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01/03/2004
-
02h45
Porto Alegre perdeu Mário Quintana, seu maior poeta, há dez anos, em 1994.
Mas o intelectual solitário --e avesso a entrevistas, que chamava de "interrogatórios"-- viveu para ver o hotel Majestic, onde morou 12 anos, virar a casa de cultura que leva seu nome, em 1989. Nascido em Alegrete, em 1906, Mário de Miranda Quintana foi "descoberto" por outro grande escritor gaúcho, Erico Verissimo, o qual considerava "um anjo que desceu à Terra disfarçado de homem".
Mestre das tiradas irônicas, Quintana era, ele mesmo, um personagem, sempre visto a caminhar pelas ruas da cidade que eternizou com sua prosa poética.
"Nada é mais provinciano que sair da Província", dizia, ao explicar seu horror pelas viagens. Só ia a Alegrete para ver a irmã e explicava que tinha adotado Porto Alegre porque, na sua cidade natal, "quem não é fazendeiro é boi". Foi umas três vezes ao Rio --a primeira para ver o poeta Manuel Bandeira-- e deve ter estado em São Paulo uma única vez.
Tradutor de obras de Marcel Proust, Virginia Woolf, André Gide, Guy de Maupassant e Voltaire, era a simplicidade em pessoa.
Em 1966, quando completou 60 anos, recebeu o título de "cidadão porto-alegrense" e já nessa época temia ver a capital gaúcha tragada pela especulação imobiliária, o que felizmente não aconteceu. Quintana sofreu quando os bondes deixaram de circular, pois tinha aversão aos ônibus.
Dono de intensa atividade literária, publicou "A Rua dos Cataventos", "Poesias", "Sapato Florido", "Espelho Mágico" e "Pé de Pilão", tendo recebido em 1980 o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras.
Dedos enegrecidos pela fumaça do cigarro, boina na cabeça, Quintana sempre caminhava. Enquanto morou no hotel Majestic, andava uma quadra para chegar à redação do jornal "Correio do Povo", onde trabalhou.
"Poesia é uma maneira de falar sozinho", costumava dizer o escritor, que tinha em Porto Alegre seu assunto favorito. Retraído, uma vez, numa entrevista, confessou que havia se apaixonado três vezes, declinando dizer o nome das amadas.
Apesar da vida boêmia, viveu 87 anos --"gosto de fazer planos longos para desafiar o diabo", dizia Quintana, que não foi "imortalizado" pela Academia Brasileira de Letras, apesar de ter se candidatado três vezes, e, então, cunhou a frase: "Todos esses que aqui estão atravancando o meu caminho, eles passarão --e eu passarinho!".
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Memória de Mário Quintana fica hospedada em hotel
enviado especial da Folha de S.Paulo a Porto AlegrePorto Alegre perdeu Mário Quintana, seu maior poeta, há dez anos, em 1994.
Mas o intelectual solitário --e avesso a entrevistas, que chamava de "interrogatórios"-- viveu para ver o hotel Majestic, onde morou 12 anos, virar a casa de cultura que leva seu nome, em 1989. Nascido em Alegrete, em 1906, Mário de Miranda Quintana foi "descoberto" por outro grande escritor gaúcho, Erico Verissimo, o qual considerava "um anjo que desceu à Terra disfarçado de homem".
Mestre das tiradas irônicas, Quintana era, ele mesmo, um personagem, sempre visto a caminhar pelas ruas da cidade que eternizou com sua prosa poética.
"Nada é mais provinciano que sair da Província", dizia, ao explicar seu horror pelas viagens. Só ia a Alegrete para ver a irmã e explicava que tinha adotado Porto Alegre porque, na sua cidade natal, "quem não é fazendeiro é boi". Foi umas três vezes ao Rio --a primeira para ver o poeta Manuel Bandeira-- e deve ter estado em São Paulo uma única vez.
Tradutor de obras de Marcel Proust, Virginia Woolf, André Gide, Guy de Maupassant e Voltaire, era a simplicidade em pessoa.
Em 1966, quando completou 60 anos, recebeu o título de "cidadão porto-alegrense" e já nessa época temia ver a capital gaúcha tragada pela especulação imobiliária, o que felizmente não aconteceu. Quintana sofreu quando os bondes deixaram de circular, pois tinha aversão aos ônibus.
Dono de intensa atividade literária, publicou "A Rua dos Cataventos", "Poesias", "Sapato Florido", "Espelho Mágico" e "Pé de Pilão", tendo recebido em 1980 o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras.
Dedos enegrecidos pela fumaça do cigarro, boina na cabeça, Quintana sempre caminhava. Enquanto morou no hotel Majestic, andava uma quadra para chegar à redação do jornal "Correio do Povo", onde trabalhou.
"Poesia é uma maneira de falar sozinho", costumava dizer o escritor, que tinha em Porto Alegre seu assunto favorito. Retraído, uma vez, numa entrevista, confessou que havia se apaixonado três vezes, declinando dizer o nome das amadas.
Apesar da vida boêmia, viveu 87 anos --"gosto de fazer planos longos para desafiar o diabo", dizia Quintana, que não foi "imortalizado" pela Academia Brasileira de Letras, apesar de ter se candidatado três vezes, e, então, cunhou a frase: "Todos esses que aqui estão atravancando o meu caminho, eles passarão --e eu passarinho!".
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