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Bruxas gostam de crianças dentro do caldeirão
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GABRIELA ROMEU
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Isadora Brant/Folhapress |
Bruxas invadem o palco em novo espetáculo do grupo As Meninas do Conto |
Esqueça a verruga no nariz e o chapéu preto pontudo. Em "Bruxas, Bruxas... E Mais Bruxas", peça de As Meninas do Conto que estreia hoje, no Teatro Cacilda Becker, em São Paulo, essas criaturas usam vestido de bolinha, viajam de avião e até malham na academia.
O grupo está completando 15 anos e, para comemorar a data, apresenta outras seis peças em abril e maio. A programação é gratuita. Clique aqui para saber mais.
A "Folhinha" acompanhou um ensaio da peça sobre essas criaturas que adoram criancinhas (na panela, é claro!). Elas estão em polvorosa por causa de um encontro que vai ocorrer em Bruxelas.
Lá, vão trocar receitas horripilantes, mostrar novos e velhos feitiços e contar três histórias apavorantes. O encontro ocorre numa cozinha, entre potes e panelas, que viram ótimos instrumentos musicais.
"A cozinha representa o universo feminino, essa bruxaria cotidiana que a gente faz e não percebe", conta Simone Grande, que dirigiu o espetáculo ao lado de Eric Nowinski.
Diferentemente dos contos em que o herói narra como enfrentou a vilã, são as bruxas que contam suas façanhas na peça. Há um conto de origem italiana, outro brasileiro e um terceiro russo.
Uma das histórias é narrada por Bruxonilda, que é meio punk e adora comer criança "assada, picadinha, frita e malpassada". Ela lembra como foi que o garoto Pedrinho conseguiu escapar de seu caldeirão. Que humilhação!
"As crianças adoram odiar as bruxas", diz o dramaturgo Rubens Rewald, que escreveu o texto da peça. Ele explica que são elas que promovem uma ação na história do herói. "Se elas não fizessem aquela maldição ou maldade, ele ficaria no mesmo lugar."
As bruxas se acham as tais, malvadas e temidas, mas vão revelando na peça que sempre se dão mal no final. Ponto para as crianças.
Leia a seguir entrevista com os diretores e o dramaturgo do espetáculo. Antes (ou depois), ouça uma das canções da peça, gravada pela "Folhinha" durante o ensaio e conheça um pouco de cada uma das personagens.
Conheça quem são as personagens da peça "Bruxas, Bruxas... E Mais Bruxas".
Ouça abaixo um samba cantado pelas bruxas durante o ensaio da peça.
Folhinha - Quais histórias são contadas na peça?
Simone Grande - Escolhemos três histórias de bruxas, de lugares diferentes, que tinham sabores e cores diversos. Tem uma bruxa de um conto brasileiro, que é "José, Pedro e João", do Câmara Cascudo. Outra história é "Pedrinho, Pedrão" (ou "O Menino no Saco"), um conto italiano, do livro "Fábulas Italianas", do Ítalo Calvino. E tem a história de "Babayaga", uma bruxa russa.
Mas vocês pesquisaram muitas histórias de bruxas, não? O que descobriram?
Eric Nowinski - No caminho, encontramos muitas bruxas. Lemos, por exemplo, a cena das bruxas de "Macbeth", de Shakespeare. Fomos até a mitologia grega, pesquisamos as parcas...
Rubens Rewald - Pesquisamos até as bruxas das histórias da Disney, que vêm das tradições europeias, dos irmãos Grimm, por exemplo. Até o manual da Maga Patalógica nós pesquisamos [risos].
Por que as crianças gostam de bruxas?
Rubens - As bruxas seduzem muito as crianças, tem uma coisa de medo e de fascinação. As crianças adoram odiar as bruxas, né?
O que elas simbolizam?
Simone - Representam a ancestralidade, a ligação com a natureza, a sabedoria dos elementos da natureza. A gente não quis trabalhar a bruxa como um ser estereotipado. A gente escolheu uma cozinha para localizar esse encontro, pois é justamente na cozinha onde as mulheres conversam, trocam receitas, contam histórias. A cozinha representa o universo feminino, essa bruxaria cotidiana que a gente faz e não percebe.
Qual o papel das bruxas nas histórias?
Rubens - Nas histórias, mesmo que elas morram, sejam destruídas ou derrotadas, são elas que promovem um movimento na jornada do herói. Se elas não fizessem aquela maldição ou maldade, o herói ficaria no mesmo lugar. Elas tiram o melhor do herói.
Eric - E por isso a gente conta essas histórias a partir do ponto de vista das bruxas, e não de quem sofre a maldade. Tem uma humanização das bruxas. Elas estão num lugar onde vão contar umas às outras suas façanhas, mas elas percebem lá que só se dão mal, são geralmente humilhadas... [risos]
As bruxas estão no cotidiano?
Eric - Partimos da seguinte premissa: e se a bruxa estiver por aí? Pode estar na esquina, ser uma professora de natação, uma contadora de história. Quem seriam as bruxas hoje em dia? E como elas seriam? Na peça, tem uma que punk, uma que é aprendiz, outra metida, tem até uma que é descendente de Cleópatra...
Simone - O legal é que são tipos cotidianos, que você poderia encontrar na rua. Aliás, a gente fazia isso direto: olhar na rua e achar bruxas. Isso é o que é interessante para criança, não ficar com aquela ideia de bruxa de chapéu pontudo. A gente não fecha num tipo.
A peça estreia no ano que o grupo As Meninas do Conto completa 15 anos, conte um pouco dessa história...
Simone - Esse é nosso sétimo espetáculo, depois de "A Princesa Jia", "Por que o Mar Tanto Chora", "As Velhas Fiandeiras", "Papagaio Real", "Buuuu!! A Casa do Bichão" e "Pedro Palerma e Outras Histórias".
Rubens - As bruxas assustam e, ao mesmo tempo, atraem as crianças. Mas a gente trabalhou a diversão. Elas podem ser aterrorizantes, mas são acima de tudo divertidas, a gente nunca perdeu a noção do humor.
Simone - É, a gente tentou enxergar a bruxa não só como um ser assustador, mas também como alguém divertido.
Eric - Tem algo bem patético nessa coisa de periculosidade que as bruxas acham que têm. Elas se acham malvadas e se dá mal. E isso já é muito divertido.
VALE CONFERIR
"Bruxas, Bruxas... E Mais Bruxas"
ONDE: Teatro Cacilda Becker (r. Tito, 295, Lapa)
QUANDO: sábados, às 18h, e domingos, às 16h; até 20/5
QUANTO: grátis; retirar ingresso uma hora antes
INDICAÇÃO: para maiores de cinco anos
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