Pobres
tornam-se alvo dos bancos
Como mais da
metade da população brasileira ganha até dois
salários mínimos, os pobres passam a ser o novo alvo
dos bancos. A classe de baixa renda movimenta, nada menos que, 10%
do Produto Interno Bruto (PIB). Ou seja: R$ 120 bilhões por
ano. Além disso, com a perspectiva de recuo da queda dos
juros básicos, cai a rentabilidade dos bancos com títulos
públicos. Então, as instituições estão
de olho no potencial de vender produtos financeiros para os pobres
para compensar esse ganho menor.
Os bancos invertem
o raciocínio para tentar descobrir o que a classe baixa deseja.
Entre os produtos financeiros mais desejados por quem recebe entre
um e cinco salários mínimos por mês (R$ 200
e R$ 1.000), estão os planos de aposentadoria, títulos
de capitalização e seguro-saúde. Por último
vem o seguro do carro, o bem durável mais desejado depois
da casa própria. Com um pé atrás, o bancos
investirão nesse filão.
Enquanto isso,
os pobres recorrem a crediários de até 10 vezes para
ter em casa produtos comuns nas casas de classe média. Videocassetes
e máquinas de lavar são adquiridos de várias
parcelas depois de muita conta e conversa com a família.
Tudo para verificar se o crediário cabe no restrito orçamento.
Mas os pobres têm comprado bens duráveis e conseguido
um pouco mais de conforto. Mesmo sendo o alvo dos bancos, as entidades
terão cuidado redobrado com os clientes pessoa física.
Leia
mais:
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Pobres recorrem a crediários e "muita conta" antes
de comprar
- Público
de baixa renda quer serviços bancários especiais
- Freio na queda de juros e desemprego fazem bancos
reduzirem empréstimos
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Freio
na queda de juros e desemprego fazem bancos reduzirem empréstimos
A mudança
de cenário na economia, com a interrupção no
corte dos juros e o aumento do desemprego, fez com que os principais
bancos privados reduzissem a concessão de empréstimos
neste início de ano. A ordem é evitar que a inadimplência
fuja do controle. No Unibanco, que divulgou ontem seu balanço
no primeiro trimestre, o volume da carteira de crédito (incluindo
pessoas físicas e empresas) caiu 2,1% em relação
ao fim de 2001. Passou de R$ 25,827 bilhões, em dezembro,
para R$ 25,284 bilhões em março deste ano.
Os balanços
do Bradesco e do Itaú já haviam indicado uma mudança
de rota nos bancos. No Bradesco, a concessão de crédito
quase não saiu do lugar - alta de 0,35% - enquanto o Itaú
teve queda de 5,23%, sempre na comparação entre o
fim de 2001 e os primeiros três meses deste ano.
"Diminuímos
a velocidade do carro. A expectativa é que o Banco Central
não volte a reduzir os juros a curto prazo. Além disso,
o aumento do risco Brasil pode ter impacto sobre o mercado. Por
isso, é preciso ter muita prudência", diz o diretor-executivo
do Unibanco, Geraldo Travaglia.
Fiéis
a essa linha de cautela, os principais bancos privados do país
mudaram suas previsões para o crescimento da carteira de
crédito até o fim do ano. O Unibanco, conta Travaglia,
reviu sua projeção de 20% para 15%. Bradesco e Itaú
também falam em 15%, depois de preverem até 25%.
O cuidado redobrado
não vai se limitar aos clientes pessoa física, cujo
risco de crédito é pulverizado. Os bancos estão
mais seletivos ao negociar, por exemplo, com as médias empresas
- em tese, mais suscetíveis ao aumento de risco. No Unibanco,
o volume de crédito voltado para esse segmento caiu de R$
1,015 bilhão, em dezembro, para R$ 901 milhões no
fim do primeiro trimestre deste ano - menos 11,2%.
Não é
boa a notícia de que os bancos pretendem racionar o crédito.
A economia depende da ampliação dos financiamentos,
e a juros mais baixos do que os atuais, para voltar a reagir e criar
novos empregos. A retração dos financiamentos também
explica, em boa parte, a diminuição dos ganhos dos
bancos no primeiro trimestre deste ano.
O Bradesco lucrou
R$ 425,2 milhões entre janeiro e março, apenas 1,14%
acima do mesmo período de 2001. O resultado do Itaú
foi ainda pior: queda de 19,43% - de R$ 625,2 milhões para
R$ 503,7 milhões, bem longe dos números mágicos
que têm caracterizado o desempenho do setor.
O lucro líquido
do Unibanco no primeiro trimestre foi de R$ 222 milhões,
5,7% a mais do que em 2001. Na comparação com o quarto
trimestre do ano passado, houve queda de 7,9%. Segundo Travaglia,
a estratégia do banco para manter sua receita é ampliar
a massa de clientes com renda mensal acima de mil reais.
É uma
forma de administrar o risco do seu crédito e aumentar o
ganho com a cobrança de tarifas. O Unibanco informou ter
conquistado 200 mil novos clientes nos três primeiros meses
deste ano. Com isso, a instituição tem agora uma base
de 5,4 milhões de contas ativas.
(O Globo)
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