Descrição de chapéu Olimpíadas 2024 China

Jovens chineses se reconhecem em novos ídolos das Olimpíadas

Quan Hongchan, 17, ouro na plataforma, e Pan Zhanle, 20, na natação, concentram os aplicativos de vídeo do país, mas polarização e conflitos também crescem

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Pequim

Na entrada do Taikoo Li, shopping ao ar livre por onde se espalham as grandes lojas das principais marcas ocidentais e chinesas, em Pequim, um cartaz de dois andares da Adidas saúda os atletas chineses. Mais à frente, a Nike faz o mesmo.

Em meio ao movimento no calçadão, um casal de estudantes comentou sobre as Olimpíadas de Paris. Kiki, 16, falou com entusiasmo da prova de plataforma e de Quan Hongchan, 17, que havia vencido a prova individual pouco antes. "Ela é tão forte, já esteve em tantas competições", disse.

Ao seu lado, Chen Junzhe, também 16, contou estar mais atento à natação. "Eu acho Pan Zhanle muito perfeito", diz. "Ele é o maior. Os chineses não têm uma classe de ouro na natação. Ele é o primeiro. Muito bom."

Um nadador com um boné vermelho e óculos de natação está em uma piscina, com água espirrando ao seu redor. O nadador parece estar se esforçando, com a boca aberta e a cabeça inclinada para trás. Ao fundo, é possível ver outras pessoas nadando.
Pan Zhanle durante a final dos 4x100 m nos Jogos Olímpicos de Paris - Wang Peng - 4.ago.24/Xinhua

O nadador venceu aos 19 anos, com recorde mundial, três dias antes de completar 20. Questionado sobre a declaração de um treinador australiano, de que a vitória de Pan nos 100 metros não foi humana, insinuando doping, o estudante deu de ombros. "Eu sei, eu sei. É porque a China ganhou pela primeira vez, então alguns pensam que é impossível. A China, nas próximas Olimpíadas, vai superar isso."

No T+, um shopping fechado, uma estudante de 18 também comentou, mas pedindo para não mencionar seu nome. Disse que acompanhou natação, tênis de mesa e sobretudo a plataforma. "Hongchan e Chen Yuxi, eu gosto muito da participação delas", disse. "São fantásticas. Esse esporte me deixa muito feliz."

Yuxi, 18, competiu ao lado de Hongchan na prova sincronizada, quando ambas levaram juntas o ouro e tomaram os aplicativos chineses de vídeo --em imagem na qual não se conseguia distinguir uma da outra. Na prova individual, Hongchan foi ouro, Chen, prata, e uma cena que viralizou no país foi do abraço das duas.

"Hongchan é incrível, ela é um símbolo dos jovens chineses", acrescentou a estudante. "É bem-humorada e gentil."

Os adolescentes ouvidos estavam, como quase sempre, com seus celulares na mão. Um dos vídeos que mais circulavam no aplicativo Douyin (o TikTok original) naquele momento era de Hongchan na saída da segunda prova, pegando uma dezena de bonecos de pelúcia jogados da arquibancada. Ao viajar para os Jogos Asiáticos no ano passado, ela chamou a atenção pelo "zoológico" que havia deles, pendurados em sua mochila.

Outro vídeo dela, também na saída do segundo ouro, era de seu irmão mais velho prometendo, da arquibancada, cozinhar um frango típico do sul da China, quando voltarem à cidade de 3 mil habitantes onde moram com a mãe. Não demorou para a própria mãe aparecer num outro vídeo, antigo, cozinhando ao lado de Hongchan.

E outros, com celebridades como a esquiadora Gu Ailing ou Eileen Gu, 20, que ganhou dois ouros pela China nos Jogos de Inverno de 2022, e até o jogador de futebol americano Tom Brady, na arquibancada, ambos festejando Hongchan.

Não foi muito diferente a febre online nos dias anteriores em torno da tenista Zheng Qinwen, 21, também ouro, e de Pan Zhanle. Este se destacou por não se constranger com o cerco de nadadores, treinadores e jornalistas dos EUA, Austrália e Reino Unido.

A controvérsia iniciada antes dos Jogos com a acusação americana de possível doping de outros nadadores chineses, no passado, acabou respingando nele --embora o próprio Michael Phelps, ídolo dos EUA no esporte, tenha surgido nos aplicativos dizendo que não fazia sentido.

Ao final da prova individual, Pan falou à transmissão da CCTV que sua resposta à maneira como foi tratado pelos adversários foi o ouro, repetido dias depois por equipe. Adolescentes chineses como Chen Junzhe não se abalaram, pelo contrário, e o jovem nadador se firmou como seu modelo.

A controvérsia se mantém há dias em outra plataforma, mais de texto do que vídeo, o Weibo. Por exemplo, levantou-se que várias medalhas chinesas teriam sido perdidas porque seus nadadores foram obrigados a testes das 6h à meia-noite.

E se espalharam acusações contrárias, de que atletas como o corredor americano Noah Lyles estariam usando doping legalizado, para tratar supostas doenças como asma, com efeito sobre seu desempenho.

Voltou à tona uma revelação da Rússia há oito anos, quando o país era o alvo das acusações, listando as estrelas olímpicas americanas que teriam obtido essa autorização e tomavam os remédios de duplo efeito, alcançando os Jogos do Rio.

Enquanto Douyin e concorrentes de vídeo como Kuaishou distribuem imagens positivas e otimismo, o Weibo carrega na polarização e nos ataques, não só aos EUA. Na noite de quarta, horário de Pequim, autoridades da capital anunciaram a prisão de uma mulher de 29 anos por comentários "caluniosos" contra a mesa-tenista Chen Meng.

Ela venceu outra chinesa, Sun Yingsha, em meio a ataques online e no local da partida em Paris, por parte de fãs organizados da adversária. Yingsha teria se abalado com o tratamento dado por seus apoiadores a Meng, com impacto sobre seu próprio desempenho.

O oficialista Global Times/Huanqiu creditou o episódio a uma descontrolada cultura de fãs que chegou aos esportes chineses durante a Rio 2016. Nos últimos dias, houve um esforço dos usuários dentro do Weibo para conter os ânimos, subindo em chinês a hashtag "Cultura dos fãs mancha espírito esportivo", mas não foi o bastante.

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