Substituto de Onana, goleiro de Camarões contra o Brasil viveu reviravolta e também já foi afastado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Santos

O goleiro camaronês Devis Epassy, 29, carregava bem poucas perspectivas no futebol ao final da temporada 2016/17.

Aos 24 anos, ele estava cansado. Jamais havia jogado em uma divisão de elite –e vinha de poucas oportunidades pelo modesto SAS Epinal, na National 1, o terceiro patamar do futebol francês.

Foram 19 partidas na reserva e outras sem sequer ser relacionado das 36 disputadas pela equipe no período.

O agente do jogador lhe sugeriu então uma proposta inusitada: buscar uma reviravolta longe da França, no modesto Levadiakos, da Grécia, que disputaria a primeira divisão com um novo treinador, o francês José Anigo, apontado como responsável pelo desabrochar do marfinense Didier Drogba no Olympique de Marselha, em 2003.

Goleiro Devis Epassy, titular de última hora em Camarões, salta para defender chute Mitrovic no empate em 3 a 3 com a Sérvia, no estádio Al Janoub, em Al Wakrah, no Qatar - Jennifer Lorenzini - 28.nov.22/Reuter

A cartada certeira mudou o rumo da carreira de Epassy.

O goleiro será titular de Camarões na partida desta sexta-feira (2) diante da seleção brasileira, às 16h (de Brasília), pela última rodada da fase do Grupo G da Copa do Mundo.

"Lembro que chegou como terceiro goleiro, já havia passado por muitas dificuldades na França. Ele enxergou a Grécia como uma oportunidade de mudar. Recebia muito pouco antes, então fazia treinos extras e era muito esforçado. Foi ganhando confiança e hoje mostra o goleiro que é", conta à Folha o meia brasileiro Chumbinho, antigo companheiro do camaronês.

Epassy vive no Mundial uma espécie de dèjá vu da reviravolta na Grécia. Ele ganhou espaço após um inesperado problema envolvendo o titular André Onana, titular da seleção e da Inter de Milão. Até então, tinha somente cinco partidas pelo país.

O técnico Rigobert Song avisou o goleiro poucas horas antes do empate por 3 a 3 com a Sérvia, na última segunda-feira (28), em conversa já no hotel Banyan Tree, localizado em Msheireb, na região central de Doha, que Onana seria afastado por "motivos disciplinares".

"Num grupo há que respeitar as regras, prefiro preservar o grupo do que as individualidades", explicou Song, logo ao final da partida.

Onana respondeu depois, em um comunicado, garantindo que "sempre se comportou de forma adequada", mas deixou a delegação no Qatar. Mesmo com três gols sofridos, a estreia foi elogiada pelo treinador.

"Ele mostrou hoje que pode ser rival do André", avaliou Song.

Na Grécia, apesar da primeira temporada de redenção, com 26 jogos como titular e até uma assistência para um gol, sofreu na temporada seguinte justamente com um afastamento.

Após nove jogos como titular, o goleiro foi repentinamente encostado por dirigentes do clube por não aceitar a proposta de renovação contratual.

"Éramos muito próximos. Ele me contou que rejeitou uma proposta para renovar por cinco anos e o presidente o puniu por isso. O Epassy tinha uma oferta do Olympiacos, mas nem quiseram ouvir", conta o zagueiro brasileiro João Francisco Fávaro, também companheiro no Lavadiakos.

Meses antes de o Olympiacos oficializar interesse, a atuação decisiva de Epassy para assegurar o empate por 1 a 1 desestabilizou o principal clube do país.

O presidente do Olympiacos na ocasião, Evangelos Marinakis, também dono do Nottingham Forest, da Inglaterra, concedeu férias antecipadas aos jogadores e aplicou uma multa de 400 mil euros ao grupo (R$ 1,6 milhão à época) pelo mau resultado. O tropeço custou as últimas chances no campeonato local.

Ao final da segunda temporada pelo Levadiakos, o goleiro se transferiu para o Lamia e, depois, passou pelo OFI, ambos da Grécia. Neste ano, acertou com o Abha Clube, da Arábia Saudita.

"O Epassy era um cara de ótimo convívio. Estava sempre muito próximo dos franceses, mas também gostava dos brasileiros. No afastamento, me chamou atenção que ele tinha um tom otimista até demais: ‘fica tranquilo, João, tudo vai melhorar na minha vida’. Eu o questionava sempre por estar sem jogar", lembra João Francisco.

Na equipe, além do defensor e do meio-campista Chumbinho, também atuou com o atacante Brandão, com longa passagem pelo futebol francês e pelo Shakhtar Donetsk, da Ucrânia.

Após estrear na Copa, perguntado sobre a ausência de Neymar, ele minimizou: "Neymar é um ótimo jogador. Não sei se vai jogar e, honestamente, não ligo. Estamos focados em nós".

Apesar da titularidade por Camarões, a opção pelo país foi uma espécie de homenagem aos familiares, camaroneses –mais especificamente ao pai, que também tentou ser jogador.

Epassy nasceu em Soisy-sous-Montmorency, pequeno distrito francês de 17 mil habitantes a poucos quilômetros de Paris, e possui residência até hoje na capital francesa.

"É curioso que fiquei sabendo que era camaronês só quando foi chamado pela primeira vez. Foi uma boa surpresa", acrescenta João.

Ele espera ajudar o país agora a retornar à segunda fase de um Mundial, feito que não ocorre desde a Copa de 1990, na Itália, quando os camaroneses terminaram na sétima colocação.

Para isso, Camarões precisa vencer os brasileiros e torcer para que a Suíça não vença a Sérvia em confronto simultâneo no estádio 974.

Em dois encontros entre os países até aqui em Copas, em 1994 e 2014, duas goleadas brasileiras: 3 a 0 e 4 a 1, respectivamente.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.