Cuca celebra 'melhor ano da carreira', mas teme memória curta no futebol

Após pegar Covid em 2020, técnico dá volta por cima e diz que pagará promessa feita por Telê em 1971

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Cuca festeja vitória no Brasileirão 2021 - Ueslei Marcelino - 28.nov.21/Reuters
Santos

Aos 58 anos, Cuca diz hoje dar boas risadas sempre que escuta sobre a calça vinho da sorte no Palmeiras, do ônibus que não podia dar ré antes das partidas no Botafogo ou do gato preto que mandou encontrar em meio a má fase na primeira passagem pelo Santos, em 2008.

"Quando eu morrer isso vai ficar. Mas é tudo balela, minha superstição é a minha fé", garante o treinador à Folha.

As loucuras são parte de uma coletânea de superstições folclóricas atribuídas a ele pelos 22 clubes que dirigiu desde o Uberlândia, em 1998, primeira oportunidade depois que encerrou a carreira como jogador.

Campeão brasileiro pela segunda vez na carreira –já havia conquistado o título em 2016 com o Palmeiras–, o troféu que findou o jejum de 50 anos do Atlético-MG no último dia 2 de dezembro coroa o melhor ano desde que virou treinador.


"Cheguei ao Santos [em 30 de julho de 2020] com desconfianças e fiquei até com a saúde em risco, no último estágio antes de ser intubado [por complicações da Covid-19]. Não imaginava nem nos melhores sonhos viver um 2021 assim. Foi o meu melhor na carreira", afirma.

O técnico, agora, tem outra preocupação: manter-se no topo. "Não vou citar nomes, claro, mas há treinadores que estavam bem há um ano atrás e hoje não são mais nem lembrados. Esse é um medo que temos", explicou.

O temor de Cuca se dá por esquecimentos a colegas renomados, hoje desempregados, mesmo após conquistas importantes. Depois de vencer a Libertadores pelo próprio Atlético-MG, em 2013, após dois anos na China, ele mesmo passou quatro meses em busca de um clube até o convite do Palmeiras, em abril de 2016.

"Muitas vezes ouço isso: ‘o Cuca não faz trabalho a longo prazo, tem dificuldades para permanecer nos clubes’. Estou aqui há oito meses e consegui fazer história, mas cada um tem um jeito de ser. Tem horas, claro, que preciso me regenerar também", conta.

"Treinador no Brasil se vira muito bem. Estava no Santos e vivi o oposto da situação por aqui. Dirigi uma molecada, o clube estava sem dinheiro e com salários atrasados", completa.

A certeza de que continuará em alta pode ser alcançada novamente pela fé. Auxiliado pelo clube mineiro, entrou em contato com Renê Santana, filho de Telê, técnico campeão brasileiro em 1971, para conseguir o aval de cumprir a promessa do antigo treinador de caminhar até a capela da igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no distrito de Pires, em Congonhas. Na ocasião, Telê não completou todo o trajeto a pé.

"Faltam 41 km do ponto em que o Telê saiu com a viatura até a capela. Já conversei com o filho, só não consegui tempo ainda. Tomei todo o cuidado de conversar com ele, que se prontificou a ir junto comigo. Esse ano ou no começo do próximo vou fazer, mas vou escondidinho. Ainda tem a Licença Pro da CBF para tirar."

Com o Galo, além do Brasileirão, ele conquistou o estadual de Minas e está perto do título da Copa do Brasil, após a vitória por 4 a 0 sobre o Athletico Paranaense na primeira partida. Mesmo assim, o técnico lembra que a temporada esteve em xeque pouco antes da vitória por 1 a 0 sobre o Internacional, em 2 de outubro, no Mineirão.

Na ocasião, a equipe havia acabado de ser eliminada de forma inesperada para o Palmeiras na semifinal da Libertadores e não vencia há três partidas.

"O futebol te dá direito a um dia de luto, e olhe lá. Preferi não falar nada no dia, tivemos a chance de vencer o Palmeiras tanto em São Paulo como em Belo Horizonte. Não preparei uma preleção depois, mas abri o coração e falei como me sentia. Retomamos a confiança", lembra o treinador.

O título tão aguardado e a consolidação do melhor ano da carreira também passaram por percalços. De rejeição de parte da torcida logo na chegada até o desentendimento público com Hulk, principal jogador do time.


O camisa 7 fez críticas públicas pelo fato de não jogar com regularidade no início do ano. Depois, amenizou o tom em um esclarecimento pelas redes sociais.

"Temos uma relação tranquila. Tivemos um desentendimento porque tive que mexer com ele para ter uma resposta em uma posição que ele precisou mudar", explica. "Problemas foram solucionados."

Apontado como maior treinador da história do clube pelos títulos conquistados, Cuca evita falar sobre candidatura à sucessão a Tite na seleção após 2022.

A ambição, ele diz, é a de ainda continuar aproveitando até onde conseguir o melhor momento da carreira: "vamos ver até onde vou".

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