Com um semblante de visível felicidade, Lionel Messi declarou depois da vitória contra a Croácia (3 a 0), que colocou a Argentina na final da Copa do Mundo, que desde a histórica zebra na estreia sua seleção sempre soube o que fazer em campo no Qatar.
Era vencer ou vencer. O capitão do time conta que o grupo se fechou e buscou forças para reagir e ganhar cada uma das finais que teriam, e tiveram, pela frente.
"O grupo é inteligente, sabe sofrer quando tem que sofrer", enalteceu Messi, em elogio aos companheiros e à comissão técnica liderada por seu xará Lionel (Scaloni), que mexeu com competência na equipe durante a Copa ao dar espaço, por exemplo, para a juventude de Enzo Fernández, 21, e Julián Álvarez, 22.
O que se percebeu desde a primeira, e talvez a maior, surpresa deste Mundial –a derrota de virada para a Arábia Saudita– foi uma Argentina aguerrida e muito forte mentalmente, sempre sob a liderança técnica, e mesmo emocional, de seu camisa 10.
Na campanha da seleção brasileira, esses aspectos não ficaram claros em nenhum momento. Não é possível afirmar que o grupo brasileiro não estava unido para tentar conquistar o hexa, porém algumas distrações, com toques de soberba, puseram o foco em questionamento pelos torcedores.
Atletas da seleção estiveram um dia, durante o Mundial, em um restaurante luxuoso de Doha, que serve como um dos pratos, a preço escorchante, carne folheada a ouro. Não pegou bem.
Outro ponto discutível foram as dancinhas, ensaiadas pelos jogadores para a comemoração dos gols. O atacante Raphinha disse no começo da Copa que já estavam preparadas dez performances diferentes.
Um otimismo exagerado, já que o ataque do Brasil engasgou na maior parte do tempo (em quatro dos cinco jogos) e o time deu adeus ao Mundial sem chegar à dezena de gols esperados pelo camisa 11, que passou ele próprio a Copa em branco.
Em relação à liderança, Neymar, o nome da seleção brasileira, seu maior expoente e esperança, ficou devendo, diferentemente de Messi.
Ok, ele se machucou no primeiro jogo e perdeu o segundo e o terceiro. Mas se recuperou, tanto que voltou para os mata-matas, e supõe-se que estivesse 100%, ou perto disso, ou seria temerário ir a campo.
Neymar teve atuação decente contra o saco de pancadas Coreia do Sul nas oitavas, porém, nas quartas, mesmo tendo o mérito de ter marcado o gol do Brasil, pareceu em vários momentos sem disposição, ou sem capacidade física, para ajudar na marcação, para "dar o sangue" pela equipe.
Para completar, nos pênaltis, o melhor batedor do Brasil optou por ficar por último na fila, e nem chegou a bater, já que colegas erraram antes e os croatas acertaram tudo. O líder deveria abrir o caminho para a vitória, ou não?
Na Argentina, pelo que se sabe, não teve nada disso. Nada de restaurante ostentação, nada de comemorações coreografadas.
E Messi, aos 35 anos (cinco a mais que Neymar), correu o tempo inteiro, como se cada jogo fosse o último dele em Copas –e cada um poderia mesmo ter sido.
Já o Brasil atuou contra a Croácia como se não fosse uma final –e sabe-se que todo mata-mata é.
Ficou a impressão de não ter dado tudo e, depois do gol sofrido, de o desânimo ter acometido brutalmente todos que vestiam amarelo, a torcida no estádio inclusive –a queda nos pênaltis, uma disputa que exige mais força mental do que física, seria a consequência lógica.
O Brasil travou, a Argentina disparou, cheia de gana, empurrada incessantemente pela massa azul e branca de torcedores –Van Dijk, capitão da Holanda, disse ter sentido a pressão na disputa de pênaltis.
Exemplo maior da energia e da vontade alviceleste é a arrancada do próprio campo de Julián Álvarez até a área croata, onde disputou a bola com três adversários até ficar com ela e mandar para as redes.
Álvarez começou a Copa na reserva. Entrou na fogueira, encarou as adversidades, fez gols (já são quatro na Copa), firmou-se.
Deu exemplo de raça, foco, seriedade e determinação, algo que no futebol os argentinos parecem ter em doses cavalares e os brasileiros, em doses escassas.
Exemplo esse que fica para a (próxima) seleção brasileira.
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