Crise da água
SP ganha aval federal para transpor água
Projeto prevê abastecer sistema Cantareira com volume retirado do rio Paraíba do Sul, que atende parte do RJ
Até então resistente à obra, governo do Rio sinaliza que seguirá as orientações da Agência Nacional de Águas
A proposta do governo de São Paulo de retirar água da bacia do rio Paraíba do Sul para abastecer o sistema Cantareira ganhou aval da ANA (Agência Nacional de Águas) e, em seguida, sinalização de acordo do governo do Rio.
Essa transposição, com custo estimado de R$ 500 milhões, tinha se transformado em ponto de atrito entre os governos de SP e do Rio, já que o Paraíba do Sul abastece 10 milhões de moradores do Rio, além de outros 5 milhões entre paulistas e mineiros.
Segundo o presidente da ANA, Vicente Andreu, é "tecnicamente viável" o plano do governador Geraldo Alckmin (PSDB) de interligar as represas Jaguari, da bacia do rio Paraíba, e Atibainha, no Cantareira, sistema que vive a maior crise de sua história.
O Cantareira abastece cerca de 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo e tinha ontem 11,8% de seu volume. O índice contabiliza os 10,7 pontos percentuais da segunda cota do volume morto.
Com base em dados da Sabesp, seria possível captar 5,1 m³/s com a transposição, o suficiente para abastecer 1,5 milhão de pessoas. A obra ficaria pronta em 2016.
O primeiro sinal de acordo veio na CPI da Câmara Municipal de São Paulo que discute a crise do sistema hídrico.
Na sessão, o presidente da agência federal de águas disse que a negociação em torno da transposição avançou, o que mais tarde foi confirmado pelo governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB).
"É um rio com regulação federal. Então [temos que] seguir o que determina a legislação federal", disse. "Claro que não vou deixar nunca o Estado do Rio de Janeiro ser prejudicado", completou.
As declarações tanto da ANA como do governo do Rio mostram uma mudança de tom após as eleições.
Em março, o então governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), chegou a afirmar que "jamais" permitiria a retirada da água "que abastece o povo fluminense". Já a agência costumava ficar em cima do muro sobre o tema.
Na reta final da campanha, o presidente da agência provocou a ira de tucanos ao dizer que, se não chovesse, São Paulo iria tirar água do lodo.