Descrição de chapéu Deixa que eu leio sozinho

'Vovozinha é a vovozinha!', diz avó de Chapeuzinho Vermelho

Em entrevista, vovó mais famosa do mundo fala de fama e planos para o futuro

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Indaiatuba (SP)

No último domingo entrevistei uma mulher incrível chamada Maria Augusta Madalena Josefina da Silva Xavier. Você já ouviu falar muito dela, só não sabe o nome: todo mundo a conhece como “Vovozinha da Chapeuzinho Vermelho”.

Acontece que, quando mandei um zap pra Maria Augusta Madalena pedindo a entrevista, ela me respondeu: “Querido, eu converso com você, adoro a Folhinha, mas não me chame NUNCA MAIS DE VOVOZINHA! Eu sou uma senhora, não um BEBÊ!”.

A Vovozinha, ou melhor, Maria Augusta Madalena Josefina da Silva Xavier, me recebeu na varanda do sítio dela, em Indaiatuba, no interior de São Paulo. “Eu já tomei a segunda dose da vacina”, me disse ela, “mas é sempre bom garantir. Vamos ficar a mais de dois metros um do outro e sempre ao ar livre. Pergunta aí!”.

Desenho da varanda de uma casa em um sitio, onde um homem hetero vestido de calca preta e blusa branca de bolinhas pretas segurando um microfone entrevista uma senhora com cabelo cinza e rosa, vestida com uma legging de ginastica rosa e um chale rosa ambos sentados em cadeiras. Varias plantinhas ao redor e o desenho de um gato observando um rato na toca embaixo da varanda.
"Ninguém me reconhece quando me vê na rua, caminhando de legging e tênis de corrida", diz Maria - Silvis

Primeiro, por que a senhora não gosta da ser chamada de vovozinha?

Primeiro porque eu tenho um nome. Segundo porque eu odeio esse diminutivo, como se eu fosse uma velhinha toda frágil encolhida numa cama! Não sou! Eu faço yoga todo dia, como super bem, sou mega animada, gosto de pintar, de ver série, de ler e de dançar com o meu namorado, o Clayton. Nunca fico doente! Mas aí, justo no dia em que pego uma gripe, minha filha me manda uma cesta de doces, a minha neta encontra o lobo, dá aquela confusão, alguém escreve a história e pronto: me acham uma coitada pra todo o sempre!

Entendo. Vou te chamar de Maria, posso?

Deve.

Maria, me fala sobre o seu namorado, o Clayton. Ele não aparece na história.

Não, não, eu conheci o Clayton durante a quarentena, na internet. Nossa, o Clayton é tudo de bom! Depois do rolo com o lobo eu namorei um dos caçadores, mas ele era um mala sem alça, achava que só porque tinha me salvado podia mandar em mim. Muito chato. Terminei. Passei um tempo solteira, estudando, pintando, cuidando do pomar, cuidando da Bruna.

Quem é Bruna?

Ah, desculpa, é a Chapeuzinho Vermelho. É que a Bruna também não aguenta mais ser chamada de Chapeuzinho Vermelho. Ela já é adulta e nem usa mais o casaquinho vermelho que dei pra ela tantos anos atrás.

Foi você que fez o casaco?

Eu? Hahahaha! Imagina! Sou péssima de costura. Eu comprei numa promoção.

Sei. E conta pra mim, como é ser uma das maiores personagens de contos de fadas de toda a história mundial?

É tranquilo. A única coisa boa de ter entrado pra história toda mequetrefe, de cama e camisolão, é que ninguém me reconhece quando me vê na rua, caminhando de legging e tênis de corrida. Só tive problemas uns anos atrás quando uns ecologistas processaram a mim, minha filha, minha neta e os caçadores por matar o lobo. Mas aí fizemos um acordo, a gente doa boa parte do dinheiro das vendas dos livros pra ONGs que protegem a natureza, especialmente uma que protege o lobo-guará, nosso lobo brasileiro.

Entendi. Desculpa tocar num assunto delicado, mas como foi no dia da história? Ser comida pelo lobo e tal. Deve ter sido bem traumático pra você e principalmente pra Chapeuzinho, digo, pra Bruna.

Ah, foi terrível, sim. O lobo não escova os dentes, tem um bafo tenebroso e lá dentro da pança é um cheiro horrorozivelzerrimozíssimo de carne podre. Depois da história a gente fez terapia de família. E também deu de presente pra Bruna um filhote de cachorro, pra ela não ficar com medo de bicho pro resto da vida. Hoje a gente ri disso tudo. A Bruna fala pros gêmeos “vão escovar os dentes, senão vai ficar com o bafo do lobo!”.

A Chapeuzinho, quer dizer, a Bruna, tem gêmeos?

Tem! Lindos! Meus bisnetinhos! Tão com cinco anos. E advinha qual a história que eles mais gostam de ouvir antes de dormir?

"Chapeuzinho Vermelho"?!

Não, Detetives do Prédio Azul! Hahahaha! Os livros da série. Mas não me incomoda. DPA é bem legal.

Maria, pra terminar, um pingue-pongue: um lugar.

Um bloco de carnaval, quando acabar a pandemia.

Uma cor?

Verde, azul, laranja, bege, cor de burro quando foge, qualquer coisa, menos vermelho! Foram anos que todos os presentes que ganhávamos eram vermelhos! Não aguento mais!

Uma alegria.

Ter recebido a segunda dose da vacina, poder brincar com meus bisnetos e finalmente encontrar o Clayton ao vivo.

Uma tristeza.

Viver num país com tanta pobreza e injustiça. Mas isso vai acabar! Vamos mudar o mundo!

Vamos! Bom, Maria, acho que é isso, já deu.

Ótimo. Ah, só uma coisa: você pode levar esta cestinha de doces pros meus bisnetos? É só atravessar essa floresta pela trilha.

Eu fiquei gelado de medo. Então a Maria deu uma gargalhada.

"Hahahahaha! Tô brincando! Não acredito que você caiu nessa! Brincadeirinha, querido. Beijos! E ó lá o que vai escrever, hein? Me chama pelo nome! Vovozinha é a Vovozinha!".

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