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Pioneiro na inclusão digital em favelas lança livro de ficção social

"E-Topia", de Rodrigo Baggio, mistura ficção científica e realidade aumentada para narrar dilemas da humanidade

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Giovanna Balogh
São Paulo

Pioneiro ao levar informática e cidadania para favelas cariocas em 1995, o empreendedor social Rodrigo Baggio, 53, lança seu primeiro livro. A ideia do fundador e CEO da Recode é mostrar como a tecnologia pode ser transformadora para uma sociedade mais justa e livre.

Inspiração que veio de sua trajetória ao impactar mais de 1,8 milhão de pessoas com projetos de empoderamento digital. "A tecnologia é uma potente forma de transformação social", diz ele.

"E-Topia" (Editora Recode, 264 págs.) tem versões físicas e digitais e mistura ficção científica e realidade aumentada para narrar grandes dilemas da humanidade.

Homem branco vestindo blazer preto e camisa social azul de braços cruzados ao lado de uma porta onde está escrito Recode transformação digital
O empreendedor social Rodrigo Baggio, fundador e CEO da organização social Recode, acaba de lançar seu primeiro livro - Divulgação

Em entrevista à Folha, Baggio dá detalhes sobre a trama e sobre personalidades que endossaram o livro. Entre eles, Alok, DJ e fundador do Instituto Alok, Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza e do Grupo Mulheres do Brasil e Eliane Potiguara, escritora, ativista e empreendedora indígena.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Por que o livro se chama "E-topia"? O que significa? O nome veio de utopia, mas sem o U, que significa ‘sem’.O livro aborda as principais utopias do mundo de forma eletrônica. Digo que é nossa e-topia porque ela é realizável, não é uma utopia.

Gosto muito da frase de Muhammad Yunus, Nobel da Paz, que fala que a humanidade evoluiu a partir da ficção científica, mas que agora precisamos de uma ficção social para inspirar a evolução das pessoas que formam a sociedade. Acredito que o livro é uma ficção social para estimular a leitura de transformação e inspiração.

Qual a principal mensagem que o livro procura passar? O livro é uma ficção científica para inspirar jovens a usar tecnologia para transformar a própria realidade. Ele mostra a história da protagonista, Maria, menina negra, moradora de uma comunidade no Rio de Janeiro, e a relação dela com a tecnologia e seu desenvolvimento.

"E-Topia" traz os principais temas tecno filosófico, ético e políticos da humanidade. Tudo isso com bastante suspense e aventura, abordando temas necessários para a humanização da quarta Revolução Industrial [modelo de produção que engloba inteligência artificial, robótica, internet das coisas e computação em nuvem].

Capa de livro verde e preta com o desenho de um rosto de uma mulher negra com simbolos que remetem à tecnologia
Capa do livro E-topia que fala sobre a transformação social que será possível com o uso da tecnologia - Divulgação

O livro tem como protagonista uma mulher, negra e periférica. Como foi a decisão por essa protagonista? Ainda não tinha definido o protagonista, mas depois de pensar sobre desafios que as mulheres enfrentam, decidimos que essa "tech changemaker" [agente de mudança que se vale da tecnologia] seria Maria, mulher negra e da comunidade.

O livro traz todo o processo de desenvolvimento pessoal de Maria, que sai da favela do Rio e vai viver na Califórnia, no Vale do Silício, numa rotina de metaverso e hackathon. No livro falamos de racismo o tempo todo e como a protagonista enfrenta e denuncia o bullying sofrido em uma universidade nos Estados Unidos.

A história é uma parábola, que aponta o caminho do desenvolvimento da sociedade, reflexões e vivências autobiográficas. O livro informa, educa e inspira para esse novo momento que vivemos sobre a necessidade de humanizar a quarta Revolução Industrial.

Que temas são abordados no livro? Falo, por exemplo, sobre carros autônomos e questões éticas, fusão entre máquinas e homens e como a inteligência artificial deve vai superar a humana. Tem toda uma reflexão sobre isso, mas não com essa tendência de Hollywood, que coloca o ser humano como vírus a ser exterminado. Toda tecnologia abordada em "E-Topia" já existe ou está em fase de desenvolvimento amplo.

O livro é bastante interativo, ou seja, além de HQ (histórias em quadrinhos), traz QR code para os leitores. Qual o propósito dessas inserções? "E-topia" não é apenas um livro, e sim um projeto transmídia. Conta com cinco HQs onde aprofundamos a história em alguns momentos. Temos como personagens, por exemplo, Steve Wozniak, que era sócio de Steve Jobs, e Alda Lovelace, que foi a primeira pessoa a conceber o computador.

São 27 inserções de QR artísticos ao longo do livro, ou seja, não é aquele QR code quadrado que estamos acostumados, são realidades aumentadas que aprofundam grandes temas do livro.

Outra interação são artes digitais que o leitor poderá acessar pelo smartphone para ver grandes momentos da história. E ainda vamos criar uma playlist, pois há várias menções a músicas nas páginas, que vão de rock progressivo a Marisa Monte.

Adultos também vão se interessar pelo livro? "E-topia" é para todas as idades. Quero que apoie debates em escolas e universidades. Professores, facilitadores de rodas de conversas e educadores sociais podem fazer círculos de leitura e aprofundar discussões usando a interatividade da obra.

Outro elemento, destacado por Alok na orelha do livro, é que ele é uma síntese entre a conexão do real com o virtual e o ancestral. A Amazônia é um dos cenários importantes, apresentada como um dos lugares de maior biotecnologia do planeta e da necessidade de valorizarmos a cultura ancestral e dos povos indígenas.

"E-topia" traz o endosso de vários famosos, entre eles, a empresária Luiza Trajano e o DJ Alok. Como foi ter a participação deles? São pessoas pelas quais tenho grande admiração e que realmente são agentes de transformação da realidade. Alok, por exemplo, usou o que ganhou no metaverso para criar um instituto que virou exemplo do artista que mais faz filantropia no Brasil. Luiza Trajano traz não só o simbolismo da mulher empoderada de uma grande corporação, como é também criadora do avatar com mais influência no mundo, a Lu.

Além deles, tenho também endosso da Eliane Potiguara, que é empreendedora indígena, de Tânia Consentino, que é CEO da Microsoft Brasil, e da Jurema Werneck, médica e co-fundadora da ONG Crioula.

Esse é o seu primeiro livro, planeja escrever outros? Confesso que estou apaixonado pelo processo de escrever e foi muito simbólico ter conseguido, pois sou hiperativo e disléxico. Conseguir escrever foi uma forma de superação e acredito que esse livro pode ser o primeiro de uma série, pois há outros episódios que podem ser criados.

Raio-X

Fundador e presidente da Recode, Rodrigo Baggio fundou em 1995 a primeira Escola de Tecnologia e Direitos dos Cidadãos numa favela do Rio de Janeiro. Passou por Accenture e IBM. Tem doutorado em Ciências Humanas e foi nomeado um dos "100 líderes globais do futuro" pelo Fórum Econômico Mundial. É empreendedor social reconhecido por Ashoka, Avina, Schwab e Skoll Foundation.

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