Messi reaviva debate sobre melhor da história, mas parâmetro é sempre Pelé

Como ocorre com Di Stéfano, Eusébio, Cruyff, Maradona e Cristiano Ronaldo, Rei serve como base de comparação

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São Paulo

O técnico espanhol do Manchester City, Pep Guardiola, declarou após a Copa do Mundo que Lionel Messi é o melhor jogador de todos os tempos. Com todas as ponderações. "Quem viu Pelé, Maradona ou Di Stéfano pode escolher seu favorito. Há abordagens com teor sentimental. Eu já disse que é difícil entender como um jogador compete, como ele, nos últimos 15 ou 17 anos. Para mim, Messi é o melhor", disse.

Pelé competiu em altíssimo nível, como Guardiola afirma ver Messi fazer, por 20 anos, entre 1957 e 1977. Ouviu comparações com Di Stéfano, Eusébio, Cruyff, Maradona, Cristiano Ronaldo e Messi.

Há 65 anos, quando se quer elevar alguém ao nível mais alto, o contraponto é sempre Pelé.

Messi, Pelé, Cristiano e Maradona; debate sobre os melhores da história do futebol cresceu após a Copa - Franck Fife/AFP, Bruno Santos/Folhapress, Alberto Pizzoli/AFP e Daniel Garcia/AFP

Ao colocar dois argentinos na lista, além de Pelé, Guardiola permite relembrar uma antiga e preconceituosa piada sobre a suposta arrogância de nossos vizinhos. "Maradona é o melhor jogador de todos os tempos... E um dos melhores da Argentina."

Quer dizer que, há décadas, eles não resolvem qual foi o melhor da história de seu próprio país.

Em 1999, o ponta-esquerda Felix Loustau, do River Plate da década de 1940, apelidado La Máquina, disse: "Maradona é muito bom, mas muito distante de Pelé e de José Manuel Moreno".

Moreno foi o meia-direita daquele River, o melhor de todos os futebolistas argentinos na opinião de muitos que o viram em ação.

"Nós, argentinos, somos os únicos a discutir isso. Maradona foi Maradona, hoje é Messi. Scaloni diz que é o melhor de sempre. É o melhor da história de Messi. Antes, houve Cruyff, Di Stéfano, Pelé, Maradona. São ciclos. O que mais Scaloni poderia dizer? Messi é seu jogador", disse Mario Kempes, campeão de 1978, ao diário espanhol El País.

Maradona levanta taça da Copa do Mundo em 1986 (à esq.), e Messi levanta a taça de 2022 - 29.jun.1986/Xinhua/FEP/Panoramic/Zumapress e Carl Recine - 18.dez.2022/Reuters

Levar a batalha para os números tampouco elimina as divergências. Os europeus descartam os amistosos das estatísticas. Recentemente, o total de jogos e gols em partidas oficiais de Cristiano Ronaldo e Messi ultrapassou o de Pelé. Segue o argumento de que, em outra época, sem contratos por transmissões de TV, os amistosos eram fonte de receita do Santos, o que explica o Rei ter marcado 516 vezes nessas partidas.

No Qatar, Cristiano se tornou recordista mundial de jogos e gols por seleções nacionais. Messi detém o recorde sul-americano. Pelé marcou 767 vezes em 818 compromissos oficiais, média de 0,94, superior à de Messi (0,79) e à de Cristiano Ronaldo (0,71).

Mesmo comparando só as partidas de competições reconhecidas pelos europeus, o Rei é superior.

Messi se tornou o atleta com mais jogos (26) e vitórias (16) em Copas do Mundo. Ultrapassou Pelé em gols marcados em Mundiais, 13 a 12. Continua atrás em média, porque Pelé anotou 12 vezes em apenas 14 partidas.

Mbappé está igualzinho ao Rei nesse critério.

Messi e Maradona têm o recorde de passes para gols em Mundiais, oito cada um. Pelé deu seis, pela história oficial, que só cataloga assistências a partir de 1966. O Rei deu duas na Copa de 1958, ambas para Vavá marcar.

Há outro elemento complicador nessa disputa: o avanço da tecnologia. As chuteiras, as bolas, os gramados e os uniformes são melhores, e a televisão joga a favor dos que atuam hoje.

A manchete do diário francês L’Equipe, no dia seguinte ao tricampeonato da seleção brasileira, em 1970, dizia: "Brasil e Pelé invencíveis!". A admiração pelo Rei estava estampada na primeira página. O mesmo jornal concedeu a Pelé o título de Atleta do Século, em 1980, 20 anos antes da virada do milênio.

A admiração era tão gigante naqueles dias quanto ficou o apreço por Lionel Messi ao fim do Mundial de 2022.

Ninguém viu Pelé e Maradona em campo todas as semanas. A Série A da Itália tinha um jogo transmitido por semana para a América do Sul. Se Maradona jogasse mal num domingo qualquer, alguém poderia argumentar que jogou bem na semana anterior. Provavelmente sem transmissão de TV.

O recorde de público da Vila Belmiro é de 33 mil espectadores, num jogo em que a arquibancada desmoronou por superlotação, em 1964. Se Pelé marcou 288 vezes no estádio do Santos, dá para deduzir que pouca gente viu o Rei em ação todas as semanas. Messi joga em alto nível quase toda quarta e todo domingo desde 2005, com televisão ao vivo para o mundo inteiro.

As transmissões poderiam ser uma desvantagem, por mostrar que também joga mal. Ao contrário, é raro ver Messi com atuação ruim. Estamos, aqui, falando só dos raros.

O argentino campeão mundial de 2022 é o primeiro da história a fazer gols na fase de grupos, nas oitavas, nas quartas, nas semifinais e na final. Não marcou contra a Polônia e não igualou Jairzinho, autor de gols de todas as partidas da Copa de 1970, como o uruguaio Ghiggia (1950), o húngaro Sarosi e o sueco Nyberg (1938).

Não havia oitavas de final nas Copas com 16 participantes. A partir da próxima edição, serão 48 seleções por Mundial.

Para ver como os tempos mudam.

Messi começou a carreira no Barcelona com a camisa 30 e ganhou a Champions de 2006 com a 19, a mesma usada em sua primeira Copa do Mundo. Quando Guardiola assumiu o Barça, dispensou Ronaldinho e entregou ao argentino o manto número 10.

Por que não lhe deu a 9 azul e grená, vestida por Cruyff, ou a 14? O mito holandês, gênio do espaço, foi inspiração para Pep escalar Messi de falso centroavante.

Por que não lhe ofereceu a 7, já que jogava pela direita?

Por que o número 10?

Até Guardiola, sem perceber, reverenciou Pelé.

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