Embora estimulado por conselheiros a entrar em litígio com a Caixa Econômica Federal, o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, deseja fazer um acordo com o banco. Em reunião que pretende ter com o presidente da estatal, Pedro Duarte Guimarães, ele quer apresentar uma lista de questionamentos sobre a atuação do banco no contrato de financiamento para a construção da arena.
Os problemas foram apontados pela comissão do estádio, criada pelo conselho deliberativo e apresentados na reunião do órgão do último dia 12 de agosto, no Parque São Jorge.
Nesta quinta (12), a Caixa enviou notificação extrajudicial ao Corinthians informando pretender executar a dívida do financiamento da arena em Itaquera. Para a agremiação, o débito seria de R$ 470 milhões. A instituição afirma que é de R$ 536 milhões.
O financiamento foi obtido para o Itaquerão, inaugurado em maio de 2014, pouco antes do início da Copa do Mundo no Brasil. O custo inicial da obra foi de R$ 985 milhões (R$ 1,3 bilhão em valores atuais).
“Nós vamos pagar. Não vamos perder estádio, não deixamos de pagar, não vão tomar nada. Vamos chamar a Caixa para ela cumprir as responsabilidades dela. Tem muita coisa que ela deixou de cumprir”, disse Sanchez.
Segundo a ata da reunião do conselho deliberativo, a qual a Folha teve acesso, o clube diz que a Caixa não cumpriu a obrigação, prevista em contrato, de fiscalizar a obra e acompanhar o uso do dinheiro do financiamento, cedido pelo BNDES mas repassado pelo banco.
Há também a queixa de que no 5º aditamento do acordo, pouco antes da inauguração da arena, a Odebrecht deu apenas 48 horas para que Corinthians e Caixa fossem a uma reunião para dar o aceite definitivo da obra. Esse é o termo que comprovaria que a construção estava finalizada.
Nenhuma das partes compareceu. Segundo a comissão do estádio, era uma cláusula abusiva. O Itaquerão foi inaugurado sem o termo e a construtora alegou que o clube, ao jogar pela primeira vez no local, deu o aceite.
O time alvinegro também reclama que o presidente do banco não poderia ter comentado sobre a inadimplência. Ao fazer isso, teria quebrado a cláusula de confidencialidade do acordo. O presidente da Caixa deu entrevista para Folha e o O Globo confirmando a execução.
"Em termos gerais, a Caixa é um banco estatal, que se tiver garantia e não houver renegociação, tem que executar. Para não executar uma garantia, qualquer que seja, em uma operação em que a Caixa deixou de receber é que é preciso ter uma ótima justificativa", afirmou Guimarães.
Sanchez contesta essa afirmação. Ele alega que o processo de renegociação da dívida se arrasta desde o ano passado. Há um e-mail enviado em 10 de dezembro de 2018 por Daniel Bonavita, superintendente executivo do banco, com a minuta do contrato para uma nova negociação.
O presidente corintiano reconhece que o acordo é informal. O clube aceitou pagar (de maneira extraoficial), cerca de R$ 5,7 milhões de março a outubro e R$ 2,5 milhões entre novembro e fevereiro, meses em que a arrecadação do estádio é menor. Pelo documento anterior, ainda vigente, as parcelas são de aproximadamente R$ 6 milhões.
“Se fosse esse acordo [em negociação], devemos dois meses. Se for o outro [previsto em contrato], devemos desde abril”, afirmou o cartola.
No que depender de seus conselheiros, o Corinthians vai se queixar também que a Caixa teria desrespeitado uma determinação do TCU (Tribunal de Contas da União), que limitou o financiamento da Caixa para o futebol em R$ 400 milhões. O banco autorizou (em decisão contestada na Justiça) a emissão de debêntures pela Odebrecht para pagar a obra. A construtora emitiu R$ 627 milhões em títulos, valor também executado pelo banco.
O clube alega que a arrecadação com o estádio e o pagamento das parcelas do financiamento foi prejudicada pela Copa América, entre junho e julho deste ano. O Itaquerão foi um dos estádios cedidos para o evento com o aval da Caixa.
"Não quero acreditar em perseguição política, são pessoas sérias, é uma Caixa", afirmou Sanchez, que foi deputado do PT.
Ao dizer isso, ele cita um dos assuntos mais comentados por conselheiros corintianos desde a notificação enviada pelo banco: a possibilidade de haver um componente político na cobrança.
São lembrados o convite da diretoria para o torcedor que xingou o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e acabou preso ver o jogo seguinte no camarote da arena, contra o Goiás, em 7 de agosto; o post nas redes sociais com o escudo do clube pegando foto, lembrando as queimadas na Amazônia; e até o fato de Joana Saragoça, secretária de finanças do fundo de investimento que administra o estádio e tem de fornecer os documentos pedidos pela Caixa, ser a filha de José Dirceu, ex-ministro chefe da Casa Civil no governo Lula e condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
A Folha entrou em contato com a assessoria de imprensa da Caixa, mas não recebeu resposta até o momento.
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