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'Aprendi a não desperdiçar e a ter coragem', diz chef da quebrada

Dona Jô foi aluna da Gastronomia Periférica, finalista do Prêmio Empreendedor Social 2022 na categoria Soluções Comunitárias

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Jeff Ares
São Paulo

Dona Jô, apelido afetuoso de Jocimara Silva Ribeiro, 37, é aluna exemplar da Gastronomia Periférica, onde fez curso online na pandemia.

Preta, lésbica e atração de quadros de culinária na TV, a chef prova que educação, como dizia sua mãe, salva. Virou empreendedora e acaba de abrir uma torteria, onde a torta de frango é carro-chefe.

Ela foi uma das beneficiadas pela iniciativa criada por Edson Leite e que chegou à final do Prêmio Empreendedor Social 2022.

"Meu sonho é fazer um espaço para oferecer formação profissional na cozinha para pessoas que tiveram menos acesso à educação. Anota aí, daqui dois anos vai acontecer.

Jocimara Silva Ribeiro, criadora da Dona Jo Torteria é aluna da Gastronomia Periférica - Renato Stockler/Folhapress

Na Gastronomia Periférica, eles pensam em tudo, com muita empatia. Perguntavam se eu tinha internet pra fazer as aulas. Me mandavam os insumos em porções entregues por um moço que arriscava a sua saúde e cruzava a cidade para chegar até minha casa. Esse cuidado, num momento em que estávamos tão sensíveis, mexeu comigo.

Com eles aprendi a não desperdiçar alimentos. Fui apresentada às plantas alimentícias não convencionais, as pancs. Conheci mais a fundo os doces brasileiros.

Ninguém me ensinou a cozinhar. Mas eu olhava muito o meu pai, que trabalhava em uma padaria, e sabia temperar carnes, fazer um x-salada maravilhoso... Ele cozinhava sem conhecimento. Eu me lembro dos cheiros, dos barulhos. Ia imitando, misturando. Aprendi fazendo. Cozinha é criatividade.

Sou voluntária na cantina da Cidade de Refúgio [congregação pluralista que acolhe pessoas LGBTQIAP+, como ela e sua mulher, Cibele Cristina Mendes, 40].

Eu trabalhava como gerente comercial, era faca na caveira. Na cozinha da igreja, eu fazia minhas tortas de liquidificador, e aquilo me acalmava. O povo pedia: cadê a torta, Dona Jô?

Uma amiga jornalista, então, me convidou para participar de uma reportagem sobre feijões. Depois disso, fiz diversas participações em programas da TV Gazeta, TV Aparecida, Rede Vida.

No começo, eu ficava nervosa, nem dormia, passava mal. A minha cara era de sofrimento. Mas passei por isso, agora já faço tranquila. Ajudou a me dar mais coragem para a vida.

E aí senti que poderia abrir meu próprio negócio. Com coragem, porque só os loucos empreendem. E os pés no chão da Cibele, minha sócia e parceira de vida. Acabamos de inaugurar no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, a Torteria Dona Jô.

Entendo, pela vivência com a Gastronomia Periférica, que empreender é pensar de onde vem meu produto, como ele foi produzido, como foi transportado, quem o manipulou. Hoje eu só faço feira em comércio local, para que o empreendedor pequeno também consiga sobreviver.

O Edson [Leite, cofundador da Gastronomia Periférica] sempre fala que eu tenho muito conteúdo, que tenho que usar mais isso. E eu vou. Daqui a dois anos, também quero lançar meu projeto de educação na cozinha."

Conheça os demais finalistas e vencedores do Prêmio Empreendedor Social 2022 na plataforma Social+.

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