Diego
Medina
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Às vezes é difícil ter uma coluna semanal para escrever. O problema mais
comum é encontrar o assunto quando não há boas notícias por aí.
Final de
ano, com a paralisação dos torneios, a coisa piora. Mas agora o problema
é outro. A dificuldade é achar o que comentar depois da vitória fácil diante de Magnus Norman, da semifinal tranquila
com Pavel e da vitória muito suada na batalha contra Safin. O que mais
pode ser dito sobre a semana de Gustavo Kuerten? Os adjetivos elogiosos
são redundantes.
Uma vez perguntaram ao guitarrista Keith Richards se os Rolling Stones
eram realmente a melhor banda de rock do mundo. Com anos de sabedoria
roqueira regada a Jack Daniels, Richards respondeu: Todas as noites,
no palco de algum boteco do planeta, uma banda de rock é a melhor do
mundo. Tudo depende do momento.
Gustavo Kuerten é, no momento, o melhor tenista do mundo. Não interessa
a pontuação do ranking. Quem viu os jogos das duas últimas semanas sabe
que a verdade é incontestável. Ninguém está jogando como o brasileiro.
Ele é, agora, o tenista a ser batido. É o favorito de qualquer jogo que
participe.
O saibro ajuda? Ajuda, e muito. Mas o tênis, hoje, está na temporada de
saibro. Não é justo diminuir os méritos de Kuerten por causa disso.
Agassi está contundido? Sim, mas na conquista do Aberto da Austrália, em
janeiro, jogando na ponta dos cascos, Agassi não mostrou a mesma
variação e consistência de Kuerten em Roma e Hamburgo.
O bicampeonato em Roland Garros virá? Sei lá, não dá para garantir nada.
O certo é que Kuerten é o maior favorito para o segundo torneio do Grand
Slam desta temporada. Está jogando mais do que Agassi, Norman,
Kafelnikov, Sampras, Safin, Enqvist, Corretja, Hewitt... Ele pode até
perder para um Zé Mané na primeira rodada francesa, é verdade, mas o que
todos os fãs devem ter na cabeça é o momento histórico.
Nunca, no
circuito profissional masculino, um brasileiro foi o franco favorito
para um Grand Slam.
Este é um novo marco para a carreira de Kuerten. Tão importante quanto
ter ultrapassado a quantia de US$ 5 milhões em prêmios na semana
passada.
Pela primeira vez, quem entende de tênis tem de apontar obrasileiro como o melhor. Não é mais questão de defender o ídolo, dar uma de patriota nem nada, é uma obviedade escancarada.
Além do talento inegável, Kuerten tem a seu favor um grande carisma. Nunca perde a simpatia. A cada dia, seu público cativo em outros países
aumenta. Os outros tenistas já estão invejando a condição do brasileiro,
que sempre parece jogar em casa.
Na França, palco de sua maior conquista, a coisa vai ferver. Jogando muito, e empurrado pela torcida, Gustavo Kuerten tem a munição
necessária para um bicampeonato que o levaria ao topo da Corrida dos
Campeões. E, definitivamente, ninguém está falando de sonhos
impossíveis.
NOTAS
Uma bobagem
Este colunista já mostrou toda a aversão que sente pela Copa Davis, mas
nada se compara em inutilidade no atual circuito masculino ao torneio
caça-níqueis Copa das Nações, em disputa agora na Alemanha.
Os tenistas gostam porque serve de aquecimento para Roland Garros, mas é sempre
difícil descobrir quem está jogando com todo o gás. Um treinamento com
cobrança de ingresso, nada mais do que isso.
Serial killer
Não adianta. Sempre vão falar mais dela do que falam de mim. Martina
Hingis é a bonitinha, certo? Então preciso vencê-la em todos os lugares.
Parece que preciso matá-la várias vezes para provar que eu estou viva.
A amigável declaração foi dada pela norte-americana Lindsay Davenport, louca para vencer em Roland Garros.
E-mail:
thalesmenezes@uol.com.br
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mais:
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