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Mordaça chinesa

Liberdade de imprensa sofre duro ataque com prisão de jornalistas em Hong Kong

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Editor trabalha na última edição do Apple Daily, jornal de Hong Kong crítico ao regime de Pequim - Tyrone Siu/Reuters

O esforço da China para garrotear as liberdades civis em Hong Kong produziu mais um capítulo abominável nesta semana. Na terça (22), seis editores e diretores do extinto jornal pró-democracia Apple Daily se declararam culpados por conluio com forças estrangeiras perante a Suprema Corte da ilha.

Expediente típico de regimes ditatoriais, a admissão forçada foi a solução desesperada encontrada pelos jornalistas para tentar atenuar as penas de uma acusação que, segundo a lei de segurança implementada no território, pode levar a uma absurda prisão perpétua.

Os ex-funcionários do jornal disseram ter apoiado, ao lado do magnata Jimmy Lai, dono do Apple Daily e crítico do regime comunista chinês, pedidos de sanções e bloqueios econômicos de outros países contra a China entre julho de 2020 e junho de 2021. Parte do grupo deve ainda depor contra o próprio Lai, cujo julgamento deve começar no próximo mês.

Introduzida em Hong Kong em 2020 como resposta à tormenta política desde o ano anterior, a lei de segurança interferiu no sistema judicial e implantou uma polícia política na região —tornando letra morta o acordo que garantia a autonomia do território.

A despótica norma criou os crimes de subversão, secessão, conluio com forças estrangeiras e atos terroristas, que foram amplamente definidos para tornar toda forma de oposição ao regime passível de penas pesadas de prisão.

Em 2021, a ditadura desferiu seu golpe mais vistoso, forçando o fechamento do Apple Daily, um periódico que desde 1995 vinha se notabilizando pela defesa da democracia, bem como por denunciar a repressão e a perseguição chinesa contra manifestantes e dissidentes.

O grau de cerceamento à mídia imposto pela China pode ser medido pela evolução da ilha no ranking de liberdade de imprensa da ONG Repórteres Sem Fronteiras. No curto espaço de 20 anos, Hong Kong passou do 18º lugar para o 148º —tendo perdido nada menos que 68 posições de 2021 para 2022.

A tirania de Pequim vem conseguindo prejudicar até o ambiente de negócios do território. Analistas apontam uma fuga de cérebros nos últimos dois anos, quando cerca de 200 mil honcongueses e estrangeiros deixaram a região.

Pelo visto, não será simples para o regime repetir em Hong Kong a perigosa fórmula de repressão e prosperidade que, ao menos até agora, tem funcionado na China.

editoriais@grupofolha.com

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