Tão aguardada água
Chegada de caminhão-pipa é motivo de agitação no Jardim Cumbica, um dos bairros mais afetados pela seca em Guarulhos
Rua agitada, cachorros latindo e pessoas, às pressas, carregando baldes e galões. Tudo isso porque apareceu um caminhão-pipa no Jardim Cumbica, em Guarulhos (Grande São Paulo).
Já fazia um mês que as caixas-d'água das casas estavam vazias, na manhã de terça (4), quando o veículo surgiu.
"É um alívio ter água depois de tanto tempo. Na última semana, tive de levar meus dois filhos e minha irmã com deficiência para tomar banho na casa de uma outra irmã, que mora na parte baixa do bairro, onde chega água", disse a dona de casa Lidiomar Tavares da Silva, 43.
Guarulhos é o maior município no Estado a enfrentar racionamento de água.
Lá, 13% da água é captada por produção própria e 87% são comprados da Sabesp, retirados dos sistemas Alto Tietê (25%) e Cantareira (62%). A crise já causou até atritos entre a prefeitura gerida pelo PT e o governo tucano, responsável pela Sabesp.
Desde fevereiro, a distribuição é feita por rodízio: um dia com água, outro sem. Mas os locais mais altos nem sempre são abastecidos, reconhece a Saae, empresa municipal.
O jeito de a prefeitura amenizar a situação nos bairros mais afetados é contratar caminhões-pipa, como o que Carlos Manuel Martins Godinho Junior, 34, dirigiu até o Jardim Cumbica na terça.
Foi parar o veículo para Godinho Junior ser cercado por moradores que pediam água incansavelmente.
"Queremos ajudar, mas algumas pessoas acham que não enchemos todas as caixas por má vontade. Trabalhamos 12 horas quase todos os dias para atender o maior número de casas possível, mas precisamos priorizar o atendimento", disse ele.
Sem água na rede e sem caminhão-pipa por muitos dias, os moradores apelam também para a água da chuva.
A atendente Luci Maria Carlos, 45, já recorreu a ela para fazer o almoço. "Coloquei um balde embaixo do cano que sai da laje e usei para cozinhar arroz, feijão e carne."
O risco de contaminação nem sequer foi cogitado. "Não posso ficar sem comer."
Na terça, Luci conseguiu deter o caminhão-pipa quando ele se preparava para partir. Encheu alguns baldes e garrafas pet apenas com a água que ainda havia sobrado na mangueira. "Pelo menos garanti para hoje."
LENÇOS UMEDECIDOS
Antes de sair, Adelton Oseas da Silva, 59, ajudante do caminhão, foi puxado pelo braço por uma moradora com uma criança no colo. Era mais um entre os muitos pedidos do dia. "Moço, tenho quatro filhos. Pode encher minha caixa-d'água quando voltar?", perguntou Margarete Guedes Brito, 39, que contou que tem usado apenas lenços umedecidos para dar banhos nas crianças.