Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Paris-2024 aposta em centro aquático com madeira e energia renovável como vitrine sustentável

Instalação em Saint-Denis é a única inteiramente construída para as Olimpíadas

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Paris

Com a promessa de realizar as Olimpíadas "mais verdes de todos os tempos", a organização dos Jogos de Paris-2024 aposta em um centro aquático com arquitetura em madeira e energia renovável como vitrine sustentável.

A instalação é a única inteiramente construída para a competição e ficará de legado, ao término das Olimpíadas, para a população de Saint-Denis (ao norte de Paris), onde uma em cada duas crianças de até 12 anos não sabe nadar, de acordo com as autoridades locais.

A imagem mostra um edifício moderno com um design curvo e linhas horizontais. A estrutura é composta por materiais que parecem ser madeira e vidro, e está situada em uma área ampla e pavimentada. O céu está parcialmente nublado, e algumas pessoas podem ser vistas ao fundo, próximas ao edifício.
Centro Aquático, em Saint-Denis, onde serão disputadas provas das Olimpíadas de Paris-2024 - Dimitar Dilkoff - 28.mar.2024/AFP

Georgina Grenon, diretora de Excelência Ambiental dos Jogos de Paris, ressalta a opção de "construir muito pouco ou de não construir" em nome de um legado mais sustentável. "É por isso que usamos 95% de infraestruturas já existentes ou temporárias", afirmou ela à Folha.

O objetivo é cortar pela metade a emissão de gases que geram efeito estufa em relação a edições anteriores dos jogos —em Londres-2012, por exemplo, foram emitidas 3,4 milhões de toneladas de dióxido de carbono.

O centro aquático possui um teto em formato côncavo constituído por 91 vigas de madeira com 90 metros de extensão. Essa estrutura permite a redução de cerca de 20% do volume de ar a ser climatizado, segundo os responsáveis pelo projeto.

Ao todo, são 2.700 m³ de madeira, sendo 100% do material proveniente da Europa —70% da Escandinávia (Finlândia e Suécia) para a parte estrutural e 30% da França para outros elementos, como revestimento interno.

Segundo a arquiteta Laure Meriaud, do escritório Ateliers 2/3/4/, a equipe se empenhou para fazer uma instalação de baixo carbono, utilizando a menor quantidade de energia possível.

"A ideia desse teto [em madeira] é curvá-lo para reduzir o volume a ser aquecido no interior da instalação. Essa madeira alongada dá leveza com vigas pequenas, que usam menos material do que grandes vigas. E colocamos várias [vigas]. Temos ao mesmo tempo a técnica, o baixo carbono e a beleza do lugar", afirma.

A forma fluída e dinâmica da instalação busca adaptar o volume, otimizar o material e captar iluminação natural a partir de grandes vidraças transparentes nas laterais, criando uma conexão entre o interior e o exterior do equipamento esportivo.

"Deixamos ver o esporte do exterior com grandes vitrais, que estão sendo camuflados pela necessidade dos jogos, mas que, no futuro, serão penetrados por luz natural no interior do centro aquático", diz a arquiteta Cécilia Gross, do escritório VenhoevenCS.

Os vidros foram revestidos às vésperas das Olimpíadas para assegurar a qualidade das imagens das provas que serão transmitidas para o mundo todo. O centro aquático receberá as disputas de saltos ornamentais e nado artístico e a fase preliminar do polo aquático.

Centro Aquático, em Saint-Denis, onde serão disputadas as provas de saltos ornamentais, as de nado artístico e a fase preliminar do polo aquático - Gao Jing - 5.jun.2024/Xinhua

Cerca de 90% da energia que a instalação precisa é renovável ou recuperada. O telhado é coberto com mais de 4.600 m² de painéis fotovoltaicos, suprindo de 20% a 25% da demanda de eletricidade.

As piscinas serão mantidas a uma temperatura constante por meio da rede urbana de aquecimento, de um data center (centro de processamento de dados) e de um trocador de calor. Quanto à água utilizada no complexo, haverá um sistema de recuperação de "águas cinzas" (águas de sistema de filtragem) para assegurar 50% de reutilização do recurso.

O centro aquático é composto por quatro piscinas de diferentes tamanhos, que serão remodeladas depois dos Jogos conforme a necessidade da comunidade local. Para as Olimpíadas, foi construída uma piscina temporária ao lado do local de competições, que servirá de área de aquecimento para os atletas de alto rendimento.

Internamente, os acessórios são compostos por materiais de baixo carbono ou recicláveis. Os assentos permanentes —2.500 de um total de 5.000— foram fabricados a partir de tampinhas de garrafas plásticas 100% coletadas e recicladas na região de Saint-Denis.

Assentos da arquibancada do centro aquático dos Jogos de Paris-2024
Assentos do centro aquático de Paris-2024 foram fabricados a partir de material reciclado - Nathalia Garcia - 5.jun.2024/Folhapress

Como mostrou a Folha, a construção de um novo centro aquático com capacidade insuficiente para abrigar as provas de natação gerou polêmica na França. O COI (Comitê Olímpico Internacional) exige ao menos 15 mil lugares para essa modalidade.

O legado "verde" foi a justificativa dada pelos organizadores, que defendem reduzir os custos das Olimpíadas e evitar os chamados "elefantes brancos" —grandes construções que ficam sem uso depois das competições.

Ao término da obra, o custo foi de 151 milhões de euros (cerca de R$ 895 milhões) —ante 90 milhões de euros estimados em 2017 (cerca de R$ 533 milhões na cotação atual).

Segundo as arquitetas que projetaram a instalação olímpica, desde o início a proposta era ter um olhar de longo prazo e privilegiar o legado. "Criamos um centro aquático que é mais do que um centro aquático. É um lugar de vida, com diversos esportes, que acolhe de maneira incrível os Jogos Olímpicos neste verão", diz Meriaud.

Em julho de 2025, o centro aquático ganhará a dimensão de um equipamento poliesportivo, incluindo área fitness, sala de escalada, campo de futebol de cinco, entre outras atividades.

Além de acolher as famílias da região, o espaço também será usado pela Federação Francesa de Natação e abrigará outras competições esportivas, como o Campeonato Europeu de Natação, em 2026.

O centro aquático é ligado ao Stade de France por uma passarela, que ficará interditada aos espectadores durante as Olimpíadas por questão de segurança. A passagem será aberta para uso da população local apenas em meados do próximo ano.

Samuel Ducroquet, embaixador para Esportes da França, defende a "sustentabilidade social" do projeto. "Uma das razões pelas quais o centro aquático foi construído em Seine-Saint-Denis é para servir à população desse departamento, que é um dos mais jovens, mas um dos mais pobres e que sofre com acesso a infraestruturas esportivas", diz.

"A noção de sustentabilidade, por meio desse exemplo, se apoia tanto no meio ambiente, já que menos construção significa menos emissões [de carbono], quanto em um investimento sustentável para a população local", acrescenta.

A repórter viajou a Paris a convite do grupo AFD

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