O jornalista Silvio Lancellotti, que morreu nesta terça-feira (13), aos 78 anos, escreveu na Folha em um intervalo superior a 40 anos.
Houve hiatos entre o início dos anos 80, quando publicou textos na Ilustrada, e suas últimas colaborações, em 2012, quando oferecia dicas culturais em São Paulo, mas suas participações foram volumosas e cruzavam vários temas.
Ele se debruçou com maior volúpia sobre aquelas que eram duas de suas maiores paixões, o futebol e a gastronomia. Abaixo, uma seleção com algumas das reportagens e colunas de Lancellotti na Folha.
Senhor das piscinas, mas sempre seco
11.abr.10 - Silvio, pescador de personagens
Nos seus 53 anos de vida, Vitório Raimundo Neto, paulista de Cajuru, molhou a sua pele, em piscinas, apenas duas vezes. A primeira, em 1992, quando visitou com a família, num congraçamento de amigos, um sítio em Ibiúna. A segunda, para enriquecer a foto deste Quintal Paulistano. Nada estranho, não fosse Vitório, desde 1993, um especialista em piscinas.
As relíquias da Santa Donata
21.fev.10 - Silvio, observador da cidade
Dentre a dezena de ambulantes que costumeiramente rodeiam a igreja de Santa Cecília, diante da rua das Palmeiras, há apenas um, vendedor de sorvetes, que jamais se interessou por visitar as relíquias de santa Donata, faz um século entronizada num dos lados da nave principal.
Nem é competição
1º.dez.96 - Silvio, à espera do Mundial da Fifa
Durante toda a semana o meu e-mail ficou congestionado por mensagens de protestos. Inúmeros leitores não aceitam que eu batize a Toyota Cup de mundial simbólico de clubes.
O melhor
17.set.95 - Silvio, admirador do Santos de Pelé
Com a exceção óbvia dos fanáticos do apocalipse, qualquer jornalista da minha geração dirá, sem dúvida, que o Santos de 58 a 63 foi sossegadamente superior a Real Madrid de Alfredo Di Stefano, precisamente de 55 a 60.
Maradona deixa a Itália e diz que não sabe se volta a jogar no Napoli
10.jul.90 - Silvio, entrevistador de Maradona
Foi o tempo de fazer as malas e rumar, direto, do retiro de Trigoria ao aeroporto de Fiumicino. Amanhecia em Roma, e o capitão da Argentina, Diego Maradona, ainda ostentava os olhos vermelhos e inchados de chorar. Ocupava exatamente a primeira poltrona do ônibus da delegação, ao lado da porta. Queria ser visto no trajeto, um derradeiro e vão lampejo do seu brio, o seu orgulho machucado. Graças ao auxílio de um amigo, consegui fazer com ele uma entrevista de balanço.
Alemanha chega ao tri e consagra Beckenbauer
9.jul.90 - Silvio, cronista da Copa de 90
Num jogo muito feio, a Alemanha Ocidental derrotou a Argentina por 1 a 0 e levantou ontem, no estádio Olímpico (Roma), a Taça Fifa do Mundial da Velha Bota. Foi o terceiro título mundial da equipe alemã. O time do "kaiser" Franz Beckenbauer literalmente espremeu o elenco de Carlos Bilardo em seu campo. A lamentar apenas o placar reduzido, produzido com a interferência do juiz, o mexicano Codesal Mendez, que teve uma atuação horrorosa.
Alquimias de Natal
17.dez.89 - Silvio, contador de histórias e amante da boa comida
Com a exceção dos gansos, que os egípcios já domesticavam 4.000 anos atrás, e com a exceção dos patos, que os chineses já criavam no quintal dois ou três séculos antes de Jesus Cristo, as aves domésticas são recentíssimas na culinária e ainda mais na gastronomia.
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