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23/11/2006 - 08h30

De todas as tribos: Manuel Bandeira guia roteiro comparativo

HELOISA LUPINACCI
Enviada especial da Folha de S.Paulo a Salvador

"Vou encher lingüiça com bosta de boi, conto histórias da carochinha, a guerra dos cem anos e pronto." O escritor Manuel Bandeira descreveu assim, em carta para Mario de Andrade, como faria uma crônica sobre Salvador a pedido de Assis Chateaubriand para "O Jornal". Em 30 de abril de 1927, o periódico publicou o texto "Impressões da Bahia".

Bandeira, no entanto, não o fez com bosta de boi ou histórias da carochinha. Já na cidade, escreve novamente ao amigo: "Mario, estou apaixonadíssimo pela Bahia! É uma terra estupenda a cidade brasileira".
E foi assim, "comovidíssimo", que passeou pela cidade e visitou igrejas -"o que há de mais belo na Bahia".

O relato, que está no livro "Crônicas da Província do Brasil", de 1937, reeditado neste ano pela Cosac Naify, serve de guia para um passeio comparativo pelo patrimônio histórico. No saldo geral, o turista tem boas surpresas. Grande parte do que Bandeira cita está de pé.

A começar pela "mais rica maravilha de todo o Brasil": a igreja de São Francisco. O exemplo de "barroco depurado e harmonioso" acolhe seus visitantes de 2006 com os mesmos predicados de 1927.

Estão lá "a maravilhosa lâmpada da capela-mor, toda de prata maciça do Porto", o são Pedro de Alcântara, do escultor baiano Manuel Inácio da Costa, "uma escultura notável pela expressão de sofrimento estampada no rosto e nas mãos", e o teto da capela-mor que "retém longamente a vista do observador pela engenhosidade com que o artista obteve o forte e rico efeito de girândola".

O roteiro segue para a igreja do Carmo e seus "grandes tocheiros de prata maciça, tão pesados que ladrões não lograram carregar quando (...) assaltaram o templo". O convento do Carmo, colado na igreja, virou hotel cinco-estrelas, mas isso não deve intimidar a visita.

Fora do Pelourinho, na avenida Sete de Setembro, o convento São Bento também segue de pé. Bandeira é implacável: "A casa está toda infiltrada de mau gosto e da mediocridade do estilo Sagrado Coração".

De volta à praça da Sé, a primeira baixa: a "maciça e sombria Sé Velha, avó rija e memorável" foi demolida, em 1933, para a passagem do bonde. Para constar: "No interior, rica prataria guardada na pequena capela à esquerda do altar-mor".

Para compensar o lamento, siga para a igreja da Misericórdia, "onde tantas vezes pregou o padre Vieira". Após uma restauração precisa, foi aberto o Museu da Misericórdia (tel.: 0/xx/71/3322-7355; ingresso: R$ 5), contíguo à igreja.

E a lista de templos segue: a catedral, a de São Domingos, de São Pedro dos Clérigos, todas na praça Terreiro de Jesus, continuam ali. Conceição da Praia, idem. A de Monte Serrat, na ponta de Humaitá, e a de Nossa Senhora da Graça estão um pouco fora do circuito, mas valem cada minuto de trânsito.

Sumiço

Em seu passeio, Bandeira foi a dois solares que julgou merecerem "do governo estadual algum zelo". O do Saldanha, na rua Guedes de Brito, na Sé, abriga o Liceu de Artes e Ofícios e está bem cuidado.

Já o solar dos Aguiares, "num arrabalde", já em 1927 estava "reduzido a casa de cômodos". "O pátio interno ameaça ruir. Os lindos azulejos, que contam a história do Filho Pródigo,tão maltratados!", descreve Bandeira. Hoje, o visitante não encontra nem pátio interno nem azulejos.

Ninguém, nem os guias, nem os taxistas, nem o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), sabe onde ele fica.

Intervenção

Na crônica de Bandeira, há as impressões que o escritor teve ao chegar à cidade. Essas impressões foram, a pedido do Turismo, comentadas pelo músico Tom Zé, que criou continuações para elas.

Heloisa Lupinacci viajou a convite de TAM, Bahia Othon, Planeta Othon e Festival de Verão

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