a taça, a partir de 1/3 do campeonato só diminui os candidatos. Já o rebaixamento é um torneio de 2º turno", afirma.

Além de ensinar o público a ler os números, o caminho pode ser ajudá-lo a se aproximar da matemática e a criar um modelo, como professores da UFMG estimularam em cursos abertos.

"Um objetivo é ser um veículo de divulgação científica. Já demos minicursos em universidades, ensinando probabilidade, com a Lei dos Grandes Números no futebol. A ideia era: ‘estamos te ensinando, se não concordar, faça o seu algoritmo’", relata Bernardo.

"A imparcialidade do programa [algoritimo] é o maior mérito, pois todos somos parciais", conclui Tristão.

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