Descrição de chapéu Dias Melhores

Executivos viabilizam fundo perene para socorrer os pequenos

Eduardo Mufarej e Fabio Lesbaupin, à frente do Fundo Social Estímulo, foram um dos finalistas do Prêmio Empreendedor Social 2022 na categoria Destaques na Pandemia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Eufrasio de Sousa, proprietário do Espetinhos SP, contou com apoio financeiro para manter seu negócio durante a pandemia Renato Stockler/Folhapress

Ana Paula Franzoia
São Paulo

Em 2001, em meio a crise energética no país, Eduardo Mufarej acompanhou as angústias da mãe, dona de um negócio de brindes promocionais e sacolas. A tomada de empréstimos a juros de mercado, tentativa de salvar a empresa, sufocou ainda mais a pequena empresária.

O desgosto e o estresse acabaram por adoecê-la. "Minha mãe morreu em 2004 e sei que a preocupação a levou a ter um câncer", emociona-se Mufarej, 46, ao relatar as agruras de empreender no Brasil.

Fabio Lesbaupin, 43, também provou dissabores ao empreender por três vezes: ao montar estúdio de pilates, depois na abertura de uma academia de crossfit e, por fim, uma consultoria de soluções digitais.

"Na crise dos 40, eu quis empreender, mas diante de tantas dificuldades desisti", conta o engenheiro de produção, formado pela USP.

Eduardo Mufarrej e Fábio Lesbaupin, do Fundo Social Estímulo, trabalharam para auxiliar financeiramente as empresas durante a pandemia - Renato Stockler/Folhapress

Após sentirem na pele as dores pelas quais já passaram e passam milhões de micro e pequenos empreendedores, Mufarej e Lesbaupin se uniram para colocar de pé fundo emergencial para evitar quebradeira quando o comércio fechou as portas na pandemia.

Nascia em março de 2020 o Fundo Social Estímulo, quando o mundo começava a se dar conta dos impactos econômicos da Covid-19. A iniciativa inovadora captou de cara R$ 60 milhões com grandes doadores, como Abílio Diniz e Armínio Fraga, Banco Santander, Vale e organizações filantrópicas como Movimento Bem Maior e Somos Um, do Ceará.

"Acredito que quanto mais privilégio, maior a responsabilidade. Um dólar doado para caridade é só um dólar, mas aplicado em um negócio social tem vida infinita, pois sempre gera impacto", diz Ticiana Rolim Queiróz, fundadora da Somos Um, que contribuiu com R$ 3,7 milhões.

A previsão inicial era de captar R$ 5 milhões, a serem usados para abastecer uma linha de crédito com condições facilitadas, com juros abaixo do mercado, sem burocracia para aprovação e totalmente online.

"Fomos surpreendidos com R$ 60 milhões em doações", lembra Mufarej, diretor institucional do Estímulo.
A mobilização relâmpago da soma vultosa criou um problema bom.

Era preciso formalizar o fundo para que ele operasse o mais rápido possível. "Era urgente disponibilizar os recursos arrecadados e não dava para esperar o fim do processo burocrático.

A solução foi contar com o CNPJ de uma ONG ligada ao rugby para agilizar", relembra Mufarej, membro da Confederação Brasileira de Rugby.

Logo o CNPJ do Estímulo estava pronto e a saída arranjada na largada se tornou uma história curiosa a se contar. E assim, em dias, entrava em operação o primeiro "relief fund" brasileiro, modelo difundido nos EUA, onde mora atualmente Mufarej, que faz um curso em Stanford.

"A ideia de usar o sistema financeiro para causar impacto social é inovadora e era inédita no Brasil. Nós apostamos no risco e deu certo", diz o neto de imigrantes libaneses. Formado em administração de empresas, Mufarej logo passou a atuar no mercado financeiro e fez parte do conselho de Tarpon, Ômega, BRF e Somos Educação. Está está à frente da GK Ventures.

A sede da gestora de investimento de impacto na avenida Faria Lima, em SP, serve de base para a equipe do Estímulo, formada por nove pessoas, que trabalham remotamente, e um comitê gestor.

Lesbaupin conheceu Mufarej no RenovaBR, escola de educação política que tem como objetivo formar novas lideranças. "Senti necessidade de fazer algo que pudesse atender às necessidades do país, que colaborasse com o coletivo", explica Mufarej.

Como nunca pensamos em pegar dinheiro de doação e fazer empréstimo e não necessariamente dar o dinheiro? Fizemos e deu certo. É filantropia sustentável

Fabio Lesbaupin

sobre o fundo emergencial criado na pandemia

Lesbaupin aceitou o convite para tocar a gestão do fundo. Filho de imigrantes franceses, também tinha o desejo de fazer mais pelo país. "Sou privilegiado e tinha obrigação de retribuir para a sociedade."

Sob a sua batuta, o Estímulo deu um passo para garantir sustentabilidade ao se tornar o primeiro fundo ESG no modelo de financiamento misto "blended finance".

"Estímulo promove união dos grandes, como doadores e investidores, com os pequenos, que são beneficiados", diz Lesbaupin. "Como nunca pensamos em pegar dinheiro de doação e fazer empréstimo e não necessariamente dar o dinheiro? Fizemos e deu certo. É filantropia sustentável."

Ao longo da crise da Covid-19, o Estímulo já emprestou R$ 130 milhões, mais do que o dobro captado, concedendo crédito em condições excepcionais e taxa de inadimplência abaixo de 5%.

"Com a seriedade e o comprometimento dos clientes conseguimos dobrar os recursos e beneficiar mais gente", diz o CEO. "Cumprimos a missão de ser sustentável e perene."

Os primeiros a ter acesso aos empréstimos eram de São Paulo, mas logo se juntaram a eles outros de Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Para se habilitar, é preciso faturar entre R$ 10 mil e R$ 400 mil, ter pelo menos dois anos de atividade e bom histórico de crédito. Já foram apoiados 2.400 negócios.

A iniciativa socorreu pequenos empresários que tiveram prejuízos causados pelas chuvas em Petrópolis (RJ) e em Pernambuco. O Estímulo quer também expandir a atuação para a economia verde.

Oferece cursos, consultorias, programas de aceleração e mentorias com grandes nomes do empresariado. "Além do financeiro, sabemos como é importante a capacitação para que negócios cresçam", diz Lesbaupin. Ferramentas disponíveis para 70 mil empreendedores cadastrados.

O contato frequente permitiu acompanhar o desenvolvimento de muitos que não só conseguiram se manter durante o isolamento social, como expandiram. Exemplo das irmãs Andréa e Renata Schver, da Agência de Turismo Venice, em São Paulo.

"Com os recursos que levantamos com o Estímulo conseguimos quitar dívidas causadas pelos cancelamentos e nos manter até o fim do isolamento", diz Renata. Tão importante quanto a ajuda financeira foram as mentorias, como a de Abílio Diniz.

"Eles abriram nossos olhos para outras possibilidades e sempre nos falavam que teríamos um boom depois da crise."

E, de quebra, ganhou os fundadores do fundo como clientes. Lesbaupin adquiriu pacote para viajar com os filhos para a França. E Mufarej, um para o Chile. Sinal de que a aposta foi certeira.

"O Brasil é um dos lugares mais difíceis de empreender e mesmo assim micro e pequenas empresas estão por toda parte, gerando empregos e contribuindo para o crescimento do país", conclui Lesbaupin. "São uma inspiração."

Projeto em números

- R$ 130 milhões emprestados em crédito facilitado para micro e pequenos negócios
- 2.400 micro e pequenas empresas beneficiadas
- R$ 55 mil é o valor médio dos empréstimos, que variam de R$ 10 mil a R$ 400 mil
- 77% dos recursos direcionados para empresas em regiões C, D e E

Conheça os demais finalistas e vencedores do Prêmio Empreendedor Social 2022 na plataforma Social+.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.