Descrição de chapéu Caixa Econômica Federal

Caixa exigiu receita de TV e de venda de atletas para renegociar, diz diretor do Corinthians

Tratativas se arrastaram por três anos até as partes acertarem um fluxo de pagamento

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São Paulo

Três anos após a Caixa Econômica Federal ter executado a dívida do financiamento para a construção do estádio do Corinthians, em Itaquera, o clube e o banco anunciaram na última segunda-feira (25) um acordo de renegociação do débito.

Para chegar a um novo fluxo de pagamento, a agremiação alvinegra teve que aceitar exigências do banco estatal, entre as quais a inclusão de novas garantias para o contrato, como receitas de venda de atletas e direitos de TV, conforme explicou o diretor financeiro do clube, Wesley Melo.

O dirigente, contudo, ressaltou que o estádio será autossustentável e afirmou não ver risco para os cofres do time.

"Não é que eu esteja montando um fundo de reserva. São garantias que a gente acabou concordando, foi exigência da Caixa. Então, tem lá um percentual das receitas de venda de jogadores e da venda de direitos de transmissão. Se por acaso a gente não honrar as prestações ou os juros, eles poderão exercer essa garantia", disse Wesley à Folha.

Neo Química Arena durante partida entre Corinthians e Juventude pelo Brasileiro
Neo Química Arena durante partida entre Corinthians e Juventude pelo Brasileiro - Carla Carniel - 11.jun.21/Reuters

Sem citar os percentuais das receitas que foram incluídos na negociação, o cartola disse que o fluxo de pagamento é "factível com as receitas da arena". Segundo ele, o dinheiro gerado no estádio é "suficiente para pagar todo o custo de manutenção e o financiamento".

Há no clube a expectativa de que nem será necessário usar toda a receita, sobretudo a das bilheterias, para honrar o débito. Pelo contrato original, todo o dinheiro gerado na arena era destinado ao fundo que administra o financiamento. Agora, o clube também pode utilizar essas verbas em caso de sobra.

A informação sobre a inclusão de novas garantias no acordo entre as partes foi revelada pela presidente da Caixa, Daniella Marques, em entrevista à TV Jovem Pan.

Recém-empossada presidente do banco após o afastamento de Pedro Guimarães, envolvido em denúncias de assédio, Daniella chegou a afirmar que o financiamento da arena alvinegra foi uma "operação de crédito muito malsucedida". Após uma repercussão negativa sobre a fala, ela comentou que o novo acordo "foi um golaço e solucionou a renegociação de obrigações antigas".

Já Wesley disse que "agora é fácil olhar para trás e falar", mas que o plano inicial de pagamento fazia sentido na época da inauguração do estádio, em 2014. Segundo ele, podem ter ocorrido exageros nas projeções de receitas, mas a situação econômica do país foi o maior obstáculo para o clube honrar a dívida. "O Brasil foi muito impactado pela crise mundial em 2016, que afetou todos os negócios."

Desde 2019, quando o banco executou o contrato, as partes negociavam novos termos. Por conta disso, o processo na Justiça teve sucessivas suspensões pedidas pelo clube e pelo banco. O pagamento do empréstimo neste período também ficou suspenso.

Segundo o diretor financeiro, o clube já pagou R$ 165 milhões da dívida, entre juros e o valor do empréstimo.

Agora, ficou acertado que o clube ficará isento de pagar a dívida neste ano e, a partir de 2023, começará a pagar os juros do financiamento. Já o valor principal começará a ser pago em 2025.

"Em 2023 e 2024, vamos pagar só juros, de maneira trimestral, em março, junho, setembro e dezembro. O principal a gente começa a amortizar em 2025, também de forma trimestral", explicou o diretor.

O valor original repassado pela instituição ao clube foi de R$ 400 milhões. Esse montante sofreu correções desde então, e o valor atual é calculado em R$ 611 milhões.

Inicialmente, o prazo para a quitação do débito era 2028. Agora, a data limite é 2041. "Foi uma necessidade do fluxo [fazer esse prolongamento], para garantir um valor com que a gente não se aperte", disse Wesley.

Nem o clube nem a Caixa revelou os valores das parcelas acordadas. O acordo original previa parcelas mensais de R$ 6 milhões.

Parte do empréstimo será paga com a venda do nome do estádio, os chamados "naming rights". Para batizar o palco de Itaquera de Neo Química Arena por 20 anos, a Hypera Pharma topou em 2020 desembolsar R$ 300 milhões em parcelas anuais de R$ 15 milhões. Há uma correção anual pelo IGPM (Índice Geral de Preços de Mercado), e o cálculo atual aponta um pagamento total de R$ 400 milhões.

Construído para receber a abertura da Copa do Mundo no Brasil, o estádio foi inaugurado em maio de 2014. No local foram realizados seis jogos do Mundial.

A reportagem procurou a Caixa, mas a instituição informou em nota que "não comenta os aspectos específicos de processos judiciais ou renegociações em andamento". Ressaltou apenas que a renegociação foi um "acordo histórico".

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