Lancellotti emprestou afeto ao formato clássico de programas de culinária

Jornalista fez comida na TV sem as firulas que anos depois fariam deste segmento um dos hits mais rentáveis

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São Paulo

A comida ampliou a popularidade de Silvio Lancellotti na TV, tela que ocupou por meio da TV Gazeta e das redes Manchete, Bandeirantes e Record, além da ESPN –onde o discurso esportista predominava. Nas suas próprias contas, esteve em mais de 5.000 edições de programas de culinária, misturando esporte e comida em boa parte delas.

Era capaz de discorrer sobre campeonato italiano, inglês, brasileiro ou mundial, e até de comentar beisebol, sem perder a mão na receita em ação diante das câmeras. No Dobradinha do Lancellotti, feita para o YouTube já à altura de seus 67 anos, falava de bola ao mesmo tempo em que conversava com o convidado, sempre personagem do futebol, incluindo atletas, ex-atletas, árbitros e dirigentes esportivos, sem perder o ponto. Com frequência, convocava o entrevistado a ajudá-lo no preparo do prato do dia.

Silvio Lancellotti escreveu 12 livros de culinária e apresentou programas no estilo - Francisco i. Sucar/Folhapress

A afinidade com a gastronomia vinha de casa, mais precisamente, do pai, como relatou em entrevista ao UOL em 2019: "Meu pai cozinhava muito bem. Quando comecei a namorar, fazia jantar para a família da minha namorada. Fazia jantares para os amigos da redação da Veja todos os sábados na minha casa. Eu era o cara, porque gostava de esportes e também curtia gastronomia."

No período em que morou nos Estados Unidos, onde estudou com apoio de uma bolsa de estudos, contava que complementava a renda cozinhando para amigos e conhecidos.

Em 1975, foi trabalhar na revista Gourmet. Em 1982, lembrou ter sido convidado a escrever sobre gastronomia na Folha.

Lancellotti se apresentou à frente de programas de culinária em um modelo consagrado por Ofélia Anunciato, que cozinhou diante das lentes da TV Bandeirantes por três décadas, desde 1968, sem as firulas que anos depois fariam desse segmento um dos hits mais rentáveis do gênero de reality show.

Ensinar a cozinhar pela TV é um clássico que até hoje funciona muito bem para a audiência de Ana Maria Braga e companhia, com algumas diferenças marcantes em relação ao auge da era Lancellotti. Naquele tempo, isso era sobretudo uma atividade voltada ao lazer e prazer doméstico, e ele, em especial, sempre fez questão de aguçar o paladar do telespectador como fator aglutinador de amigos e boa conversa.

Já nas duas últimas décadas, antes que os reality shows emprestassem ao tema um caráter de espetáculo, Palmirinha daria ao velho avental uma leitura da culinária como atividade profissional capaz de sustentar o pão de cada dia, principalmente para mulheres que se viam financeiramente desamparadas, como ela, para criar os filhos.

Outros tempos, outra prosa, e outros sabores, hoje mais apegados à sofisticação e aos negócios, e menos interessados no afeto que guiava o tempero do cronista Lancellotti.

E se a cotação de uma personalidade pode ser mensurada por seu potencial em inspirar personagens de humor, Lancellotti pode se vangloriar com dois tipos: o Silvio Lanchonete, feito por Bussunda no Casseta & Planeta, da Globo, e Milton Bolotti, do vanguardista Hermes & Renato, pela velha MTV Brasil, que anunciava os jogadores de uma partida de futebol com nomes que remetiam a pratos italianos.

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