Times franceses punem jogadores que recusaram campanha anti-homofobia

Atletas deveriam usar camisas com detalhes nas cores do arco-íris, da bandeira símbolo da luta pelos direitos LGBTQIA+

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Toulouse (França)

Dois times da França puniram jogadores que se recusaram a participar da Jornada Internacional contra a Homofobia, no último final de semana, quando atletas da primeira e segunda divisões entraram em campo com uniformes que traziam referências à bandeira do arco-íris, símbolo global da luta pelos direitos das pessoas LGBTQIA+. Na França, homofobia é crime.

O Toulouse, vencedor da Copa da França há duas semanas, e o Nantes, vice-campeão do mesmo torneio, enfrentaram-se novamente no último domingo (14) com desfalques em seus times por causa da iniciativa que visa combater a homofobia fora e dentro dos campos.

No Toulouse, o marroquino Zakaria Aboukhlal, o holandês de origem sérvia Said Hamulic e o malês Moussa Diarra ficaram fora da escalação por terem se recusado a vestir o uniforme com o arco-íris. No Nantes, foi o egípcio Mostafa Mohamed que deixou de entrar em campo pelo mesmo motivo.

Cartaz mostra símbolo da Ligue 1, primeira divisão do futebol francês, com as cores do arco-íris - Clement Mahoudeau - 14.mai.23/AFP

A recusa desses jogadores acabou roubando a cena de uma campanha anual da Liga de Futebol Profissional da França que teve ampla adesão na rodada, quando estrelas como Kylian Mbappé e Lionel Messi entraram em campo com camisas decoradas com grandes numerais estampados com o arco-íris.

Juízes, bandeirinhas e treinadores também participaram com braçadeiras com as cores da bandeira LGBTQIA+. E, antes de cada partida, jogadores posaram diante de faixas com a mensagem: "Homo ou hétero, nós usamos todos a mesma camisa".

Ainda no domingo, o Toulouse justificou a escalação pelo fato de alguns atletas terem expressado "seu desacordo com a associação de sua imagem com as cores do arco-íris que representam o movimento LGBT".

O clube, no entanto, correu para descolar sua imagem da escolha de alguns de seus atletas. Ao destacar que seu time profissional é composto por jogadores de "18 nacionalidades e 5 continentes", como indicativo de que "a abertura para o mundo é parte integrante do DNA" do Toulouse.

"Nossos jogadores são escolhidos por suas qualidades humanas, independentemente de suas crenças ou convicções", afirmou a nota, que reiterava o compromisso do time "com a luta contra a homofobia e todas as formas de discriminação".

Ainda no domingo, Aboukhlal publicou nota numa rede social para explicar sua decisão.

"Antes de mais nada, quero enfatizar que tenho a maior consideração por cada indivíduo, independentemente de suas preferências pessoais, gênero, religião ou formação", escreveu ele no Twitter.

"O respeito é um valor que tenho em alta conta. Ele se estende aos outros, mas também inclui o respeito a minhas próprias crenças pessoais. Portanto, não acho que eu seja a pessoa mais apropriada para participar dessa campanha", explicou, antes de expressar o desejo de que sua "decisão seja respeitada, assim como [seu] desejo de que todos sejam tratados com respeito".

Não foi suficiente. A ministra do Esporte e dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, Amélie Oudéa-Castéra, declarou que a recusa de certos jogadores em participar do movimento contra a homofobia havia sido "profundamente lamentável".

"É uma mensagem simples de não discriminação. Do que estamos falando?", reclamou ela durante entrevista à France 3, antes de pedir que os clubes assumissem suas responsabilidades e sancionassem os jogadores envolvidos.

Na segunda-feira (15), o Nantes anunciou que Mohamed seria alvo de uma sanção "financeira, mas não esportiva", e que o valor em questão, não revelado, seria doado para a associação "SOS Homofobia".

Já o Toulouse só tomou medidas nesta terça (16), e apenas contra Aboukhlal, forçadas por denúncias noticiadas na véspera de que o jogador teria feito um comentário misógino à secretária de Esportes da Prefeitura de Toulouse, Laurence Arribagé, durante a solenidade de comemoração do título da Copa da França.

Na ocasião, segundo a rádio RMC Sport, Arribagé teria repreendido Aboukhlal, que estaria falando alto demais durante os discursos oficiais, ao que o jogador teria respondido: "No meu país, mulheres não falam assim com homens".

O jogador é de Marrocos, país cuja seleção esteve nas semifinais da Copa do Mundo e cujas comemorações da torcida em território francês ao longo do torneio levaram a conflitos com forças de segurança, semeando discursos de contorno xenófobo na França.

"À luz das graves alegações publicadas pela RMC Sport contra o jogador do Toulouse Football Club, Zakaria Aboukhlal, o clube anuncia que seu jogador treinará longe do grupo profissional até segunda ordem, enquanto aguarda os resultados de uma investigação interna. O clube não fará nenhum outro comentário até a conclusão da investigação", afirmou o TFC em nota, nesta terça.

A Jornada Internacional contra a Homofobia é uma campanha anual que ocorre há cinco anos e já foi alvo de polêmicas em outros anos, mas não com a repercussão atual.

O ex-jogador Yoann Lemaire, presidente da Associação Foot Ensemble, e primeiro jogador francês a assumir publicamente sua homossexualidade, em 2014, celebrou o resultado da campanha. Ao mesmo tempo, reconheceu ao diário Le Monde que a Liga de Futebol Profissional da França "subestimou o problema".

"Esperávamos que um certo número de jogadores não quisesse jogar com essa camisa, mas encontramos vários neste ano."

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