Sociedade civil lança Pacto Contra a Fome com presença de políticos

Iniciativa quer unir esforços de empresariado, entidades e poder público para acabar com a insegurança alimentar até 2030

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São Paulo

Ministros, políticos, empresários e lideranças da sociedade civil se reuniram nesta terça (23) para lançar o Pacto Contra a Fome. A meta da iniciativa é zerar o número de brasileiros passando fome no país até 2030, tendo como estratégia combater o desperdício de alimentos.

Atualmente, mais de 33 milhões de brasileiros não têm o que comer. Se considerados outros níveis de insegurança alimentar, o número chega a 125 milhões.

A economista Geyze Diniz, idealizadora da iniciativa, afirmou que o Pacto pretende melhorar iniciativas que já existem, apoiando políticas públicas de combate à pobreza, por meio de tecnologias sociais que integrem dados e pesquisas acadêmicas.

Bruno Dantas, presidente do TCU; Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome do Brasil; Geyze Diniz, idealizadora do Pacto contra a fome;  David Hertz, cofundador da Gastromotiva; e Roberto Santos, carioca do Complexo da Penha, onde testemunhou diversos conflitos da guerra das drogas --envolvido na luta dos sem-teto, já morou na ocupação Quilombo das Guerreiras, onde compreendeu seu papel como agente de mudanças; é formado em ciências sociais, coordenador da Central de Movimentos Populares e do Quilombo da Gamboa, onde vive, na Pequena África, região portuária do Rio de Janeiro que abriga descendentes dos escravizados (17 famílias, sobretudo mães solos e idosos) e que neste ano terá a cozinha comunitária do Quilombo da Gamboa
Bruno Dantas, presidente do TCU; Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social; Geyze Diniz, idealizadora do Pacto Contra a Fome; David Hertz, fundador da Gastromotiva; e Roberto Santos, coordenador da Central de Movimentos Populares, durante lançamento do movimento no Teatro Santader, em São Paulo, nesta terça-feira (23) - Divulgação

Ao convidar os empresários a participar do projeto, a esposa de Abílio Diniz lembrou do retorno do Brasil ao Mapa da Fome da ONU (Organização das Nações Unidas) e da responsabilidade social em combater o desperdício.

O Brasil desperdiça oito vezes o que seria suficiente para alimentar os 33 milhões de brasileiros em insegurança alimentar hoje

Geyze Diniz

Economista, empresária e esposa de Abílio Diniz

Marcaram presença no evento, realizado no Teatro Santander, representantes do governo Lula (PT), como os ministros Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento); o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB).

O governador afirmou que todos os esforços políticos no combate à fome têm sido em vão. "Se não unirmos esforços, não vamos conseguir avançar", disse Tarcísio.

"Hoje, a gente tem 107 restaurantes Bom Prato. Até o final do ano serão 132, com mais de 5 milhões de refeições entregues, mas ainda assim a gente não consegue combater a fome. A gente não consegue extirpar esse mal", afirmou.

Wellington Dias fez um discurso em tom pessoal, ao afirmar ser um exemplo de que é possível vencer a fome. "Se eu pude vencer, se a minha família pôde vencer, muitos outros também poderão."

Para o ministro, o país precisa garantir a qualificação de quem está na pobreza e na extrema pobreza e assegurar o aumento do salário mínimo acima da inflação para elevar a renda na base da pirâmide social.

"Em 2003, a fome tinha a ver com baixa escolaridade", disse. "É muito diferente agora. Tem 12 milhões com ensino médio e até superior que estão no CadÚnico e têm fome."

O ministro defendeu a aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária para combater a pobreza e criticou duramente a atual taxa de juros imposta pelo Banco Central. "Não dá para cuidar dos pobres com a taxa de juros desse tamanho", afirmou, sob aplausos da plateia.

Tebet, em sua fala, seguiu seu colega e disse ser "fundamental" a aprovação da reforma para diminuir a carga tributária do setor produtivo, possibilitando a geração de emprego e queda da fome no Brasil.

Depois de 30 anos voltamos ao Mapa da Fome. Por que um país tão rico tem um povo tão miserável. Essa é a grande pergunta

Simone Tebet

Ministra do Planejamento e Orçamento

A ministra ressaltou que falta ao Brasil planejamento ao fazer políticas públicas. "Colocamos, no Ministério do Desenvolvimento Social, R$ 170 bilhões para o Bolsa Família. Não é possível que, ainda assim, tenhamos pessoas na fila do cadastro único."

Tebet destacou também o perfil predominante entre os mais necessitados. "A cara mais pobre do Brasil é uma mulher negra", disse. "Só é cidadão quem mora, come e tem lazer no final de semana. Contem com o governo federal para que juntos possamos combater a maior vergonha do Brasil."

Premiação como incentivo

O movimento anunciou também o Prêmio Pacto Contra a Fome, em cooperação com a ONU e a FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.

O objetivo é dar visibilidade e reconhecer iniciativas que ajudem no combate à fome e ao desperdício de alimentos.

Serão seis prêmios no valor de R$ 100 mil, cada. Neste ano, as inscrições estão abertas somente para o terceiro setor e devem ser feitas até 10 de julho. Os vencedores serão anunciados em outubro deste ano.

O evento contou ainda com a participação de lideranças da sociedade civil que também são cofundadores do movimento, como Kiko Afonso, da Ação da Cidadania; David Hertz, da Gastromotiva; Luciana Quintão, do Banco de Alimentos; Preto Zezé e Celso Athayde, da Cufa; e Carola Matarazzo, do Movimento Bem Maior, entre outros.

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