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23/05/2006
-
23h16
ANDREZA MATAIS
da Folha Online, em Brasília
Uma acareação realizada na noite desta terça-feira mostrou as contradições entre as versões dos advogados Maria Cristina de Souza Rachado e Sérgio Wesley da Cunha sobre a compra do áudio de uma sessão secreta da CPI do Tráfico de Armas de um ex-funcionário da Casa. Rachado é advogada do líder do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.
Para o presidente da CPI, deputado federal Moroni Torgan (PFL-CE), os dois estão mentindo quando negam ter conhecimento sobre a proibição de copiar a gravação da audiência com os delegados da Polícia Civil de São Paulo Godofredo Bittencourt e Rui Ferraz Fontes, do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado).
O momento mais constrangedor da acareação foi quando o deputado federal Alberto Fraga (PFL-DF) pressionou Cunha para confessar que ele conhece Marcola. Fraga perguntou três vezes consecutivas. Na terceira, disse que estava dando "mais uma chance" ao advogado, e ele confessou: "Já estive com ele [Marcola]."
Como estão sendo ouvidos como indiciados pelo crime, e não como testemunhas, os advogados não podem ser presos por prestar falso testemunho à CPI. Pedidos de prisão para os dois advogados estão sendo analisados pela Justiça Federal há cerca de uma semana.
Debates
Os advogados se acusaram mutuamente de mentir. Rachado admite ter ido com Cunha e o ex-funcionário da Câmara a um shopping para copiar o CD, mas nega tê-lo ouvido. Cunha, por sua vez, admite ter comprado o áudio, mas diz ter sido enganado pelo ex-funcionário responsável por gravar a audiência, Arthur Vinicius Silva, sobre a legalidade da cópia.
Na semana passada, também à CPI, o ex-funcionário da Câmara confessou ter recebido R$ 200 para entregar o material aos dois advogados.
Os dois advogados concordam ao negar terem repassado as informações prestadas pelos delegados aos parlamentares para integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital). Cunha nega, inclusive, que seu cliente esteja ligado à facção. Ele defende Leandro Lima de Carvalho, preso no dia 1º de maio suspeito de envolvimento em uma tentativa de resgatar Marcola.
O advogado admitiu ter visto Marcola no último dia 25 de janeiro, mesmo dia em que Rachado foi visitar o preso. Eles negam ter se encontrado. Cunha disse que foi ver Marcola a pedido de um cliente --cujo nome ele não informou-- para verificar se o preso havia sido agredido.
Pombos-correio
Rachado, durante seu depoimento, negou saber que Marcola pertence ao PCC e o classificou como "injustiçado". Ela negou repassar informações entre integrantes da facção e disse ter visto Marcola pela última vez em março. "Não sou pombo-correio."
Um relatório da Polícia Civil de São Paulo apresentado à CPI pelo deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE), entretanto, a contradisse. O documento atesta que ela esteve com Marcola pela última vez em abril; visitou presídios dez vezes desde janeiro; e esteve em contato com outro líder da facção, o José Carlos Rabelo, o Pateta.
Para Jungmann, o relatório prova que a advogada "é um pombo-correio". "Isso mostra claramente que ela vai com freqüência conversar com os criminosos." O deputado também apresentou um suposto livro-caixa do PCC que aponta gastos de até R$ 10 mil com advogados.
Em sua defesa, Rachado disse que foi visitar Pateta a pedido de uma colega que estava impossibilitada; e que o pagamento de seus honorários são feitos pessoalmente por uma tia de Marcola. Ela entregaria à advogada R$ 2.000 por mês, em dinheiro.
Seqüência
O vazamento dos depoimentos dos delegados ganhou importância na semana passada porque antecedeu a série de ataques contra forças de segurança paulistas e de rebeliões promovida a mando do PCC em vários pontos do Estado de São Paulo.
Na audiência, os delegados informaram, segundo a CPI, que isolariam um grupo de presos considerados de alta periculosidade --incluindo líderes da facção-- e que tinham conhecimento do plano dos criminosos de promover uma megarrebelião no domingo passado, Dia das Mães.
Por meio da gravação vendida aos advogados, as informações teriam chegado a Marcola e detonado a onda de violência.
No dia seguinte à audiência dos delegados, quinta-feira (11), 765 presos foram levados para a penitenciária de Presidente Venceslau (620 km a oeste de São Paulo). Na sexta (12), oito líderes do PCC foram levados à sede do Deic, em Santana (zona norte de São Paulo). Naquele dia, quase simultaneamente, começaram os ataques.
No sábado (13), Marcola foi levado para a penitenciária de Presidente Bernardes (589 km a oeste de São Paulo) e colocado no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). No domingo (14), auge dos ataques e rebeliões, Marcola recebeu a visita de outra advogada e de representantes do governo estadual, contrariando as regras do RDD.
Há suspeita de acordo. O governo nega ter negociado com o PCC o fim dos ataques, mas admite que o encontro serviu para que a advogada garantisse a integridade física de Marcola e dos outros líderes isolados aos criminosos. Os presos conquistaram ainda outras reivindicações: a instalação de televisores e a mudança da cor dos uniformes.
Desde o último dia 12, quando os ataques começaram, morreram 79 suspeitos de envolvimento nos crimes --conforme balanço divulgado nesta terça pela Secretaria da Segurança--, 41 agentes de segurança --entre policiais, guardas e agentes penitenciários--, quatro civis e 17 presos rebelados. Foram contabilizados ao todo 299 ataques.
Com GABRIELA MANZINI, da Folha Online
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da Folha Online, em Brasília
Uma acareação realizada na noite desta terça-feira mostrou as contradições entre as versões dos advogados Maria Cristina de Souza Rachado e Sérgio Wesley da Cunha sobre a compra do áudio de uma sessão secreta da CPI do Tráfico de Armas de um ex-funcionário da Casa. Rachado é advogada do líder do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.
Para o presidente da CPI, deputado federal Moroni Torgan (PFL-CE), os dois estão mentindo quando negam ter conhecimento sobre a proibição de copiar a gravação da audiência com os delegados da Polícia Civil de São Paulo Godofredo Bittencourt e Rui Ferraz Fontes, do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado).
Folha Imagem |
Os advogados Maria Cristina de Souza Rachado e Sérgio Wesley da Cunha |
Como estão sendo ouvidos como indiciados pelo crime, e não como testemunhas, os advogados não podem ser presos por prestar falso testemunho à CPI. Pedidos de prisão para os dois advogados estão sendo analisados pela Justiça Federal há cerca de uma semana.
Debates
Os advogados se acusaram mutuamente de mentir. Rachado admite ter ido com Cunha e o ex-funcionário da Câmara a um shopping para copiar o CD, mas nega tê-lo ouvido. Cunha, por sua vez, admite ter comprado o áudio, mas diz ter sido enganado pelo ex-funcionário responsável por gravar a audiência, Arthur Vinicius Silva, sobre a legalidade da cópia.
Na semana passada, também à CPI, o ex-funcionário da Câmara confessou ter recebido R$ 200 para entregar o material aos dois advogados.
Os dois advogados concordam ao negar terem repassado as informações prestadas pelos delegados aos parlamentares para integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital). Cunha nega, inclusive, que seu cliente esteja ligado à facção. Ele defende Leandro Lima de Carvalho, preso no dia 1º de maio suspeito de envolvimento em uma tentativa de resgatar Marcola.
O advogado admitiu ter visto Marcola no último dia 25 de janeiro, mesmo dia em que Rachado foi visitar o preso. Eles negam ter se encontrado. Cunha disse que foi ver Marcola a pedido de um cliente --cujo nome ele não informou-- para verificar se o preso havia sido agredido.
Pombos-correio
Rachado, durante seu depoimento, negou saber que Marcola pertence ao PCC e o classificou como "injustiçado". Ela negou repassar informações entre integrantes da facção e disse ter visto Marcola pela última vez em março. "Não sou pombo-correio."
Um relatório da Polícia Civil de São Paulo apresentado à CPI pelo deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE), entretanto, a contradisse. O documento atesta que ela esteve com Marcola pela última vez em abril; visitou presídios dez vezes desde janeiro; e esteve em contato com outro líder da facção, o José Carlos Rabelo, o Pateta.
Para Jungmann, o relatório prova que a advogada "é um pombo-correio". "Isso mostra claramente que ela vai com freqüência conversar com os criminosos." O deputado também apresentou um suposto livro-caixa do PCC que aponta gastos de até R$ 10 mil com advogados.
Em sua defesa, Rachado disse que foi visitar Pateta a pedido de uma colega que estava impossibilitada; e que o pagamento de seus honorários são feitos pessoalmente por uma tia de Marcola. Ela entregaria à advogada R$ 2.000 por mês, em dinheiro.
Seqüência
O vazamento dos depoimentos dos delegados ganhou importância na semana passada porque antecedeu a série de ataques contra forças de segurança paulistas e de rebeliões promovida a mando do PCC em vários pontos do Estado de São Paulo.
Na audiência, os delegados informaram, segundo a CPI, que isolariam um grupo de presos considerados de alta periculosidade --incluindo líderes da facção-- e que tinham conhecimento do plano dos criminosos de promover uma megarrebelião no domingo passado, Dia das Mães.
Por meio da gravação vendida aos advogados, as informações teriam chegado a Marcola e detonado a onda de violência.
No dia seguinte à audiência dos delegados, quinta-feira (11), 765 presos foram levados para a penitenciária de Presidente Venceslau (620 km a oeste de São Paulo). Na sexta (12), oito líderes do PCC foram levados à sede do Deic, em Santana (zona norte de São Paulo). Naquele dia, quase simultaneamente, começaram os ataques.
No sábado (13), Marcola foi levado para a penitenciária de Presidente Bernardes (589 km a oeste de São Paulo) e colocado no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). No domingo (14), auge dos ataques e rebeliões, Marcola recebeu a visita de outra advogada e de representantes do governo estadual, contrariando as regras do RDD.
Há suspeita de acordo. O governo nega ter negociado com o PCC o fim dos ataques, mas admite que o encontro serviu para que a advogada garantisse a integridade física de Marcola e dos outros líderes isolados aos criminosos. Os presos conquistaram ainda outras reivindicações: a instalação de televisores e a mudança da cor dos uniformes.
Desde o último dia 12, quando os ataques começaram, morreram 79 suspeitos de envolvimento nos crimes --conforme balanço divulgado nesta terça pela Secretaria da Segurança--, 41 agentes de segurança --entre policiais, guardas e agentes penitenciários--, quatro civis e 17 presos rebelados. Foram contabilizados ao todo 299 ataques.
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