Descrição de chapéu Folhajus

Pressionado, Cuca deixa o Corinthians após duas partidas

Entrevista concedida por advogado de vítima de estupro tornou permanência insustentável

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São Paulo

Durou menos de uma semana e duas partidas a passagem de Cuca pelo Corinthians. Diante da renovada repercussão do caso de violência sexual registrado em 1987, na Suíça, com condenação do paranaense, a diretoria do clube do Parque São Jorge se viu obrigada a rescindir seu contrato pouco após a assinatura.

O anúncio da saída foi feito pelo próprio treinador já na madrugada desta quinta-feira (27), horas depois de o time alvinegro avançar para as oitavas de final da Copa do Brasil, superando o Remo, nos pênaltis.

"Foi quase um massacre o que acabou acontecendo", afirmou o treinador em um breve pronunciamento, sem permitir perguntas. "Eu saio neste momento, mas não é porque eu queira. Se espera uma vida inteira para estar aqui. Mas é um pedido da minha família."

"O que estou passando, e quero ser bem breve, porque não quero ser vítima de nada, é a pior coisa que um homem pode passar. Quando está em xeque a dignidade dele. Quando invade as redes sociais das filhas e mulher com ameaças e ofensas descabidas", acrescentou o treinador. "Se Deus quiser, um dia eu volto."

Cuca, em sua apresentação no Corinthians, na qual disse que a vítima de 1987 não o reconheceu como agressor; o advogado dela afirmou o contrário - Rodrigo Coca - 21.abr.23/Ag. Corinthians

Em sua apresentação, na última sexta-feira (21), sob protestos, o treinador de 59 anos se disse inocente no episódio e afirmou que a vítima, uma menina que à época tinha 13 anos, não o reconheceu como um dos agressores. Nesta terça (25), no entanto, o advogado que a representou refutou essa versão.

"A garota o reconheceu como um dos estupradores", afirmou o suíço Willi Egloff ao UOL. Aí, a pressão, que já era grande em torno do presidente alvinegro, Duilio Monteiro Alves, e do próprio técnico, tornou-se insustentável. Em nota publicada à noite, a agremiação anunciou o fim do acordo. Não havia multa rescisória estabelecida.

Alexi Stival, o Cuca, enfrentou enorme rejeição de boa parte da torcida do Corinthians desde o acerto. Até a identificação com o arquirrival Palmeiras –time para o qual o ex-jogador sempre disse torcer e com o qual foi campeão brasileiro– ficou em segundo plano diante do episódio de 36 anos atrás, em Berna.

O caso se deu quando o então meia tinha 24 anos e havia acabado de chegar ao Grêmio, que fazia uma excursão pela Europa. Ele, o goleiro Eduardo, o zagueiro Henrique (que depois teria longa passagem pelo Corinthians) e o atacante Fernando foram detidos em hotel em Berna, acusados de violência sexual contra uma garota.

Liberados ao fim da fase de instrução do processo, voltaram ao Brasil. No julgamento, concluído em 1989, Cuca teve sentença de 15 meses de prisão e pagamento de US$ 8.000, mesma pena aplicada a Henrique e Eduardo. Fernando foi considerado apenas cúmplice do ato e condenado a três meses de prisão, com multa definida em US$ 4.000.

Cuca não foi à Suíça para se defender nem para cumprir a pena estipulada para o crime, que prescreveu. O caso teve repercussão, mas esfriou, não foi grande empecilho para a carreira de Stival como meia e, até pouco tempo atrás, não atrapalhou sua trajetória como técnico. Foi só nos últimos anos, na esteira de transformações da sociedade, que o episódio ressurgiu.

O treinador, apresentado enquanto um grupo de cerca de 200 torcedoras e torcedores pediam sua saída na porta do centro de treinamento alvinegro, disse estar alinhado a essas transformações. Afirmou que deseja um mundo melhor para suas filhas e sua mulher. E declarou inocência, apontando que a vítima não o havia reconhecido como um dos criminosos.

A entrevista do advogado que representou a menina e sua família, no entanto, acabou por enfraquecer a versão exposta na semana passada. Willi Egloff lembrou ainda que exames forenses apontaram vestígios de sêmen de Cuca no corpo da garota, conforme noticiado à época pelo jornal Der Bund, de Berna.

Duilio, então, resolveu manter o comando técnico alvinegro ao menos até a importante partida desta quarta-feira (26), contra o Remo, pela Copa do Brasil. Derrotado por 2 a 0 no jogo de ida, o Corinthians devolveu o placar na Neo Química Arena e avançou às oitavas de final após vencer a disputa de pênaltis.

A pressão, porém, atingiu um nível que tornou a possibilidade de Cuca continuar no clube inviável e próprio técnico afirmou que partiu dela iniciativa de sair do Corinthians.

O comandante informou que contratou dois advogados para tentar provar que é inocente. "Contratei o doutor Daniel Bialski, criminalista, a doutora Bia, que vão fazer todo o trabalho que eu nunca pude fazer. Agora vai ser feito. Quem fala coisas indevidas também, quem julga também pode ser julgado", disse ele.

Após o pronunciamento de Cuca, o presidente do Corinthians também se pronunciou. "São os novos tempos, vamos dizer assim. Não quero entrar no mérito agora, mas acho que foi um exagero, um massacre em cima dele e do Corinthians, em cima de mim também... Ele infelizmente não tem condições de seguir. O Corinthians é gigante, todos nós sabemos. Ficamos feliz com a vitória de hoje e triste por perder um profissional desse gabarito", disse Duílio, que não prometeu conseguir encontrar um novo comandante antes do clássico contra o Palmeiras, no sábado (29), pelo Campeonato Brasileiro.

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