Descrição de chapéu Pelé, o Edson

Mausoléu de Pelé foi projetado há mais de quatro anos e teve aval do Rei

O espaço ainda não foi aberto ao público para visitas, mas desperta curiosidade

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Santos

O empresário argentino José Salomon Altstut, conhecido como Pepe Altstut, não sabia bem como dizer a Pelé que havia encomendado um projeto para homenageá-lo após a sua morte. Era 18 de dezembro de 2018.

Proprietário do cemitério vertical Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, Altstut já havia dado ao ex-jogador em 2003 um lóculo para a sua família –onde hoje estão o pai, Dondinho, e o irmão Zoca– e recorreu 15 anos depois ao artista plástico espanhol Hugo Garcia para uma despedida a altura do Rei do futebol.

Recebeu com bom humor o aval do amigo pessoal desde 1970 para a construção do espaço.

"Fiz o projeto e o seu Pepe gostou na hora, mas disse que ainda era segredo. Ele estava sem jeito de falar ao Pelé sobre isso. Quando contou, o Pelé levou numa boa e ainda fez piada: ‘só não vem me pedir autógrafo lá, tá? Quero descansar’", disse Garcia à Folha.

O mausoléu onde está o corpo do Rei do futebol, sepultado na última terça-feira (3), foi planejado há pouco mais de quatro anos e montado ainda em 2020 –durante a pandemia da Covid-19. Posteriormente, trancado a sete chaves.

Projeto e detalhes do mausoléu de Pelé, no cemitério Memorial Necrópole Ecumênica
Projeto e detalhes do mausoléu de Pelé, no cemitério Memorial Necrópole Ecumênica - Hugo Garcia/Arquivo Pessoal

O espaço de 200 m² ainda não foi aberto ao público para visitas, mas desperta enorme curiosidade. Inicialmente, jornalistas puderam fazer registros somente da porta que dá acesso ao local, com duas estátuas em tamanho real do ex-jogador.

As obras na entrada medem 1,73 m cada, pesam 130 quilos e foram esculpidas em latão por Hugo Garcia. Elas são parte de seis encomendadas de Pepe Altstut antes de morrer em 25 de março de 2021, após complicações da Covid-19. Ele não viu a última homenagem ao amigo.

O projeto inicial de Altstut com Garcia era ainda mais audacioso: confeccionar 1.282 estátuas de Pelé, número de gols que marcou na carreira (o total de vezes que o Rei balançou as redes é alvo de debates), e espalhá-las ao redor do mundo. A pandemia esfriou a ideia.

"O seu Pepe queria fazer um trabalho faraônico: mais de mil estátuas pelo mundo. Mas veio a pandemia e teríamos uma longa negociação com a Pelé Company, então o projeto acabou readequado", conta o artista.

Dentro do mausoléu, todo coberto no piso por um gramado sintético simulando um campo de futebol, há imagens de torcedores adesivados pela parede.

O túmulo é revestido por placas com alumínio dourado espelhado e quatro painéis confeccionados por Garcia com uma mistura de fibra de vidro com pó de bronze. Dois retratam um gol de Pelé e outros dois a famosa comemoração com um soco no ar.

Nos quatro cantos do túmulo, do mesmo material, há cantoneiras. Elas possuem diversas formas: iniciam com o planeta Terra no topo e tem detalhes como a taça Jules Rimet, uma coroa e uma camisa com o número dez. Terminam sobre uma bola de futebol.

Além delas, há um céu reproduzido acima e acabamentos em mármore de Carrara. Dentro do mausoléu, uma camisa da seleção brasileira e outra do Santos.

As estátuas também foram colocadas no espaço destinado aos jornalistas que trabalharam na cobertura. Segundo o Santos Futebol Clube, foram 1.120 profissionais de 31 países envolvidos.

A confecção de cada uma delas demora, em média, uma semana e tem custo de R$ 70 mil somente para a fundição –além do valor previamente acertado pelo trabalho com cada artista plástico.

A confecção

O procedimento utilizado por Garcia para confeccionar as estátuas é chamado de cera perdida, técnica escolhida para peças mais leves ou com maior riqueza de detalhes. Apesar do peso total, as estátuas são ocas.

A produção é iniciada com o modelo esculpido em argila, com base em referências de fotos e pesquisa.

A partir deste modelo, são feitos moldes em silicone, que copiam fielmente os detalhes da escultura. Eles são divididos em diversas partes, já que o forno não comporta o tamanho real, de 1,73 m.

Depois disso, é pincelada a camada de aproximadamente quatro milímetros de cera criando uma espécie de negativo.

Sobre a cera é despejado um composto de bentonita, pó de carvão, gesso, água e outros elementos que reproduzem de forma rígida a estrutura a ser fundida. Levado a 500ºC, somente a cera derrete e deixa espaço para o latão.

O latão é derretido a 1.300 graus e despejado, preenchendo todos os espaços para a formação da peça.

"Ganhei a confiança do Pelé porque fizemos uma amostra, uma estátua que está lá na casa dele, no Guarujá", relata

O artista já possui outras quatro estátuas de Pelé e anunciou que venderá em breve para interessados. Ele também abrirá espaço para visitação em seu ateliê, localizado no município de Lagoinha, no interior de São Paulo.

"Minha ideia é fazer para Lagoinha um segundo ponto turístico no mês. Receberei turistas para conhecer minhas obras e desfrutar do meu restaurante", explica.

Hugo Garcia também é o autor da famosa estátua do Rei no canal 5, em frente à padaria A Santista, conhecido reduto de torcedores santistas. A obra é mais antiga, inaugurada em 2011.

Além disso, o artista também tem outros monumentos de esportistas famosos, como a do atleta João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, em Pindamonhangaba, de 8 m de altura.

Em Santos, no ginásio Arena Santos, é o autor da escultura com os bustos dos ex-pugilistas Éder Jofre, Miguel de Oliveira e Acelino Popó Freitas, campeões mundiais. Seu pai, Luis Garcia Jorge, tem dezenas de produções espalhadas por Santos.

O Memorial ainda não divulgou oficialmente quando abrirá o local para visitação do público.

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