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Curso prepara meninas para serem vereadoras

Dez jovens de todo o país aprenderão política e terão candidatura impulsionada pelo 'Você Ainda Vai Votar Nelas'; inscrições estão abertas

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São Paulo

A sergipana Rebeca Sousa quer ser presidente do Brasil. Aos 20 anos, ela buscará entrada na política em outubro, ao concorrer ao cargo de vereadora por Aracaju. Ainda que tenha atuado em campanhas por direitos menstruais e pelo alistamento eleitoral de jovens, Rebeca sabe que as eleições exigem preparo.

"É uma coisa violenta", diz a estudante de ciências sociais da Universidade Federal de Sergipe que se inspira em figuras como Marielle Franco e a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP). "Mas vou pelo jogo, pela experiência."

É para impulsionar a candidatura de gente como Rebeca que a Girl Up Brasil, movimento que apoia meninas pela justiça social, lança o programa de formação política "Você Ainda Vai Votar Nelas".

menina parda, de cabelos crespos, posa de camiseta branca e calça preta em frente a um gramado do congresso nacional, céu azul no fundo
Rebeca Sousa é líder da Girl Up Brasil em Aracaju e busca formação para ingressar na política - Beca Figueiredo

Ao preparar dez meninas entre 18 e 24 anos para cargos de vereança em todo o país, a meta da organização é inspirar jovens a se enxergarem no lugar de lideranças políticas.

"É uma forma de enfrentar a desigualdade de gênero no parlamento", afirma Daniela Costa, gerente de redes e advocacy da Girl Up Brasil. "Há meninas que atuam politicamente, são ativistas, têm projetos e querem ocupar espaços de tomada de decisão, mas não sabem como entrar no ambiente político."

Entre as barreiras enfrentadas está a violência política de gênero —ato que tenta minar candidaturas com ameaça e intimidação, de forma organizada ou não.

"Já ouvi que sou muito fofa quando falo de política", afirma Rebeca, que está preparando sua inscrição para o programa enquanto busca filiação partidária.

Olhar para candidatas de diferentes espectros é um dos objetivos do "Você Ainda Vai Votar Nelas", que é apartidário e tem como critérios o compromisso com a democracia e a diversidade, o respeito aos direitos humanos e uma postura diplomática.

"A escolha do partido e a filiação vem das meninas, pois o contexto municipal é diverso", afirma Daniela Costa.

A formação será online, durante oito meses, em conteúdos como estratégia política, comunicação e habilidades socioemocionais. Oratória, gestão de orçamento, redes sociais e calendário eleitoral são alguns dos temas do programa, que deve ter professores voluntários. Também será oferecido apoio emocional —pilar fundamental na opinião de Rebeca Sousa.

"Faço parte de outros programas sobre política, mas idade e gênero são discrepantes. Há mulheres com 20 anos de cargo público e eu tenho só 20 anos. Fico insegura. Esse lugar de acolhimento me motiva."

Jovens entre 18 e 29 anos, que são 19% da população brasileira, representam 25 entre os 513 deputados da legislatura atual, com menos de 5% na Câmara dos Deputados. Mulheres jovens ocupam apenas 5 assentos. Faltam dados sobre a esfera municipal, onde a sub-representação pode ser ainda maior.

"Sempre foi de homens para homens", diz Rebeca, que relata ter ouvido de um político, durante campanha por legislação para garantir acesso a absorvente, que estava exagerando, pois "absorvente só precisa de um por dia".

As inscrições para o programa vão até 23 de fevereiro no site voceaindavaivotarnelas.org. A seleção compreende inscrição por formulário, análise de perfis e entrevistas em grupo e individuais. A participação de meninas negras e indígenas é incentivada.

O "Você Ainda Vai Votar Nelas" é financiado por doadores nacionais e internacionais, uma vez que a organização recebe apoio da sede global da Girl Up. O programa não oferece recursos financeiros às selecionadas.

"Tem muita menina fazendo política, só falta o título e o cargo", afirma Rebeca. "E um dia estarei lá, quero ser presidente do Brasil."

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