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Exploração sexual infantil: Palmirinha foi vítima de crime naturalizado no Brasil

Apresentadora contou em livro que sua mãe tentou vendê-la a um fazendeiro quando ela tinha 16 anos

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São Paulo

A morte da cozinheira e apresentadora Palmirinha Onofre neste domingo (8) trouxe à tona alguns episódios muito duros vividos em sua infância e juventude. Entre eles, as violências praticadas contra ela pela própria mãe, reveladas em seu livro de memórias "A Receita da Minha Vida" (ed. Benvirá).

Em seu relato, Palmirinha diz que foi espancada em casa desde pequena, "adotada" por uma francesa para quem trabalhava como dama de companhia e agredida dos 19 aos 45 anos pelo marido. Um dos momentos mais críticos é quando ela conta que, quando era adolescente, sua mãe tentou obrigá-la a se prostituir.

"Quando comecei a me despir, apareceu do nada um homem dentro do meu quarto, vindo quase sem roupa em minha direção. Eu tinha apenas 16 anos. Minha mãe havia me vendido por cinco mil-réis a um fazendeiro conhecido da região", conta ela no livro.

A jovem Palmirinha foi salva por uma prima, que entrou gritando na casa. "O homem começou a se vestir e contou do acerto que tinha feito com minha mãe. Disse que ia esperar por ela. Não queria ir embora sem ter o seu dinheiro de volta."

Palmirinha foi vítima de um crime que, décadas depois, ainda é naturalizado no Brasil: a exploração sexual infantil. As vítimas ainda são culpabilizadas, como se tivessem escolhido se prostituir, e não são incomuns casos de aliciamento pela própria família.

A apresentadora Palmirinha Onofre relatou, em livro de memórias, que na adolescência sua mãe tentou 'vendê-la' para um fazendeiro - Marcus Leoni - 25.jul.17/Folhapress

Diferentemente do abuso sexual, esse tipo de violência envolve pagamento, que pode ser em dinheiro, mas também em comida, roupa ou carona. Por ser um crime muito subnotificado, é difícil conseguir dados sobre a dimensão real do problema. Segundo o último Anuário Brasileiro da Segurança Pública, feito a partir de boletins de ocorrência, houve apenas 733 registros do crime em 2021.

Na introdução a esse capítulo do relatório, o número relativamente baixo é atribuído à naturalização desse crime, ainda mais levando em conta que apenas nas rodovias federais foram identificados mais de 3.500 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes. O levantamento é de uma pesquisa feita em 2020 pela Polícia Rodoviária Federal com a ONG Childhood Brasil. Dos 3.651 pontos vulneráveis identificados, 470 foram qualificados como críticos. Destes, 60% estavam em áreas urbanas.

"Só nas rodovias federais há 3.651 pontos de exploração sexual infantil e só temos 733 notícias deste crime? Alguém realmente acredita que, durante todo o ano de 2021, só houve 1 caso de exploração sexual no Distrito Federal, 2 casos no Amapá e Roraima e 3 casos no Acre e na Paraíba?", questiona Luciana Temer, diretora presidente do Instituto Liberta, no texto de análise do anuário.

Ela cita uma pesquisa de 2018, encomendada pelo Liberta para o Datafolha: segundo os resultados, 100% dos entrevistados disseram saber que pagar por sexo para alguém com menos de 18 anos é crime, mas entre as pessoas que já tinha visto ou sabiam de uma situação assim, apenas 29% denunciaram.

COMO DENUNCIAR

- O Disque 100, canal de denúncia anônima do governo federal, funciona 24 horas, todos os dias da semana. Basta ligar gratuitamente para o número 100. Também é possível denunciar pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil ou pelo número de WhatsApp (61) 99656-5008.

- A denúncia pode ser feita presencialmente em uma delegacia de polícia, de preferência uma delegacia de proteção à mulher ou de crianças e adolescentes, se houver na sua cidade.

- Os Conselhos Tutelares podem ser procurados para ajudar a tirar uma criança de uma situação de violência, ainda que seja uma suspeita.

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