Descrição de chapéu Pelé, o Edson

Pelé foi personagem cercado de mitos e histórias inusitadas

Craque era de carne e osso, mas não como os outros, algo que zagueiros, mulheres e líderes mundiais notaram

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Luís Colombini

Em 21 de junho de 1970, ao entrar em campo para enfrentar o Brasil na final da Copa, o zagueiro italiano Tarcisio Burgnich ainda tentava se convencer que era possível segurar Pelé: "Ele é de carne e osso como todos os outros", repetia para si mesmo.

Àquela altura, em quase 950 partidas como profissional, Pelé já havia feito 1.029 dos 1.283 gols que marcaria até o final da carreira. Carregava a aura de uma lenda que conseguia tabelar na perna do adversário e chapelar quatro sem deixar a bola cair antes de mandar para a rede.

O resultado, hoje todos sabem: o Brasil fez 4 a 1 na Itália e sagrou-se tricampeão mundial. Ao sair de campo, Burgnich, rendeu-se: "Eu estava errado". Pelé podia até ser de carne e osso. Mas não era como os outros.

Mesmo o Pelé de carne e osso era perpassado por lendas. Há amigos que reclamavam (uns em tom de brincadeira, outros nem tanto) que não dava para ir com ele a casas noturnas ou de entretenimento adulto. O Rei monopolizava as atenções. As mulheres só queriam saber dele, dizia um antigo parceiro de farra.

Se gostasse do que via, o ex-jogador dificilmente perdia o lance. Só não partia para o abraço se estivesse em impedimento —no caso, se atravessasse uma linha ética que traçara para si mesmo: se fosse casada ou virgem, nada feito. Por mais interessado que estivesse, Pelé deixava a bola passar.

Quando visitava o Rio de Janeiro, ele costumava se hospedar na casa do empresário Alfredo Saad. Ali, conheceu, no mesmo dia do início da década de 1980, duas das mulheres mais cobiçadas da época, as modelos Xuxa Meneghel e Luiza Brunet.

Xuxa foi uma das que se encantaram por Pelé - Acervo - 1986/Folhapress

Encantou-se por Brunet. Na hora, convidou-a para ir a um show de Gal Costa naquela noite. Ela disse que não podia, o marido ia buscá-la. Xuxa agiu rápido e se convidou para ir junto, segundo Pelé contou ao jornalista Juca Kfouri em entrevista à revista "Playboy", publicada em agosto de 1993.

"Pensei que não era legal, que a Xuxa era muito menina. Bati um papo com ela e ficou ainda pior, porque me contou que era virgem", disse. Nada feito, portanto.

Mais tarde, com a questão impeditiva resolvida, os dois voltaram a se encontrar. Viraram amigos, apaixonaram-se, namoraram firme, cogitaram morar juntos.

Quando Xuxa começou a trabalhar na TV, o rei passou a defender a honra de sua dama. "Quem trabalha com crianças precisa se cuidar", ponderava.

Por iniciativa própria, recolheu negativos de fotos em que Xuxa aparecia nua. Ligou pessoalmente para os donos das editoras Abril e Bloch, pediu a fotógrafos que lhes entregasse copiões e ampliações. Recebeu malas de fotografias e as entregou a Xuxa. Se o que realmente o motivou foi um enorme senso prático ou ciúme de carne e osso, nunca se saberá. Talvez os dois.

Com seu prestígio, Pelé resolvia qualquer problema e abria qualquer porta. Certa vez, ao passar pela alfândega nos EUA, se deu conta de que perdera o passaporte. Possivelmente o usou como apoio para dar um autógrafo e, sem perceber, entregou o documento com o papel. Explicou a situação ao fiscal, que o liberou, após pedir um autógrafo para os filhos.

Da mesma forma, sem apresentar um único documento, ele circulou pelos bastidores do Vaticano para se encontrar com o papa.

Pelé parava qualquer ambiente. Numa visita ao governo japonês, integrou uma comitiva com Mikhail Gorbachev e Brooke Shields.

Gorbachev protagonizara a reforma política e econômica na ex-União Soviética. Atriz de Hollywood, Shields era uma das mulheres mais lindas do mundo.

Os organizadores do evento tiveram de pedir a Pelé que não saísse do lado dos dois. "Senão ninguém fica com eles", justificaram-se.

Certa vez em Nova York, o Rei levou sua filha Kelly à estreia do filme "O Beijo da Mulher Aranha", com Sonia Braga e William Hurt, de quem Kelly era uma fã ardorosa. Após a sessão, veio o coquetel e a chance de Pelé e Kelly serem apresentados ao ator.

Assim que se viu diante do Rei, Hurt se ajoelhou e beijou seus pés, repetindo "Eu te adoro, eu te adoro".

Hurt podia ser o ídolo de Kelly e de muitos fãs de teatro e cinema, mas o pai dela era o ídolo de todo o mundo.

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Luís Colombini é jornalista e escritor. Trabalhou nas revistas Veja, Você S/A e Forbes. É autor de Aprendi com meu pai e das biografias de Gustavo Kuerten e Mauricio de Sousa, além do livro infantil Abacaeacó.

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