Descrição de chapéu Energia Limpa

Entenda quais são os gases de efeito estufa e como eles são medidos

Lista inclui metano, óxido nitroso e outras dezenas, cujas emissões são estimadas a partir da produção ou consumo de itens

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São Paulo

Os gases de efeito estufa atuam na atmosfera de forma semelhante a um "vidro de estufa", retendo sob eles a energia solar e o calor emitido pela superfície da Terra. Esse é o processo que leva ao aquecimento global, responsável por desequilibrar diversos processos naturais e ecossistêmicos.

Com o tempo, carbono e CO2 acabaram virando sinônimos de gases de efeito estufa, mas a lista inclui dezenas de outros gases, como o SF6 (hexafluoreto de enxofre), os HFCs (hidrofluorocarbonetos) e os CFCs (clorofluorocarbonetos).

O CO2 (dióxido de carbono), porém, não ganha mais destaque à toa. Ele é o principal gás de efeito estufa, respondendo por 75% das emissões globais, de acordo com dados de 2019 do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima).

Em seguida aparece o metano (CH4), com 18%, o óxido nitroso (N2O), com 4%, e os gases fluorados (2%), comumente usados em refrigeradores e ar-condicionados.

Chaminé de uma fábrica no complexo industrial de Cubatão, em São Paulo - Nelson Almeida/AFP

Embora muitos gases de efeito estufa sejam lançados na atmosfera pela própria natureza —atividades vulcânicas, por exemplo— o aumento expressivo visto nas últimas décadas é resultado de processos humanos, principalmente da queima de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, para gerar energia.

Além de ser o gás mais emitido, o CO2 é um dos que têm maior vida útil, podendo ficar na atmosfera por centenas ou milhares de anos. Ou seja, o carbono liberado por todas as indústrias e por todos os carros da história da humanidade, se não tiverem sido capturados, ainda estão no ar.

No caso do metano é diferente. Oriundo principalmente da agricultura e pecuária, ele tem vida útil calculada em 12 anos. A questão é que ele é bem mais potente. De acordo com o IPCC, o potencial de aquecimento global do metano é 27 vezes maior que o do CO2 num horizonte de cem anos.

Por ser poderoso e de curta duração, alguns especialistas chamam o metano de gás "Velozes e Furiosos" —apelido que vale para os dois lados, já que alcançar reduções significativas nas emissões pode ter um efeito rápido e significativo na contenção da crise climática.

A comparação entre os gases é fundamental para padronizar os dados de emissão. Geralmente, os relatórios são publicados em carbono equivalente (CO2-eq), unidade de medida obtida pela multiplicação do gás pelo seu potencial de aquecimento.

Como é medida a emissão dos gases de efeito estufa

Em 2015, no âmbito do Acordo de Paris, os países concordaram coletivamente em reduzir suas emissões. Com isso, eles passaram a ser obrigados a publicar seus inventários periodicamente, que são feitos por meio de estimativas.

Sabendo quanto de CO2 é liberado na produção de um quilo de aço, por exemplo, é possível estimar as emissões totais da siderurgia em um ano.

A mesma abordagem é replicada para outros setores, o que resulta no inventário nacional dos gases de efeito estufa.

"Não é que exista um equipamento que você bota na chaminé para medir quanto de CO2 sai. Isso seria uma coisa impossível de fazer para o mundo inteiro", explica Suany Coelho, professora da USP e integrante do RCGI (Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa).

A especialista ressalta que as conversões são feitas a partir de diretrizes internacionalmente acordadas e desenvolvidas pelo IPCC.

No Brasil, o órgão que reporta oficialmente as emissões do país é o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, por meio do Sirene (Sistema de Registro Nacional de Emissões).

O cálculo leva em conta a quantidade de itens produzidos ou consumidos naquele ano, baseado em relatórios setoriais e de órgãos oficiais, como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ou Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Para queima de combustíveis fósseis, por exemplo, o Sirene analisa o consumo de combustíveis publicado no Balanço Energético Nacional, além de dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e outras entidades.

Sabendo a quantidade de combustíveis consumida, o órgão usa um fator de conversão determinado pelo IPCC para descobrir o volume de gases de efeito estufa emitido.

Na pecuária, o Sirene usa o relatório de população animal produzido pelo IBGE para calcular o metano emitido através da fermentação entérica —o popular "arroto do boi".

Já em relação ao desmatamento, os dados são enviados pelo Inpe. Celso von Randow, pesquisador do Instituto, explica que, por meio de satélites, o Inpe consegue ver uma área de floresta que foi derrubada. Com a informação sobre o tamanho daquela área, é estimado o quanto isso representa em carbono emitido.

"Quando desmata, o carbono que estava estocado na floresta é queimado. As pessoas desmatam e botam fogo, e esse fogo emite [CO2] para a atmosfera", diz.

"Se muda de floresta para uma área de passagem, por exemplo, há um fator de conversão que o IPCC coloca. Todos os países seguem essa mesma tabela", acrescenta.

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